O “socialismo real” já foi realmente tentado – e foi um desastre

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Apesar de inspirar uma grande variedade de movimentos políticos que causaram inúmeros desastres de direitos humanos, Marx continua sendo objeto de admiração de muitos intelectuais e artistas. Um desses exemplos pode ser visto no novo filme de Raoul Peck, O jovem Karl Marx, que retrata Marx como um radical de princípios com uma louvável sede por justiça.

Felizmente para o homem Marx e sua reputação, ele nunca ganhou pessoalmente o controle de qualquer estado. Assim, o trabalho sujo de implementar a necessária “ditadura do proletariado” foi deixado para outros. E aqueles que tentaram trazer o marxismo à luz da realidade prática, rapidamente descobriram que o marxismo aplicado traz o empobrecimento e a destruição da liberdade humana.

No entanto, depois de um século marcado por regimes socialistas brutais baseados em várias interpretações das ideias de Marx, a reabilitação de Marx geralmente se baseia na ideia de que o “socialismo real” “nunca foi tentado”. Ou seja, uma experiência socialista verdadeiramente “pura” – como Marx presumivelmente queria – sempre foi manchada pela presença de ideias burguesas ou hábitos capitalistas persistentes presentes no aparato estatal.

Um exemplo típico desse tipo de pensamento pode ser encontrado na insistência de Noam Chomsky de que o regime obviamente socialista da Venezuela está realmente “bastante distante do socialismo”. E também isso é notável no artigo de 2017 do filósofo Slavoj Zizek no The Guardian,O problema da revolução da Venezuela é que ela não foi longe o suficiente.

Na opinião de Zizek, ao que parece, o socialismo pode funcionar se os hábitos e costumes do status quo forem totalmente destruídos e substituídos por formas inteiramente novas de pensar. Ou, como Zizek descreve, velhos provérbios (isto é, modos de pensar) devem ser totalmente substituídos por novos provérbios. Por exemplo:

    Os revolucionários radicais, como Robespierre, falham porque eles somente causam uma ruptura com o passado sem terem conquistado em seus esforços a imposição de um novo conjunto de costumes (recordamos aqui o grande fracasso da ideia de Robespierre em substituir a religião pelo novo culto de um Ser Supremo). Os líderes como Lenin e Mao conseguiram (por algum tempo, pelo menos) porque inventaram novos provérbios, o que significa que eles impuseram novos costumes que regulavam a vida cotidiana.

Assim, o problema na Venezuela não é que incontáveis ​​negócios privados foram confiscados, direitos de propriedade foram destruídos e inúmeros cidadãos privados de liberdades básicas. Não, o problema é que o regime venezuelano foi muito conservador e não conseguiu implementar uma ruptura total com o passado.

Mas como essa ruptura com o passado pode ser realizada? A verdade está na linguagem usada pelo próprio Zizek. Envolve “a imposição de um conjunto de costumes” e “impor novos costumes”. Essa, é claro, é a linguagem da coerção e da violência. Esses novos “costumes” não precisariam ser impostos, é claro, se as pessoas quisessem adotá-los voluntariamente.

Do ponto de vista do purista socialista, se apenas um novo Lenin ou um novo Mao aparecesse e se esforçasse mais, bem, então o socialismo poderia finalmente ter sucesso. Afinal, como a publicação satírica The Onion sugeriu recentemente, “Só faltava um grande expurgo para Stalin criar a utopia comunista“.

Por mais hiperbólica que essa afirmação possa parecer, essa ideia, no entanto, descreve fundamentalmente a mentalidade daqueles que afirmam que “o socialismo nunca foi realmente tentado”; se o socialismo deve ser implementado, algo deve ser feito para liberar as pessoas de seu apego à propriedade privada e todos os outros costumes e ideias que atrapalham a utopia.

Na prática, isso sempre significou usar o poder do Estado para impor um novo estilo de vida às pessoas. Além disso, graças às realidades econômicas, também significou que quanto mais socialismo é aplicado, mais baixo é o padrão de vida. Mas – continua o pensamento – enquanto os planejadores socialistas continuarem avançando e se recusarem a ser sabotados pelo pensamento capitalista, então a utopia pode ser alcançada. Sim, haverá muito sofrimento nesse ínterim, mas a recompensa final será incalculavelmente grande.

