O ataque do Estado de bem-estar social à família

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A maioria das pessoas que ouve as ideias libertárias se deixa levar pelo pensamento de que a caridade privada, na ausência de programas governamentais, resolverá problemas envolvendo pessoas verdadeiramente indefesas. As organizações de caridade estão ativas, mas ninguém sabe ao certo quanto as doações aumentariam em uma sociedade livre de impostos.

Quando uma pessoa envelhece sem poupança, o que ela deve fazer sem programas socialistas como a Previdência Social? A instituição de caridade esquecida aqui é a família. Quando os libertários falam de caridade, não nos referimos apenas ao Exército da Salvação, mas também em cuidar de seus parentes.

Quando meu irmão e eu éramos bebês, meus avós intervieram para cuidar de nós enquanto minha mãe e meu pai trabalhavam. Meus pais, por sua vez, providenciavam para que toda a família vivesse sob o mesmo teto para economizar dinheiro. Quando meu pai se mudou para os Estados Unidos e ganhou mais dinheiro, ele se certificou de que as necessidades de meus avós seriam atendidas.

Durante a Guerra dos Balcãs, membros da minha família foram removidos à força de suas moradias e tornaram-se refugiados devido ao conflito. Quando eles perderam tudo, adivinha quem cuidou deles? A família toda junta enviava dinheiro e tudo o que podia.

Assim era a regra em todos os lugares antes do estado de bem-estar social: seus pais que cuidaram de você financeiramente quando criança – você pode precisar ajudá-los no futuro. Esse elemento básico da vida familiar parece ser incompreensível para os defensores do estado de bem-estar social. Os defensores do estado de bem-estar falam constantemente sobre nossa responsabilidade para com a sociedade por meio de impostos redistributivos.

Não tenho responsabilidade com a sociedade como um todo, com algum estranho que nunca conheci. Pessoalmente, sinto que tenho uma responsabilidade em relação à minha família imediata. Programas como o Auxílio Emergencial, Previdência Social e seguro-desemprego retiram nossa responsabilidade para com a família e a colocam nas mãos do Estado. Eles excluem nosso senso de responsabilidade moral.

A família foi uma forma integral de cuidar dos indivíduos como um todo durante séculos. Os defensores do estado de bem-estar social esquecem o passado.

Antes do advento da Previdência Social, o que acontecia com as pessoas que viviam além dos 65 anos? Essas pessoas simplesmente morreram de fome às dezenas de milhares? Não. Uma enorme onda de organizações de caridade veio em seu socorro? Nem sempre. Então, como eles sobreviveram? Todos podem concordar que não houve mortes em massa de pessoas de 65 anos registradas na Grande Depressão antes que a Previdência Social entrasse em vigor.

Essas pessoas sobreviveram sob um princípio básico na vida. Você cuida de seus filhos e um dia eles cuidarão de você. No passado, ter filhos era um investimento em seu futuro. Você sabia que um dia seus filhos cuidariam de suas necessidades como você cuidava das deles.

Isso criou muitos incentivos que produziram uma família saudável. Por um lado, você tinha que ser um pouco mais gentil com seus filhos e certificar-se de incutir bons valores. Crianças sem uma boa ética de trabalho ou bons valores provavelmente não terão um bom desempenho no mercado de trabalho. Um pai teria que ensinar esses valores aos filhos para garantir suas próprias necessidades mais tarde. A responsabilidade para com a família foi muito bem avaliada. Sem isso enraizado em uma criança, ela pode crescer um dia e nunca retornar o carinho dado pelos pais no início da vida.

Com o governo tentando suavizar todos os erros da vida, recebemos incentivos muito diferentes. Se seus pais são totalmente subsidiados pelo bem-estar social, o quanto eles realmente se importam com o seu futuro? Os pais geralmente cuidam de seus filhos e querem o melhor para eles. Mas os pais que sabem que ou criam seus filhos corretamente ou não comem no futuro vão se esforçar muito mais para garantir que seus filhos fiquem longe das drogas, do crime e de outras decisões ruins.

As desculpas padrão do aborto também desempenham um papel importante na questão. O estado de bem-estar social destruiu a cultura do trabalho duro e da família. Eu sinto vergonha alheia toda vez que ouço alguém falar sobre a pobreza como desculpa para o aborto.

