Pobres de Esquerda

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A ideologia e a deturpação de conceitos econômicos

A concentração em extremos opostos na última década tem se intensificado na política brasileira. Na briga entre extremos ideológicos, formam-se grupos e movimentos partidários. O sucesso numa democracia encontra-se nos políticos que conseguem falar o que a sociedade quer ouvir, o que na maioria das vezes não é a receita certa para um crescimento sustentável. Assim como um empreendedor terá sucesso ao ofertar produtos e serviços que a sociedade irá demandar, o político também irá conquistar votos ao ofertar propostas que visam beneficiar o bem estar imediato, independentemente de seu custo no longo prazo. Ao chegar ao poder, manipulam os juros com o objetivo de estimular a economia, assim transmitem um falso sinal de poupança e consequentemente distorcem completamente os sinais emitidos pelos preços de mercado. Uma insatisfação da sociedade fará com que políticos ofertem justamente o que o povo está demandando naquele momento, gerando leis e regulações que atrapalham o mercado. Redução do tamanho do Estado, defesa genuína da austeridade com objetivo de atrair investimento e por fim gerar um ambiente de negócios promissor no longo prazo, sequer faz parte dos projetos mais importantes em campanhas políticas, pois não é algo que dá voto.

Numa democracia onde o que vale é a opinião da maioria, é vital o papel dos intelectuais como formadores de opinião na sociedade, bem como grupos organizados para este fim.

Pobres de direita é um termo criado por grupos de extrema-esquerda atribuído aos indivíduos assalariados de classe média-baixa, que segundo eles, gostam de consumir coisas caras e se sentir rico, inclusive acima dos outros. Não basta que ele ganhe um bom salário, mas é necessário que o outro continue mal pago, mantendo distância dos shoppings e dos aeroportos.

O pobre de direita seria aquele que justifica o discurso de privatização à incompetência de gestão nacional de suas próprias riquezas, vendendo a preço de banana o patrimônio nacional ao estrangeiro, que ao mesmo tempo é também o colonizador. Sabe-se que o valor de uma empresa é basicamente tudo que ela tem em ativos mais o que ela poderá gerar de receitas no futuro, o que num país com enorme histórico de intervenção política, onde não se pode prever a estabilidade da moeda, muito menos uma reestatização, é natural que seu preço seja realmente baixo.

Segundo este mesmo raciocínio, o pecado original que privou a humanidade de uma vida feliz nos jardins do paraíso foi o estabelecimento da propriedade privada e da empresa, pois o capitalismo atende apenas aos interesses egoístas dos ferozes exploradores. Condena as massas de homens íntegros ao empobrecimento e degradação progressivos. O que é necessário para tornar prósperas todas as pessoas é a submissão dos exploradores gananciosos ao grande deus chamado estado, que na mente esquerdista é o salvador, não o colonizador.

Intelectuais socialistas, adeptos à teoria marxista, afirmam com veemência, que o capitalismo é um sistema que faz com que as massas sofram terrivelmente e que, quanto mais o capitalismo progride e se aproxima da plena maturidade, mais a imensa maioria de pessoas empobrece. Seus romances e peças são pensados como estudos de caso para demonstrar esse dogma marxista. Não conseguem perceber que as circunstâncias chocantes que descrevem são o resultado da ausência de capitalismo, reminiscências do passado pré-capitalista ou efeitos das políticas que sabotam o funcionamento do capitalismo. Não entendem que o capitalismo, ao gerar a produção em larga escala para o consumo das massas, é essencialmente um sistema que liquida com a penúria da medida possível. Descrevem o assalariado somente como capacidade de mão-de-obra e nunca se lembra que ele também é o principal consumidor seja dos próprios produtos manufaturados, seja dos gêneros alimentícios e das matérias-primas negociadas em troca.

Sempre surgem os descontentes que atacam o capitalismo pelo que denominam seu sórdido materialismo. Não admitem que o capitalismo provê melhores condições materiais para a humanidade. Porém, dizem eles, o capitalismo tem afastado os homens de objetos mais elevados e nobres. Alimenta os organismos, mas enfraquece os espíritos e as mentes.

A natureza restringiu o fornecimento de todas as coisas indispensáveis à preservação da vida humana. Ao cooperarem sob o sistema da divisão do trabalho, os homens criaram toda a riqueza que os sonhadores consideram um presente espontâneo da natureza. Com relação à “distribuição” dessa riqueza, seria absurdo referir-se a um princípio supostamente divino ou natural de justiça. O que importa não é a distribuição das parcelas de uma reserva presenteada ao homem pela natureza. O problema é promover as instituições sociais que permitem às pessoas continuar e aumentar a produção de tudo o que necessitam.

Todos os que rejeitam o capitalismo por considerá-lo moralmente um sistema injusto estão enganados ao não compreenderem o que é o capital, como passa a existir e como é mantido, e quais os benefícios obtidos do seu emprego nos processos de produção.

O capital não é uma dádiva gratuita de Deus ou da natureza. É o resultado de uma prudente restrição do consumo por parte do homem. É criado e aumentado pela poupança e mantido pela abstenção dos gastos. Nem o capital nem os bens de capital têm o poder de elevar a produtividade dos recursos naturais e do trabalho humano. Somente se os frutos da poupança forem adequadamente empregados ou investidos é que poderão aumentar o rendimento do insumo dos recursos naturais e do trabalho. Se isso não acontece, eles são dissipados ou perdidos.

