Pedir um estado eficiente é pedir um quadrado redondo

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De fato, o estado é quase universalmente considerado uma instituição que, embora muitas vezes bastante ineficiente em relação à iniciativa privada, é necessária para prover a todos os serviços ditos básicos.

O estado, então, fazendo-se pautar de forma praticamente inabalável nessas considerações populares, atua como uma empresa monopolística supostamente destinada à suplantação das necessidades básicas do cidadão.

O estado seria absolutamente indistinguível de uma empresa privada provedora de serviços jurídicos e policiais caso não empregasse coerção sistematicamente com a finalidade de extorquir do indivíduo produtivo os recursos com os quais se financia.

O estado não apenas se financia mediante o emprego sistemático de extorsão, porém mantém-se permanentemente lucrativo pela permanente utilização de vias legislatórias postas proibitivamente à operação de concorrentes privados.

Do ponto de vista jurídico-social, por exemplo, o roubo, embora passível de penalidades não mortais, é absolutamente imperdoável. O estado faz uso amplo de meios caracteristicamente expropriatórios para custear-se, no entanto estes meios expropriatórios não são vistos como tais pelos estatistas e tampouco pelos que legislam como se deuses fossem (e, miseravelmente, nenhuma condenação, mesmo que opinativa, é aos mesmos direcionada).

Se uma dada empresa entra em conluio com o estado e compra dele leis economicamente impeditivas ao negócio dos concorrentes, ela será popularmente vista como um subproduto odiável do capitalismo malvado. O estado, no entanto, ao proibir serviços básicos alternativos mediante arbitrariedades legislativas a fim de alegadamente impedir o agravamento da sobreposição dos ricos aos pobres, não é bombardeado por objeções impassíveis apesar de os legisladores (ricos) terem salários estupendamente paquidérmicos e se sobreporem com frequência às liberdades individuais como se estas fossem excrementos caprinos.

Pela clarificação desses fatos fica clarificada a posição do estado frente ao indivíduo.

Ora, se é verdade que a existência de uma empresa monopolista pressupõe altos preços e ineficiência operacional, por que, então, esperar eficiência do estado sendo este custeado por coação independentemente da satisfação dos contribuintes?

Ora, se é verdade que uma empresa monopolista tende a restringir a concorrência de maneira tal que a compra dos seus produtos inferiores se torna comparativamente mais compensatória que a procura de produtos alternativos melhores ao consumidor, por que, então, esperar que o estado flexibilize o mercado ou reduza os impostos uma vez que é incomparavelmente mais vantajoso ao estado tributar o indivíduo a um ponto minusculamente abaixo do que levaria o mesmo a deixar o país?

Ora, se é verdade que uma empresa monopolista tende a ser antipática em relação às preferências do consumidor uma vez que este não possui produtos alternativos aos quais recorrer para se satisfazer mais que minimamente, por que então esperar que o estado preze o bem-estar dos contribuintes oferecendo a eles serviços de qualidade uma vez que tais contribuintes não podem deixar de pagar pelos serviços estatais mesmo estando extremamente insatisfeitos sem poderem possivelmente demandar serviços alternativos melhores?

As empresas do setor privado se sustentam por meio de operações de venda, quer dizer elas compram dos consumidores o dinheiro com o qual se financiam mediante a entrega de produtos e serviços.

Uma empresa privada, sabe-se, é sempre benéfica aos consumidores.

O homem, afinal, somente age porque espera obter através da ação um estado de coisas situacionalmente mais satisfatório que o estado de coisas anterior. Logo, quando uma dada pessoa compra dado bem (digamos, A) por, por exemplo, 10 reais, ela está a dizer de modo implícito: “prefiro abster-me do uso desses 10 reais que abster-me da aquisição deste bem (A), pois creio que a utilização deste bem me trará mais que ganhos que qualquer utilização alternativa que possa possivelmente ter estes 10 reais”. Se o vendedor, por sua vez, valorasse mais A que os 10 reais do consumidor, ele poria A em venda com um preço comparavelmente maior ou, então, o utilizaria para seus próprios fins. Logo, o próprio fato de o vendedor pôr A em venda por 10 reais já implica que a venda será vantajosa para ele.

Em suma, para que uma empresa tenha lucro, isto é, para que ela transacione, a mesma deve ofertar ao consumidor um produto ou um serviço que o referido consumidor avalie como tendo um valor superior ao valor que tem o seu dinheiro. Uma empresa, portanto, para manter-se financeiramente viável de forma de duradoura, deve acrescer valor à vida do consumidor e procurar ininterruptamente ajustar a sua capacidade produtiva à demanda de mercado em voga. Ou seja, as empresas privadas operam tão-somente sob o consentimento dos consumidores.

Por essa razão, o empresário deve ser suficientemente empático para não correr o risco de deixar a sua produção não compatível com a que é demandada pelos consumidores.

O mercado, assim, permite um processo dinâmico de produção e adaptação.

Uma empresa que não supre as necessidades dos consumidores perderá clientes e falirá no mais tardar. As empresas no setor privado são, por vias puramente mercadológicas, compelidas a servirem às pessoas, já que se estas ficarem insatisfeitas com seus serviços poderão comprar de empresas concorrentes, o que resultará numa diminuição de lucratividade.

Diz-se, não obstante, que a competição mercadológica é ferocíssima, truculenta e brutal e, supostamente, que é semelhante à competição biológica: a sobrevivência do mais forte. Entretanto, o mercado é “competitivo” não por preconizar intrinsecamente a miséria absoluta daqueles que não “vencem” a competição, mas por sempre tender a maximizar a produtividade do capital concedendo seletivamente às empresas comparativamente mais produtivas no mercado condições econômicas melhores que as que detêm as menos produtivas, uma vez que as empresas mais ricas são as que mais transacionam e transacionam mais precisamente porque proporcionam aos consumidores serviços ou produtos qualitativamente mais aprazíveis.