Representada graficamente, a ideia fica assim:

Tanto Marx quanto Stalin admitiram que esse infeliz “estágio intermediário” era um problema. Como observa Ludwig von Mises, Marx ainda teve que inventar uma evolução do socialismo em duas camadas:

     Em uma carta, Karl Marx distinguiu entre dois estágios do socialismo – o estágio preliminar inferior e o estágio superior. Mas Marx não deu nomes diferentes a esses dois estágios. No estágio superior, disse ele, haverá tanta abundância de tudo que será possível estabelecer o princípio “a cada um conforme suas necessidades”. Como os críticos estrangeiros notaram diferenças nos padrões de vida de vários membros dos sovietes russos, Stalin fez uma distinção. No final da década de 1920, ele declarou que o estágio inferior era o “socialismo” e o estágio superior era o “comunismo”. A diferença era que no estágio socialista inferior havia desigualdade nas rações dos vários membros dos sovietes russos; a igualdade será alcançada apenas no estágio posterior, comunista.

O capitalismo parcial funciona melhor que o socialismo parcial

Observe, no entanto, que o capitalismo não sofre desse problema. Se pegarmos uma economia intervencionista mediana e começarmos a introduzir reformas liberais de livre mercado parciais, isso causa o colapso da economia?

Certamente não. De fato, em todos os lugares que olhamos e encontramos uma economia relativamente menos socialista, menos pobreza e mais prosperidade encontramos.

Historicamente, isso é óbvio. Os países que adotam o livre comércio, a industrialização e os parâmetros das economias de mercado são as economias mais ricas hoje. Também descobrimos que esse é o caso na Europa do pós-guerra, onde as economias relativamente pró-mercado, como as da Alemanha e do Reino Unido, são mais ricas e têm padrões de vida mais elevados do que as economias mais socialistas do sul da Europa – como Grécia e Espanha. Isso é verdade até mesmo nos países escandinavos como a Suécia, que, como observou Per Bylund, historicamente construiu sua riqueza com um regime relativamente laissez-faire.

Vemos esse fenômeno em ação nas comparações entre a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental. Na Alemanha Ocidental, após a Segunda Guerra Mundial, as reformas pró-mercado ajudaram a inaugurar um período de imenso crescimento econômico – com apenas reformas intermediárias. Ao abolir os controles de preços e outras restrições impostas pelo governo à economia, a economia da Alemanha decolou enquanto as economias mais socialistas – como a encontrada no Reino Unido na época – estavam mais estagnadas.

Obviamente, no caso da Alemanha, o estado da Alemanha Ocidental não adotou o capitalismo “puro”. Eles simplesmente adotaram relativamente mais laissez-faire. E a economia expandiu. Na verdade, de acordo com Hans Sennholz, o estado da Alemanha Ocidental tropeçou acidentalmente em suas reformas de livre mercado. Ainda assim, chamamos os resultados de “o milagre econômico alemão”.

Outros exemplos podem ser encontrados na Europa Oriental e na América Latina. Onde os mercados são mais relativamente livres, maior o padrão de vida e maior o crescimento econômico. Os capitalistas não são forçados a dar desculpas sobre como “o verdadeiro capitalismo nunca foi tentado” – embora mercados puramente livres nunca tenham existido em lugar nenhum.

200 anos depois de Marx, porém, cada novo fracasso inspirado em Marx faz com que seus defensores recorram a essa mesma desculpa repetidas vezes. Espero que daqui a mais 200 anos, eles tenham desistido.

 

 

Artigo original aqui

2 COMENTÁRIOS

  1. Dizer que o Marx possuía um enorme senso de justiça é ter um enorme senso de humor. Não é exagero dizer que esse intelectual foi o profeta apocalíptico mais proeminente do último milênio, no fundo, ele queria apenas ver a sociedade virar de cabeça para baixo, mas são aqueles que ouvem e dão atenção para às palavras dos loucos que dão sentido para suas maluquices, o fato de que o “comunismo” nunca atingiu seu estado pleno como propagado por Marx é simplesmente devido ao fato de que suas profecias sobre o apocalipse que seria causado pelo proletariado para extiguir os burgueses malvados nunca ocorreu, logo, foi necessário algo mais, intelectuais e políticos se mobilizaram para colocar seus ideais em prática, havendo apocalipse ou não. Até hoje ninguém sabe o que é esse tal “comunismo de verdade”, mas todos os adoradores dos ideais de Marx querem fervorosamente que a utopia ocorra, a mágica está em ser o mais extremista e megalomaniaco possível.

    • Apelando ao misticismo.
      Não me lembro onde eu ouvi, que Marx foi o anti-cristo um enviado de Satanás.

      Satanás não subiria do inferno e sairia tocando o terror assim sem mais sem menos, isso faria muitos ateus se converterem na hora. rsrs
      Ele é muito mais inteligente e ardiloso que isso, logo criou as ideologias esquerdistas.

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