Defendendo a liberdade individual do ataque dos conservadores coletivistas

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O ideal de liberdade individual está sempre sob ataque não só dos socialistas, como seria logicamente de se esperar, mas também dos conservadores que consideram o individualismo como uma forma de egoísmo. O significado comum de egoísmo é “se importar apenas com o que você quer ou precisa, sem pensar nas necessidades ou desejos de outras pessoas”, e muitos conservadores veem isso como um grande fator que contribui para o declínio social. O jornalista conservador britânico Nick Timothy atribui muitas mazelas sociais ao egoísmo, argumentando que “nossa sociedade se tornou mais sobre ‘eu’ do que sobre ‘nós'”, levando a taxas mais altas de criminalidade, comportamento antissocial e um estado de bem-estar social em expansão, já que pessoas egoístas tentam tirar o máximo possível do erário público, contribuindo pouco ou nada com ele.

Essa escola de pensamento conservador considera o “individualismo excessivo” ou o “hiperindividualismo” como causa da decadência social. Seus defensores temem que a sociedade eu-eu-eu seja parcialmente culpada pelo declínio da civilização ocidental e, portanto, argumentam que a defesa da liberdade individual apenas alimentará mais ruptura social. Como a família continua sendo prejudicada por políticas públicas, livros como #MeFirst! Um Manifesto pelo Egoísmo Feminino, que promove a “auto-adoração” e aconselha as mulheres a não terem filhos, são vistos como o resultado lógico do individualismo. O individualismo é frequentemente referido neste contexto como “individualismo desenfreado” ou “individualismo atomista”, que está associado a resultados infelizes, como o aumento da solidão e depressão.

Atribuir a disfunção social ao individualismo explica muito da hostilidade com que muitos conservadores encaram a tentativa de Ayn Rand de exaltar as virtudes do que ela chamou de egoísmo. Uma revisão, de Nick Timothy de Rebuilding One Nation, oferece um exemplo: “O libertarianismo oitentista foi deixado à margem da formulação de políticas conservadoras por razões importantes, e Timothy é implacável ao apontar suas deficiências: sua reputação de individualismo egoísta (ler Ayn Rand, Timothy nos diz, deixou-o ‘frio’)… Timothy arrisca que o individualismo tem raízes históricas superficiais.”

Sendo assim contrários ao individualismo, esses conservadores promovem valores comunitários ou várias formas de social-democracia. Eles procuram inculcar nos cidadãos um senso de responsabilidade social, argumentando que a sociedade importa mais do que o indivíduo. Essa forma de conservadorismo acaba por subordinar o indivíduo ao Estado. Isso fica claro na sugestão de Timothy de que “estamos nos tornando uma sociedade egoísta. Cabe ao governo enfrentar isso”, o que dá um papel primordial às intervenções governamentais destinadas a combater o egoísmo. Timothy sugere que “a família deve ser colocada no centro da política fiscal e de bem-estar social”, “a evasão fiscal deve ser combatida e os paraísos fiscais fechados” e “os direitos no local de trabalho e as proteções ao consumidor [devem] ser aplicados”. Ele argumenta que “o chamado da comunidade faz parte da filosofia conservadora dos paradoxos”.

Não existe sociedade

Margaret Thatcher é frequentemente retratada erroneamente por conservadores comunitários, inclusive pelo “conservador libertário” primeiro-ministro Boris Johnson quando ele colocou o Reino Unido em lockdown em 2020, como uma “fundamentalista de mercado” que acreditava que não existe sociedade. Como observa Victoria Hewson, “a Sra. Thatcher não estava argumentando que a sociedade não existe”, um ponto muitas vezes esquecido até mesmo pelos conservadores:

     “Seria de se esperar que a citação fosse tirada de contexto e usada como arma política por opositores do Partido Conservador. Mas é surpreendente que tenha sido descaracterizada pelo nosso primeiro-ministro [Boris Johnson], que seria bem versado na declaração na íntegra. “Não existe sociedade”, disse Thatcher. “Há uma tapeçaria viva de homens e mulheres e pessoas e a beleza dessa tapeçaria e a qualidade de nossas vidas dependerão do quanto cada um de nós está preparado para assumir a responsabilidade por si mesmo e cada um de nós está preparado para dar a volta por cima e ajudar com nossos próprios esforços aqueles que são infelizes.”