Serão adequadamente empregados caso haja taxa de juros que reflita as preferências de consumo e poupança da sociedade, sem qualquer manipulação por parte do governo, que a distorce e consequentemente provoca os ciclos econômicos.

A atribuição do termo pobres de direita, além de soar irônico e debochado, não passa de equivocado ao desconhecer a correta definição de liberdade. A contradição se inicia, uma vez que clamam por maior presença do Estado, por uma maior elite estatizante que se diz protetora dos mais pobres. Nenhuma pessoa inteligente deixa de perceber que os socialistas, comunistas e planejadores almejam a mais radical abolição da liberdade dos indivíduos e a instalação da onipotência do governo. É completamente ilógico e contraditório atribuir o termo colonizador ao liberalismo, que prega liberdade de escolha e liberdade de empreender, sem qualquer manipulação do poder estatal.

A visão esquerdista da maioria dos acadêmicos está presa na mesma retórica de sempre: a de que qualquer defesa da economia de mercado significa defender os interesses do capital à custa do bem-estar dos trabalhadores, porém a realidade é totalmente oposta. Atacar publicamente os ricos, aliando-se a eles de forma sigilosa, defender mais dinheiro para programas governamentais, exigir mais regulações e controles sobre o setor privado, atacar os mercados financeiros, exigir mais coisas gratuitas para todos, é uma receita poderosa para obter votos em uma democracia. Implantar essa estratégia é o verdadeiro objetivo dos socialistas. É colocar mais poder nas mãos do estado, formado por políticos e burocratas. Estes sim, juntamente com seus intelectuais, os verdadeiros colonizadores.

Segundo esta mentalidade, que podemos chamar de pobres de esquerda, a riqueza já existe, bastando apenas distribuí-la, e desta forma promover o estado de bem-estar social, que em qualquer lugar se resume aos gastos crescentes de acordo com propósitos políticos, que dizem ser a favor de toda a sociedade. Não importa se o custo-benefício seja negativo, o que importa é que o Estado decida cuidar e amparar a sociedade.

Prosperidade vem da liberdade de empreender, de ter o direito de investir o fruto do seu trabalho. De encontrar o que a sociedade demanda e ofertar produtos e serviços que saciam esta demanda. Liberdade de criar seu próprio negócio sem burocracia e obstáculos impostos pelo Estado, bem como negociar em uma moeda estável, longe de interferência Estatal, a qual só a desvaloriza.

Gostar de consumir coisas caras é característica inerente ao Estado. Temos como exemplo valores exorbitantes nas obras superfaturadas. O Estado cresce em detrimento do setor produtivo. O Liberalismo prega maior concorrência, maior competição, desta forma os preços tenderão a ser mais baixos, pois o consumidor terá a liberdade de escolher o melhor produto pelo menor preço.

Da mesma forma, gostar de ganhar um bom salário em uma determinada classe e achar necessário que a classe mais baixa continue mal paga, se encaixa mais em um ambiente onde grandes grupos são protegidos pelo governo. Isso ocorre frequentemente quando grupos fazem lobby com o governo por novas regulações que possam afastar novos concorrentes e dificultar ao máximo a sua entrada. Essas são as políticas que sabotam o funcionamento do capitalismo. A consequência inevitável será preços elevados e produtos de baixa qualidade. O liberalismo passa a ser taxado de Neoliberalismo concentrador de renda.

O verdadeiro colonizado é aquele cuja visão míope é incapaz de enxergar que o poder do Estado, que mais cresce ao passar do tempo, tem como objetivo fortalecer o próprio Estado, aumentar o próprio salário da máquina pública, favorecer os grandes empresários com obras públicas superfaturadas e o que resta decidem distribuir pequenos agrados à classe mais pobre. Quando o dinheiro não é suficiente, ou seja, quando há déficit orçamentário, muitos burocratas optam por manipular a taxa de juros, aumentar o endividamento e a base monetária. Congelar preços e aumentar salários faz parte da receita para controlar inflação e manter o poder de compra. O problema não é atacado na raiz, que é a estabilidade da oferta monetária, este sim o grande responsável pela inflação contínua de preços. A consequência inevitável será escassez, inflação e carestia.

O pobre de esquerda é aquele que contenta com poucos agrados, mas não vê à distribuição de renda feita aos lobistas, que é bem mais expressiva. É aquele que forma opinião através dos intelectuais sempre ligados ao Estado. É aquele que não consegue diferenciar dinheiro e capital, da mesma forma que acha que a solução é tirar de uns para dar a outros.

O verdadeiro colonizado é adepto à teoria marxista da mais valia, prega tributação de grandes fortunas, mas ignora a crescente dívida estatal, que asfixia o setor produtivo em nome de um Estado gigantesco e ineficiente.

O verdadeiro colonizado é aquele que não enxerga que a riqueza nasce da liberdade e se multiplica com a oportunidade de criar o que a sociedade precisará demandar. Liberdade é tão maior quanto menor for a intromissão do governo.

 

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