Entendendo de vez o problema da cristofobia.

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Já é de conhecimento geral que a questão da cristofobia foi um assunto que gerou debates após uma recente declaração de Jair Bolsonaro em uma reunião das nações unidas. Na ocasião, as exatas palavras utilizadas pelo presidente foram: “faço um apelo a toda a comunidade internacional pela liberdade religiosa e pelo combate a cristofobia.”

Dentre as muitas reportagens que destacaram o acontecimento, uma opinião emergiu como praticamente inconteste, a de que o apelo de Bolsonaro não fazia sentido, por que não há perseguição a cristãos no Brasil.

Mas o que é afinal cristofobia?

No jargão popular, cristofobia pode ser um termo para destacar qualquer fala ou manifestação contrária à fé cristã. Isso englobaria desde memes compartilhados por ateus em redes sociais, chegando até a situações notoriamente mais graves e agressivas.

Entendemos que esse conceito popular de cristofobia é excessivamente amplo. Lembre-se do que aconteceu com o significado de fascismo: quando tudo é fascismo, nada é fascismo. Está claro que um tal grau de incerteza não serve ao propósito de definir fenômenos específicos.

Então de nossa parte optamos por adotar uma definição mais objetiva. Neste caso, passaremos a referir cristofobia como parte de um fenômeno indiscutivelmente grave, que envolve desde agressões físicas praticadas por particulares motivados por intolerância religiosa, como também ações oficiais de governos que buscam imiscuir-se na esfera religiosa com o fim de proibir ou embaraçar a liberdade de pensamento e de culto.

Pois bem, sendo feita essa definição, podemos desde já reconhecer que o Brasil convive com episódios esporádicos (embora preocupantes) de embaraço ao livre pensamento religioso. O braço estatal que acaba tendo destaque em matéria de relativização da liberdade religiosa é o judiciário, que não raramente acata pedidos de remoção de conteúdos considerados ofensivos ou até proíbe a circulação de obras consideradas impróprias pelo intérprete judicial.

Não faremos pouco de tais episódios, mas como o assunto cristofobia tomou proporções internacionais, daremos foco ao que acabou motivando a realização desse texto, a fala de Jair Bolsonaro nas nações unidas.

E a verdade é que a fala presidencial dirigida à comunidade global não se justifica simplesmente pela questão religiosa no âmbito interno, mas sim pelo fato inconteste de que existe uma perseguição sistemática e contumaz de cristãos e de outras minorias religiosas ao redor do globo, e que uma tal realidade é sumariamente ignorada no tabuleiro da política internacional.

De fato, um tal problema dificilmente alcança as manchetes dos grandes jornais, e basicamente não aparece como prioridade nas pautas da diplomacia. Porém, felizmente existe uma instituição com meio século de experiência em lidar especificamente com a perseguição religiosa e que fornece um valioso rol de informações que nos permite compreender a fundo esse fenômeno. Estou me referindo a entidade conhecida como PORTAS ABERTAS, de cuja expertise passaremos a nos valer nos argumentos desse ensaio.

A Portas abertas é uma entidade cristã que atua tanto na evangelização como na assistência geral de comunidades religiosas que são alvo de perseguição sistemática. A entidade elabora anualmente uma lista de países com um rank medindo o grau de perseguição religiosa existente em cerca de cinquenta nações. Atualmente este rank é liderado pela Coreia do Norte, mas agrega em seu bojo tanto países de orientação marxista como nações islâmicas onde a adoção do cristianismo pode resultar em pena capital.

Os trabalhos de levantamento estatístico da Portas Abertas vem apontando que cerca de 1/8 dos cristãos ao redor do globo são alvo de perseguição religiosa. Estamos falando de milhões de pessoas cujas vidas correm risco por razões de crença religiosa e que sequer possuem o privilégio de realizar reuniões regulares para receber seus sacramentos.

No histórico da entidade, destaca-se a atuação de seu fundador, conhecido como irmão André, que nos anos da guerra fria passou a fazer incursões para o lado de lá da cortina de ferro para contrabandear bíblias dentro de um fusca. Sua experiência libertária foi posteriormente descrita no livro “o contrabandista de Deus.”

Voltando ao rank elaborado pela entidade, logo abaixo da Coreia do Norte vem o Afeganistão, onde a atuação do Talibã e do Estado Islâmico torna insuportável a vida do adepto de qualquer crença que não seja a fé muçulmana. Em seguida vem a Somália, onde ser exposto como cristão resulta em perseguição em duas frentes, por parte dos líderes dos clãs somali ou pelo violento agente não estatal, o Al-Shabaab, que segue a doutrina do wahabismo, e advoga a sharia. Em tais localidades é mais comum que o religioso seja uma espécie de cristão secreto.

E como já referimos, a lista prossegue apontando os cinquenta maiores países hostis e perseguidores da fé cristã, além de trabalhar ainda com uma lista de países observados, cujas políticas representam certo grau de preocupação, ainda que em escala menor se comparada aos países da lista principal.

