Fatos e dados não significam nada sem uma teoria para explicá-los

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Muitos economistas, incluindo Milton Friedman, acreditam que, como é impossível estabelecer “como as coisas realmente funcionam”, as suposições subjacentes a um modelo não são importantes. Vale tudo, desde que o modelo possa produzir boas previsões. Friedman escreveu:

     O objetivo final de uma ciência positiva é o desenvolvimento de uma teoria ou hipótese que produza previsões válidas e significativas (ou seja, não truísticas) sobre fenômenos ainda não observados.

Além disso, de acordo com Friedman:

    A pergunta relevante a ser feita sobre os pressupostos de uma teoria não é se eles são descritivamente realistas, pois nunca são, mas se são uma aproximação suficientemente boa para o propósito em questão. E essa pergunta só pode ser respondida vendo se a teoria funciona, o que significa se ela produz previsões suficientemente precisas.

Para Friedman, uma vez que a realidade provavelmente é intangível, nosso conhecimento dela é provisório — não se pode conhecer a verdadeira natureza. Além disso, Friedman e a maioria dos economistas mainstream acreditam que o estado da economia é derivado dos dados. Ao inspecionar os dados, como o produto interno bruto ou o índice de preços ao consumidor, o analista forma uma visão sobre o provável estado das condições econômicas.

Ludwig von Mises tinha uma visão diferente, escrevendo:

     A formação de grupos de vários preços, assim como o cálculo de preços médios, implica em considerações teóricas que lhes são lógica e temporalmente antecedentes.

Além disso:

     É inútil tentar descobrir coeficientes de correlação se não se partir de um conceito teórico anteriormente formulado.

Mises acreditava que os dados são uma exibição histórica e por si só não podem fornecer ao analista uma explicação do mundo real. Ele escreveu:

     A experiência com a qual as ciências da ação humana têm de lidar é sempre uma experiência de fenômenos complexos. No que diz respeito à ação humana, não se pode realizar experiência em laboratório.

Para dar sentido aos dados, um economista deve ter uma teoria que se apoie em seus próprios pés e não se origine dos próprios dados. O ponto-chave é que deve se originar de algo real que não pode ser refutado. Uma teoria que se baseia no fundamento de que os seres humanos agem consciente e propositalmente cumpre isso, uma vez que os seres humanos agem consciente e propositalmente (qualquer um que tente refutar esse ponto consciente e propositalmente se contradiz).

Ludwig von Mises rotulou essa estrutura como praxeologia. Por meio da praxeologia, Mises foi capaz de derivar todo o corpo da economia. O conhecimento de que as ações humanas são conscientes e propositais permite que um analista compreenda os dados históricos.

A importância de definir o objeto da investigação

A chave para entender os dados é estabelecer o assunto da análise. Uma vez estabelecido o assunto, o próximo passo é definir o assunto. O objetivo da definição é determinar os principais fatores que determinam o objeto da investigação.

Para estabelecer uma definição, deve-se voltar ao ponto de tempo em que uma coisa em particular surgiu. Por exemplo, ao analisar a oferta monetária, voltaríamos a quando uma determinada mercadoria começava a assumir o papel de dinheiro. Nesse caso, verificar-se-ia que os indivíduos originalmente usaram o dinheiro para promover o comércio de bens por bens.

Uma mercadoria que foi selecionada como dinheiro permitiu a troca mais eficiente. Ao determinar o meio de troca, estabelecemos que os indivíduos estão pagando por um bem com outro bem, auxiliados pelo dinheiro.

Também podemos estabelecer que aumentos na quantidade de dinheiro – isto é, a inflação do dinheiro – gera uma diminuição no poder de compra do dinheiro, todas as outras coisas sendo iguais. Isso ocorre porque aumentos na oferta de moeda resultam em uma quantidade maior de dinheiro por unidade de um bem do que na situação anterior, todas as outras coisas sendo iguais, já que o preço de um bem é a quantidade de dinheiro por unidade de um bem. Assim, a partir de um aumento na oferta de moeda, pode-se inferir que, todas as outras coisas sendo iguais, mais dinheiro será gasto por bem – ou seja, os preços dos bens vão aumentar – e um declínio no poder de compra do dinheiro emergirá.

