As regulamentações estatais são mais virtuosas do que as do livre mercado?

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George Akerlof e Robert Shiller são dois renomados economistas americanos. O primeiro nasceu em 1940 na cidade de New Haven, Connecticut, enquanto que o segundo nasceu seis anos depois em Detroit, Michigan. Além de serem doutores em economia pelo prestigioso MIT, ambos compartilham o Prêmio Nobel de Economia.

Em 2001, Akerlof dividiu o prêmio com Joseph Stiglitz e Michael Spence por sua análise das “informações assimétricas” em mercados de bens e serviços. Doze anos depois, Shiller compartilhou isso com Eugene Fama e Lars Hansen para sua “análise empírica dos preços dos ativos” nos mercados financeiros.

Outra particularidade desses dois autores é que recentemente eles se reuniram e publicaram o livro “Pescando Tolos”. Nele, os autores usaram uma abordagem da economia comportamental para criticar a “manipulação e o engano” que pode existir entre empresas e consumidores. De acordo com Shiller:

[um] conceito fundamental da psicologia é que as pessoas muitas vezes tomam decisões nas quais elas não estão felizes. … Se as empresas têm a oportunidade de lucrar ao nos fazer tomar decisões que são boas para elas, mas ruins para nós, elas vão fazê-lo. Elas têm tanto um poderoso incentivo de nos fornecer aquilo que não queremos quanto nos proporcionar aquilo que realmente queremos.

De acordo com o Wall Street Journal, esta é uma das principais contribuições do livro: o mercado é o melhor mecanismo em oferecer às pessoas coisas que eles não querem ter.

Nós não compramos o que não queremos

Ninguém nega que às vezes fazemos coisas que nos arrependemos mais tarde. A maioria de nós uma vez comprou algo que se arrependeu de gastar depois. No entanto, o fato de que esses erros de julgamento possam ocorrer – por parte dos consumidores – não é prova de que as empresas tentam vender produtos que os clientes não querem.

É importante compreender que as decisões individuais são feitas de forma prospectiva, olhando a frente no tempo. Quando um indivíduo compra um produto ou serviço, ele o faz porque espera remover o seu “desconforto”. No momento da transação, essa pessoa fazendo a compra está de fato revelando seu desejo de ter aquele bem. Caso contrário, ela não iria fazer a compra. Isso não significa que, em retrospecto, essa decisão pode ser considerada como tendo sido um sucesso ou um fracasso, dependendo se realmente serviu aquele propósito a que se destinava servir.

Mas não se segue daqui que o mercado é tão bom em dar o que as pessoas querem, assim como em dar o que as pessoas não querem. Se esse fosse o caso, então as empresas continuariam a vender fitas cassetes, fitas de vídeo VHS e outros produtos aos consumidores que foram “manipulados” em comprá-los.

Obviamente, isso não é o que acontece.

 Quem regula os reguladores?

Outro ponto fraco nos argumentos de Akerlof e Shiller é a sua solução implícita: a regulamentação governamental. Em um artigo recente, Shiller escreve:

Enquanto nós confirmamos a importância de mercados livres, descobrimos que a regulação do mercado tem sido crucial, e acreditamos que continuará a ser verdade no futuro. [A teoria econômica padrão] geralmente ignora o fato de que, dadas às fraquezas humanas comuns, uma economia competitiva não regulamentada, inevitavelmente, gera uma quantidade imensa de manipulação e engano.

Não se pode deixar de notar a contradição central nesta análise. Por um lado, presume-se que os mercados falham por causa das “fraquezas humanas comuns.” Por outro lado, presume-se que a regulamentação, que deve necessariamente ser implementada por seres humanos com igual ou maior “fraqueza”, de alguma forma resolveria o problema.

Akerlof e Shiller demonizam simultaneamente seres humanos que operam no setor privado, enquanto idealizam seres humanos que operam no setor público.

 Lições vindas da Argentina

Para evidenciar o problema com esta abordagem, não precisamos ir tão distante quanto a América do Sul onde os agentes do governo são muito hábeis em ditar às pessoas “o que nós não queremos”.

Por exemplo, pode-se notar num processo de impeachment começou há algum tempo contra a presidente do Brasil, porque, de acordo com as alegações, ela tentou esconder a verdadeira dimensão dos aumentos nos gastos públicos. Enquanto isso, na Argentina, o ex-vice-presidente Amado Boudou não pode deixar o país porque ele foi acusado de apropriação indevida de fundos da empresa responsável pela impressão de pesos.

Estes são apenas alguns exemplos recentes em uma lista quase infinita de casos de corrupção, e se as autoridades democraticamente eleitas como estas são capazes de tal fraude em grande escala e prevaricação, por que deveríamos imaginar que essas mesmas pessoas poderiam ajudar a reduzir a “manipulação e o engano” no lugar do mercado?

A situação que enfrentamos na América do Sul é exatamente o oposto do mercado descontrolado e não regulamentado descrito por Shiller e Akerlof. Vivemos em economias altamente regulamentadas que estão sendo sufocadas e corrompidas pelo excesso de poder político.

Enquanto isso, de acordo com as últimas estimativas do FMI, Venezuela, Brasil e Argentina estão entre as economias em crescimento mais lentas de 2011 a 2015. Não surpreendentemente, todos os três países têm implementação de políticas altamente intervencionistas, aumento de despesas públicas, manipulação de mercados de crédito, e controle de preços de certos bens e serviços.

E, evidentemente, a América do Sul não é o único lugar no mundo que experimenta a corrupção política.

O enfoque, então, contra Shiller e Akerlof, deve ser colocado sobre como desmantelar este sistema e não em fornecer-lhe mais armas e argumentos para continuar crescendo.

 

 

Traduzido por Renato S. Grun

Artigo original aqui

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