O mercado concede riqueza aos que constantemente adicionam valor à vida das pessoas da mesma forma que o ambiente concede sobrevivência ao melhor adaptado. Os animais rumam à adaptabilidade, enquanto que os homens rumam à prosperidade mútua.

Exemplifiquemos.

Imagine uma sorveteria que monopolizou a oferta de sorvetes por eles serem qualitativamente melhores e baratos.

Depois, assim, de o dono perceber que detinha a totalidade do setor, resolveu por diminuir a qualidade do sorvete a fim de produzir um maior número e aumentar o preço de modo a aumentar o valor monetário ganho por unidade vendida. Contudo, em consequência, os sorvetes passaram a não ser tão saborosos como eram, o que acabou por descontentar a clientela; mas, percebendo que concorrentes eram completamente faltosos, o referido dono decidiu perdurar com essa prática já que pôde aumentar o preço do seu sorvete a um ponto infinitesimalmente abaixo do qual a compra do mesmo já não traria quaisquer ganhos apreciáveis aos consumidores.

Deparando-se, deste modo, com uma grande parte das necessidades dos consumidores não apropriadamente supridas no tocante ao mercado de sorvetes, um empreendedor decide investir recursos na edificação de uma sorveteria totalmente nova numa localidade relativamente longe da que na qual está a sorveteria antes monopolista, uma vez que é comparativamente mais preferível ao consumidor comprar dado bem a um preço um pouco maior numa loja local que ir ele mesmo numa loja mais distante adquirir o mesmo bem a um preço nominalmente menor, já que o consumidor pesa os custos de transporte do produto da mesma forma como pesa os custos puramente monetários da sua aquisição.

O novo capitalista observa que poderá auferir lucros significantes se aumentar a qualidade do seu sorvete a um ponto minimamente acima do que está a qualidade do sorvete da sorveteria antes monopolista. E poderá lucrar ainda mais se vender o seu sorvete a um preço minimamente inferior ao do seu concorrente.

Naturalmente, ao curso do tempo, os consumidores que residiam perto da sorveteria antes monopolista passam a buscar sorvetes mais longe na nova sorveteria já que o preço baixo e a qualidade superior, avaliam, compensam consideravelmente os custos relativos ao transporte (e todo novo concorrente tenderá invariavelmente a aumentar a qualidade e diminuir o preço tanto quanto possível, uma vez que um aumento do número de unidades vendidas, decorrente da diminuição do preço, sempre tende a compensar mais que simetricamente a redução do valor monetário nominal ganho por unidade vendida).

Contabilizando, finalmente, perdas financeiras, o dono da sorveteria antes monopolista decide, assim, para não falir, aumentar a qualidade e diminuir o preço do sorvete para angariar novamente a clientela perdida.

Veja que a sorveteria que perdurou e se estabilizou foi justamente aquela que se mostrou mais bem-sucedida em agradar e satisfazer os consumidores.

Imagine, agora, se a entrada de novos competidores no mercado dependesse de uma autorização estatal prévia; ou, pior, se a empresa mais “amiga” do estado comprasse deste leis burocrático-regulatórias economicamente proibitivas à entrada de novos competidores.

A concorrência de mercado atua na sociedade como um mecanismo dinâmico e espontâneo de correção na atividade produtiva, além de, claro, ser uma consequência direta do respeito à liberdade individual.

Os marxistas afirmam incansavelmente que o capitalista proposita somente o lucro e tão somente ele. Ora, então, fiquem felizes, consumidores, pois vocês, estando nuamente expostos a um mercado desregulamentado, desburocratizado e totalmente capitalista, serão saciados da melhor forma possível.

Que seria, afinal, das editoras marxistas se não fosse o marxismo profundamente enraizado na mente dos brasileiros? Na verdade, o sucesso empresarial das editoras marxistas pertence à “lógica do sistema capitalista”, porque, ideologicamente, a massa brasileira não vê deleite em leituras libertárias, mas em leituras marxistas.

O estado, no que lhe diz respeito, não minimamente necessitando da satisfação da classe consumidora, avilta qualquer tipo de ponderação acerca de custos-benefícios ao operar, dependendo somente do emprego sistemático da violência e da força coativa. A satisfação do povo propriamente no tocante à qualidade e ao custo dos serviços estatais é, para a administração governamental, secundária, pois, apesar de o contribuinte, com grandíssima frequência, ficar redondamente insatisfeito com a péssima qualidade dos serviços públicos, ele pagará pelos mesmos de qualquer forma como se estivesse alegríssimo.

Logo, acreditar na eficiência do estado é acreditar numa espécie política de sobre-humano. É, essencialmente, acreditar que uma organização, tendo todos os incentivos para ser ineficiente, pode superar em eficácia aqueles que possuem todos os possíveis incentivos para serem extremamente eficientes.

4 COMENTÁRIOS

  1. O estado é a instituição mais eficiente da terra em todos os tempos, justamente pelo o que diz o autor: apesar de não ser eficiente no que faz, consegue manter o seu monopólio. Isso confirma que o estado não tem nada a ver com a prestação de serviços, mas unicamente seu negócio verdadeiro é o roubo em larga escala. Assim sendo, detém 100% do mercado. As máfias não estatais assim atuam onde o governo não em interesse aparente, como tráfico de drogas ou prostituição.

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