Em seu livro Em Defesa da Liberdade: Um Credo Conservador, Frank S. Meyer reconhece que muitos desses conservadores, a quem ele se refere como “Novos Conservadores”, apelam para valores comunitários porque veem o individualismo como uma ameaça à coesão social, mas ele insiste que é apenas através da defesa da liberdade individual que as sociedades livres podem prosperar. Ele argumenta:

      “É verdade, é claro, que não haveria instituições políticas ou sociais, nem qualquer significado para a investigação política, se os homens vivessem como indivíduos isolados. Insistir, como eu insisto, que o indivíduo é o critério pelo qual as instituições e as teorias políticas devem ser julgadas não é negar o significado imediato e óbvio da frase “o homem é um animal social”, ou seja, que cada homem tem um conjunto múltiplo de relações com outros homens.”

O erro cometido pelos Novos Conservadores, como explica Meyer, está em ver como entidade definida o “conjunto múltiplo de relações” entre os indivíduos em uma entidade, a sociedade, que se torna ela mesma objeto de direitos e obrigações devidos pelos indivíduos à sociedade ou devidos ao Estado como a personificação da sociedade. Meyer critica essa forma de conservadorismo por ignorar a importância da liberdade individual. Ele descreve os Novos Conservadores como coletivistas, explicando que “sua posição é caracterizada por uma visão orgânica da sociedade; por uma subordinação do indivíduo à sociedade”.

Os Novos Conservadores esquecem que a sociedade só tem sentido como base para a interação entre os indivíduos, e é através dessas interações individuais que as sociedades livres florescem. Como escreve Ludwig von Mises: “O conceito de liberdade refere-se sempre às relações sociais entre os homens… A sociedade é essencialmente a troca mútua de serviços.” Mises descreve o individualismo como a ideia de liberdade individual, significando que o indivíduo está livre da coerção estatal:

O princípio distintivo da filosofia social ocidental é o individualismo. Visa à criação de uma esfera na qual o indivíduo é livre para pensar, escolher e agir sem ser contido pela interferência do aparato social de coerção e opressão, o Estado. Todas as conquistas espirituais e materiais da civilização ocidental foram o resultado da operação dessa ideia de liberdade.

Da mesma forma, Friedrich von Hayek observou em “Individualismo: Verdadeiro e Falso” que há uma maneira certa e errada de entender o significado de “individualismo” e que, como os direitos recaem sobre os indivíduos, a defesa da liberdade humana é sempre uma defesa da liberdade individual e dos direitos individuais. É importante defender o individualismo, corretamente compreendido, porque sem um conceito de individualismo, é praticamente impossível expressar a importância da liberdade individual.

Meyer tem razão ao alertar os conservadores de que, se o indivíduo está subordinado à sociedade, o indivíduo se torna “um ser secundário, cuja dignidade e direitos se tornam dependentes do dom e da graça da sociedade ou do Estado”. Tentar subordinar os direitos individuais à defesa da sociedade acaba promovendo o estatismo, que por sua vez é uma ameaça à própria liberdade. Como argumenta Meyer, “o fim adequado do pensamento e da ação política é o estabelecimento e a preservação da liberdade”. O coletivismo e o estatismo não preservam a liberdade, pelo contrário, a minam. Timothy acha que minar a liberdade de alguma forma paradoxalmente levaria a mais liberdade, como ele argumenta que “ao aceitar restrições à nossa liberdade, acabamos mais livres e felizes”. Aqui, Timothy cai no erro identificado por Meyer, a saber, que os conservadores coletivistas não reconhecem que a liberdade não pode ser alcançada por meio de restrições e coerção estatal:

     “Eles não veriam ou não poderiam ver o correlato de sua posição filosófica fundamental: a aceitação da autoridade moral derivada de critérios transcendentes de verdade e bem deve ser voluntária para ter sentido; se for coagida pela força humana, não tem sentido. Eles estavam dispostos, se apenas os padrões corretos fossem mantidos, a aceitar uma estrutura autoritária do Estado e da sociedade. Eram, na melhor das hipóteses, indiferentes à liberdade no corpo político, na pior das hipóteses, seus inimigos.”

 

 

 

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