Sem definir o que é preço, não será possível dizer nada significativo sobre a principal causa do aumento dos preços dos bens, que é o aumento da oferta monetária. A definição de que o dinheiro é o meio de troca nos permite estabelecer que, uma vez que o dinheiro é injetado, há sempre os primeiros e os últimos recebedores de dinheiro. Isto, por sua vez, permite inferir que uma mudança na oferta monetária provavelmente terá um efeito defasado sobre os preços dos bens em vários mercados.

Agora, sem um arcabouço teórico, os dados por si só não podem nos dizer as condições da economia, por assim dizer. Eles não podem nos dizer se os dados fortes do PIB são por causa da expansão da riqueza ou por causa da erosão do processo de geração de riqueza.

Uma vez estabelecido que as políticas monetárias frouxas do banco central estão por trás das chamadas condições econômicas fortes, então, por meio de uma teoria, podemos estabelecer que isso enfraquecerá o processo de geração de riqueza. No mundo moderno do padrão papel-moeda, podemos verificar que um aumento na oferta de moeda resulta na troca de nada por algo. Isso leva a um desvio da riqueza de geradores de riqueza para atividades não geradoras de riqueza.

Segundo o fundador da escola austríaca de economia, Carl Menger, para manter a vida e o bem-estar, os indivíduos preferirão o consumo presente ao consumo futuro. Sugerimos que, à medida que a riqueza do indivíduo se expande, o prêmio atribuído ao consumo presente sobre o consumo futuro provavelmente diminuirá. O prêmio do consumo presente sobre o consumo futuro é o que interessa.

Uma preferência temporal mais alta – isto é, preferir o consumo presente ao consumo futuro, implica que, para permanecerem vivos, os indivíduos têm que atribuir um prêmio mais alto aos bens de consumo atuais versus bens de consumo futuros. A partir disso, também podemos estabelecer que apenas as preferências temporais dos indivíduos determinam as taxas de juros, ao contrário das políticas do banco central. As políticas do banco central só podem distorcer as taxas de juros, desencadeando ciclos de expansão e retração e empobrecimento econômico. Observe também que a preferência temporal positiva implica que as taxas de juros devem ser positivas.

O fato de um indivíduo executa ações intencionais implica que as causas no mundo da economia emanam de seres humanos e não de fatores externos. Isso significa que os métodos matemáticos não serão úteis.

Por exemplo, ao contrário do pensamento popular, os gastos individuais em bens não são causados ​​pela renda real como tal. Em seu próprio contexto único, cada indivíduo decide quanto de uma determinada renda será usado para consumo e quanto para investimentos.

Embora seja verdade que os indivíduos responderão às mudanças em seus rendimentos, a resposta não é automática. Cada indivíduo avalia o aumento da renda em relação ao conjunto específico de metas que deseja alcançar. Ele pode decidir que é mais benéfico para ele aumentar seu investimento em ativos financeiros do que aumentar o consumo.

Conclusão

A confiança em dados estatísticos como base para avaliar a economia é questionável. Os dados estatísticos não podem produzir muita informação sobre os fatos da realidade sem uma teoria que “se apoie em seus próprios pés” e não seja derivada dos dados. Uma vez que a teoria passou no teste lógico, ela se torna a ferramenta para estabelecer os fatos da realidade através da avaliação dos dados.

A teoria também nos permite verificar as razões das discrepâncias entre os dados e o que a teoria supõe. Por exemplo, de acordo com a teoria econômica, os indivíduos atribuem maior importância ao consumo no presente do que ao consumo no futuro, algo que estabelecemos anteriormente.

Segundo a teoria, as taxas de juros não podem ser negativas. Se, no entanto, observarmos taxas negativas, isso não contradiz a teoria, mas força o analista a refletir sobre como isso poderia ter acontecido. Muito provavelmente, ele descobrirá que as políticas monetárias do banco central forçaram isso na economia.

Vários métodos matemáticos e estatísticos não podem ajudar um analista a estabelecer causas no mundo da economia. Tudo o que esses métodos podem fazer é descrever coisas. Para determinar as causas subjacentes, é necessária uma teoria logicamente elaborada.

 

 

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