Em vista de tudo o quanto foi exposto, constatamos que o incômodo trazido pela pauta da cristofobia ser trazida às nações unidas é de fato uma verdadeira inversão de valores. Embora muitos possam torcer o nariz para o fato de ser Bolsonaro a levantar a pauta, também havemos de recordar que não faltaram oportunidades para que o assunto fosse trabalhado por prestigiosas lideranças das mais variadas inclinações políticas, os quais jamais se mostraram dispostos a sujar as mãos em uma pauta tão espinhosa…

Enfim, ironia das ironias, talvez Bolsonaro não fosse de fato o mensageiro que nós escolheríamos, mas é o mensageiro que nós temos. De minha parte estou feliz que tenha surgido alguém para desencobrir tão horrenda sujeira que por décadas foi ignorada e jogada para debaixo do tapete internacional.

Gostaria de encerrar esse breve texto com um convite para que esse assunto passe a ser pauta permanente nas discussões sobre liberdade individual, e que mais pessoas se engajem na distribuição de informações relacionadas à importante questão da perseguição religiosa.

É sempre importante ter em perspectiva a nocividade dos sistemas responsáveis por tais barbaridades, inclusive para podermos contrastar e valorizar as liberdades hoje já amplamente usufruídas na sociedade judaico-cristã ocidental.

6 COMENTÁRIOS

  1. “talvez Bolsonaro não fosse de fato o mensageiro que nós escolheríamos”
    É irônico ler um texto que, em tese, foi escrito pra discutir a perseguição direcionada a um grupo – enorme – de pessoas, e verificar que o próprio texto se reveste de uma visão elitista e arrogante, que seria plenamente adequada a um “progressista”. Quem, afinal, não escolheria o Presidente Bolsonaro como mensageiro da mensagem contra a cristologia? E por quê? A perseguição aos Cristãos não ocorre apenas pela ação de terroristas e governos autoritários. Ela também ocorre graças ao preconceito de “progressistas” e “libertários limpinhos”.

    • Talvez você ache estranho, mas nem todo mundo que discorda de bolsonaro é um esquerdista. É exatamente essa tua postura de “quem não está conosco está contra nós” que me deixa com reservas quanto a, auto proclamada, direita conservadora.

      • Política é máfia justamente por causa disso: a atuação dos eleitores se encerra na urna, ou seja, os políticos estão se lixando com quem apóia eles. O que eles tiveram que fazer, farão. Ninguém precisa concordar com o Bolsonaro, mas votar nele. O mesmo serve pro Lula, ou você acha que todo mundo que discordava dele era direitista? a política é nonsense puro, pois se poderia dizer o contrário também: “quem não está conosco está contra nós” que me deixa com reservas quanto a, auto proclamada, esquerda moderada “.

  2. A reportagem desmerece Bolsonaro qdo diz “q talvez ele n seja o mensageiro q vcs escolheriam”.
    Vcscriticam perseguicaoes , no caso, aos CRISTAOS, mas alimentam o preconceito infundado em relacao a um presidente democraticamente eleito p 57 milhoes de brasileiros e ja praticamente reeleito p 2022 conf confirmam as pesquisas. Sera q vcs q estao a mais de 7 mil quilomentros de distancia de n pais o conhecem melhor q nos? Sera q se ele fosse esse “ GENOCIDA E FOBICO AMBIENTALISTA” teria td essa aprovacao de quem convive c ele diuturnamente?
    O problema è q ele ao inves de mandar FOFOQUEIROS ESQUERDISTAS p Europa , q de democraticos n tem nada, ele diuturnamente trabalha p colocar n pais em pè e n povo feliz! O GENOCIDA foi o unico presidente q teve um olhar humano p o povo nordestino q n possuia o maior bem q è a agua. O GENOCIDA. preocupou se c os mais pobres na pandemia e msm c o pais em construcao, disponibilizou recursos p q esse povo impedido de trabalhar, passasse fome… etc etc portanto deixem de ir atras de fofoqueiros e venham aqui conhecerverdadeiramente n amado PRESIDENTE! Senao entenderemos q vcs apenas nao perseguem cristaos mas perseguem PRESIDENTES!
    O BRASILEIRO, em s macica maioria aprova e ama BOLSONARO!
    P vcs talves o melhor mensageiro , fosse o MAIOR LADRAO DO PLANETA!
    Gosto n se discute… se lamenta….

  3. Algumas pessoas não entenderam a fala sobre talvez Bolsonaro não ser o melhor mensageiro. A frase é mais uma constatação factual do que um juízo de valor. Quando você estuda habilidades de comunicação, uma variável relevante a se considerar é a resistência eventual do receptor em relação ao emissor da mensagem, e o fato é que por maior que seja o entusiasmo da direita com o governo Bolsonaro, é bastante difícil encontrar alguém que atribua a Bolsonaro enormes dotes diplomáticos. O resumo da ópera é: a mensagem que ele transmitiu é relevante e verdadeira, mas há um enorme número de pessoas com predisposição de tapar os ouvidos para todas as suas declarações, independente da verdade de seus conteúdos. E ainda assim, o texto celebra o fato dele ter levado esse tema para a discussão internacional.

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