Não quero discutir aqui os acertos e erros do aborto, mas como você pode inventar uma desculpa de que é pobre demais para ter um filho e precisa abortar? Em tempos econômicos muito mais difíceis, as famílias tinham dez ou doze filhos. Famílias enormes não eram incomuns. Hoje, esses abortistas querem que eu acredite que com condições econômicas cem vezes melhores do que antes, eles não podem se dar ao luxo de ter um filho. Eles vão ter que inventar uma desculpa melhor do que essa.

Não é fácil ter um filho se você é rico ou pobre. Em qualquer momento da vida, é difícil criar e lidar com um bebê. Mesmo com um diploma universitário, uma jovem mãe terá tanta dificuldade quanto uma adolescente. São fatos da vida. Criar filhos é um trabalho árduo! O estado de bem-estar social reforçou a ideia de que, se algo é difícil, deve estar errado.

Fazer a coisa certa não é fácil. A dificuldade não justifica ações imorais. Claro, cuidar de seus pais idosos é mais difícil para você do que ter o estado fazendo isso. Mas é sua responsabilidade moral? Sim. Não é responsabilidade de algum outro contribuinte que nem conhece seus pais. Qualquer um que deixasse para estranhos cuidar de seus pais idosos deveria se vergonhar.

Antes do estado de bem-estar, existiam incentivos para ter filhos e garantir seu próprio futuro. Agora, temos incentivos para separar a família. Bolsas governamentais realmente dá mais dinheiro para mães solteiras. Isso pode parecer um ótimo programa para ajudar mães solteiras em necessidade, mas, na realidade, o programa facilita a saída do homem da família. Reduz a responsabilidade prática do homem de ficar e criar a criança. O programa cria mais mães solteiras!

E algum dia, será o governo, não sua descendência, que proverá para o homem que partiu. Isso traz ainda menos incentivos para criar os filhos adequadamente.

O seguro-desemprego também prejudicou a sociedade. Durante a Grande Depressão, houve grandes movimentos de pessoas para encontrar emprego. Se havia um emprego em algum lugar, as pessoas iam. Agora, com o desemprego e o bem-estar social, as pessoas ficam na mesma cidade vendo tudo ao seu redor apodrecer e decair. Programas de habitação do governo os mantém complacentes enquanto imploram por mais assistência. Quando os tempos ficam difíceis, as pessoas vão se mudar para conseguir empregos. A Grande Depressão já provou isso. Milhões morreram sem assistência social ou seguro-desemprego? Não. Melhora a vida das pessoas subsidiar sua permanência em um lugar? Não.

Posso falar por experiência. Eu vi caridade e amor dentro de minha própria família superando todos os obstáculos em nossos tempos. Nascida na ex-Iugoslávia, minha família estava acostumada à escassez e à pobreza socialista. Mas eu vi a família trabalhando em conjunto para alcançar os objetivos maiores de cada membro. Este não era um tipo de responsabilidade socialista. Um membro da família cuidou de você em um momento; mais tarde você cuidou deles.

A mãe do meu pai gastou todas as suas economias de trinta anos para mandar meu pai para a faculdade de medicina. Não havia ajuda do governo lá. Quando, anos depois, ela teve que se aposentar por causa do câncer de mama, adivinhe quem pagou suas contas e tratamentos médicos. Minha tia e meu tio também ajudaram morando com ela e cuidando dela diariamente. Não havia sistema de saúde nacional confiável. Não havia casa de repouso ou previdência social subsidiada. As crianças que ela deu à luz e criou com responsabilidade garantiram que ela fosse bem cuidada até seus últimos dias. Cada um estava cumprindo sua responsabilidade de filho para com sua mãe.

A agenda do Estado é desfazer a família. Quanto mais você depende do estado, mais você justifica sua existência, e mais ele cresce. A ideia de que as pessoas podem prover coisas para si mesmas individualmente ou através da família assusta o Estado. Ela deslegitima seu papel. O papel da família é perigoso para sua sobrevivência.

O afastamento do estado de bem-estar social é um movimento em direção a melhores valores familiares e melhor coesão familiar.

A morte da família é a vida do Estado.

 

 

 

Artigo original aqui

5 COMENTÁRIOS

  1. É o que venho falando recentemente para as pessoas que convivo. Todo conservador tem que se tornar libertário se quiser sobreviver no futuro.

  2. O mandamento bíblico honrar pai e mãe é a uma arma de destruição em massa contra o estado. Ateus do inferno não percebem que há dois mil anos o estado vem tentando destruir o reino social de Jesus Cristo. A razão sem a fé na Igreja verdadeira jamais trará liberdade e o fim do leviatã estatal. As consequências da razão podem levar a conclusões lógicas sobre a validade de todos os princípios libertários, a sociedade de acordos voluntários. Porém, a razão – racionalismo, ou seja, uma ideologia -, também leva a justificativas lógicas para o estado máfia se impor de maneira legítima. Podemos denunciar o erros, mas isso não basta, devido aos incentivos financeiros que a gangue estatal inventa, como bem colocado no texto.

    O libertarianismo, no entanto não é compatível com a doutrina católica , mas não vejo isso como um grande problema. A falsa igreja comunista jamais mudaria essa realidade, mas eu acredito que se a Igreja não tivesse sido inavadida pela sinagoga, o Santo padre e seus bispos acabariam por chegar a conclusão que a única defesa da fé é a filosofia política libertária.

    • Não me referi a um conservador abandonar seus princípios e valores, eu mesmo sou conservador e católico. Quis dizer que todo conservador deveria abraçar o libertarianismo na economia e política.

      • Eu entendi o seu ponto, mas o meu comentário não se referia ao seu.

        Mas aproveitando. Os conservadores seculares tem por obrigação moral serem libertários, única filosofia política completa e verdadeira contra os parasitas estatais. Porém, os católicos, não podem ser libertários legítimos, pois eles legitimam o estado, ainda que uma monarquia de direito divino mínima. E a doutrina da Igreja de todos os tempos e devemos seguir esse magistério. Obedecer e submeter-se. Mas obviamanete jamais em toda a minha vida deixarei de ser católico romano. Sou libertário radical e acredito que a moral católica irá prevalecer em uma sociedade sem estado. Abraço

    • Já me fiz essa pergunta algumas vezes. “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Esse seria um preceito doutrinário? Ele levaria a um dogma? Jesus pediu que lessem a inscrição cunhada na moeda, um denário, e lá estava inscrito o nome de César. Reconheceram que aquela moeda além de possuir um nome, era propriedade de alguém. Jesus reconheceu o valor da propriedade privada (a moeda cunhada é propriedade do estado, por mais que eu me oponha à tributação compulsória para a produção de moedas), e não se opôs ao tributo devido à autoridade romana. Mas seria Jesus um proponente do monopólio da espoliação estatal sistemática? Jesus acenou para que algum monarca detivesse o poder da vida e da morte sobre todos os homens sob a jurisdição estatal?

      Em uma das suas aulas do COF, Olavo de Carvalho explica que a investigação de cunho filosófico-teórico (a meu ver, o libertarianismo seria um exemplo) a partir de um preceito religioso nem sempre são capazes de criar heresias porque as conclusões às quais se consolidam os dogmas não surgem prontas do dia para a noite, são ao contrário fruto de controvérsias internas geridas ao longo de muitos séculos de debates nos concílios, uma vez que a compreensão desses dogmas são tão complexos quanto a formação conclusiva desses mesmos dogmas. A investigação da verdade é sempre um processo dialético.

      Às vezes penso que o nosso quinhão libertário possível já veio com a descentralização de poder criada pelo regime monárquico no período das cidades-estado. Sentimos uma nostalgia terrível quando ouvimos o nosso hino da independência, as pinturas de Dom Pedro II, e é impossível não lastimar a bandalha que se seguiu com o fim da família imperial. Tudo que funciona bem nesse mundo, desde botar ordem na casa, gerir a família, gerir uma empresa etc é de ordem monárquica. É tomar para si a responsabilidade pessoal e dar a cara a tapa. Nossa essência familiar é monárquica. Deus é o monarca supremo. Eu acredito que Jesus era um proto-libertário e não há motivos por que a Igreja católica não deveria assumir seu verdadeiro papel em alterar os rumos da história (novamente) em direção a menos estado (ou zero estado) e mais liberdade e progresso espiritual.

      Investigação filosófica e a doutrina da Igreja:
      https://m.youtube.com/watch?v=PAo_FgunVhU&t=6s

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