Sandy: um furacão seguido de controle de preços – um desastre criado pelo homem

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HAZLET TOWNSHIP, NJ - NOVEMBER 01: A man fills up jerry cans with gasoline as others wait in line on November 1, 2012 in Hazlet township, New Jersey. United States. Superstorm Sandy, which has left millions without power or water, continues to effect business and daily life throughout much of the eastern seaboard. Andrew Burton/Getty Images/AFP

O furacão Sandy, que atingiu uma parte do nordeste dos EUA há pouco mais de uma semana, provocou o fechamento de inúmeros postos de gasolina na cidade de Nova York e no seu entorno, causou enormes estragos em estações petrolíferas, e afetou severamente a capacidade de barcaças carregando suprimentos de combustível chegarem às docas.  Todos estes fenômenos representaram uma substancial redução na oferta de gasolina e de outros produtos à base de petróleo na região metropolitana de Nova York.  Mas nenhum destes fenômenos foi a causa da atual escassez de gasolina, escassez esta que o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, decidiu aliviar recorrendo à “brilhante” ideia de impor um sistema de racionamento de gasolina. (Ver aqui, aqui, aqui e aqui).

Em um livre mercado, quando um determinado bem se torna mais escasso, o efeito que isso gera não é um racionamento do mesmo, mas sim um aumento em seu preço.  O aumento no preço serve para reduzir a quantidade que os compradores intencionam comprar deste bem até um nível que esteja dentro do limite da reduzida oferta disponível.  Por maior que tenha sido a redução na oferta de petróleo e de seus derivados causada pelo furacão, certamente tal redução não chegou nem remotamente perto do grau normal de escassez da oferta de coisas como ouro ou diamantes.  E, no entanto, não há nenhuma falta de ouro ou de diamantes no mercado.  Qualquer indivíduo que estiver disposto a pagar o preço de mercado destes bens não terá dificuldade alguma em obtê-los.  Porém, se burocratas estatais — inspirados talvez pela crença igualitária de que todo mundo deveria poder adquirir ouro e diamantes a um preço acessível — decretassem que o preço do ouro e do diamante deveria ser reduzido em, digamos, 50%, então de fato haveria falta de ouro e diamante no mercado, assim como está havendo desabastecimento de gasolina em Nova York e em Nova Jersey.

Até mesmo bens dos quais existe apenas um único exemplar, como uma pintura de Rembrandt, não estão em estado de escassez.  Quando um bem desse tipo é colocado a leilão, seu preço aumenta a um nível tão alto quanto o necessário para reduzir o número de arrematadores a apenas um.  Em face deste alto preço, todos os outros licitantes desistem e saem do leilão.  Eles não permanecem na sala de leilão por horas a fio após o leilão, esperando para poder comprar a pintura; eles sabem que o preço final é muito alto para eles.  Agora imagine um leilão no qual o leiloeiro fosse proibido de elevar progressivamente o preço até fazer com que houvesse apenas um comprador.  Imagine que ele fosse obrigado a parar no primeiro ou no segundo lance.  Neste caso, a sala de leilão permaneceria lotada indefinidamente.

O que tudo isso sugere é que todo o desabastecimento de gasolina que está ocorrendo agora na região metropolitana de Nova York e em todos os outros locais que estavam no rastro da destruição deixada pelo Furacão Sandy era totalmente evitável.  Com efeito, o desabastecimento pode desaparecer rapidamente, em questão de horas.  Bastaria apenas o governo revogar a ameaça de processo criminal contra os proprietários de postos de gasolina — bem contra todos os outros empreendedores que trabalham na cadeia de suprimento de gasolina — que aumentarem seus preços até um nível que reduza a quantidade de gasolina demandada, de modo que a demanda se ajuste à reduzida oferta disponível.

Tendo de lidar com preços maiores — possivelmente tão altos quanto US$10 ou US$20 por galão [atualmente está em torno de US$4], ou até mesmo maiores do que isso, dada a aparente amplitude da redução na oferta de gasolina —, muitos dos motoristas que hoje passam horas nas filas dos postos de gasolina iriam simplesmente desistir de utilizar seus carros e passariam a buscar arranjos alternativos de transporte, seja o compartilhamento de carros, a utilização de bicicletas ou qualquer outro arranjo.  Praticamente todos iriam restringir suas viagens automotivas em proporção ao maior custo do uso do automóvel.  Só iriam a um posto de gasolinas aqueles que estivessem genuinamente dispostos a pagar preços muito altos pelo combustível.  (Atualmente, há relatos de pessoas aposentadas enchendo seus tanques com o único propósito de “mantê-lo cheio para emergências” enquanto médicos e ambulâncias não conseguem gasolina para se locomover e salvar vidas.)

As pessoas que precisassem de gasolina para propósitos urgentes, como ir trabalhar, mas que não pudessem pagar preços severamente altos, não estariam tão ruins quanto aquelas que precisam de gasolina para ir trabalhar mas que simplesmente não conseguem adquiri-la, ou só a adquirem após esperarem na fila por três horas.  Tais pessoas poderiam compartilhar o mesmo carro e dividir entre si o alto preço da gasolina.  Quanto maior o número de pessoas no mesmo carro, menor o preço individual.  Os ambientalistas, que adorariam que tal arranjo se tornasse rotina, deveriam abraçar essa chance de ver seu sonho finalmente se tornando realidade, mesmo que apenas temporariamente.

O que causou o desabastecimento e o que impede que o desabastecimento seja contornado da maneira sugerida acima é o fato de que o necessário aumento nos preços é ilegal.  É contra a lei.  De acordo cominformações divulgadas pela Bloomberg no dia 9 de novembro de 2012, “A legislação de Nova Jersey define extorsão como sendo um ‘aumento excessivo de preço’, de 10% ou mais, durante um declarado estado de emergência.”  O mesmo artigo também relata que “a legislação de Nova York proíbe a venda de bens ou serviços por um ‘preço inescrupulosamente excessivo’ durante um ‘distúrbio anormal do mercado.'”

Portanto, foram as legislações estaduais que impossibilitaram o mercado de imediatamente pôr um fim ao desabastecimento.  Foram estas leis estaduais que permitiram o surgimento da escassez ao proibirem o imediato aumento de preços, aumento esse que teria evitado o desabastecimento.  E são estas leis estaduais que estão fazendo com que a escassez persista e seja prolongada.

Essas mesmas leis estaduais estão impossibilitando que o mercado rapidamente restaure os suprimentos de volta ao seu nível normal, algo que faria com que os preços, após terem subido muito, rapidamente voltassem aos seus níveis normais.

Se os preços pudessem de fato subir para níveis “inescrupulosamente excessivos”, isso permitiria que suprimentos vitais, cujo transporte é muito custoso, pudessem ser trazidos para as regiões afetadas — por exemplo, gasolina poderia agora ser trazida de refinarias mais distantes.  A preços de US$10 a US$20 por galão, seria lucrativo para que caminhões-tanque trouxessem gasolina de locais que estão a centenas de quilômetros de distância das regiões afetadas.  Isso faria com que as perdas de suprimento causadas pelo furacão deixassem de ser localizadas em uma única região e se tornassem dispersas por uma área mais vasta, levando a uma correspondente redução na severidade das perdas sofridas na área por onde passou o furacão.

O preço da gasolina aumentaria nas áreas de onde os suprimentos adicionais de gasolina estivessem saindo.  E este aumento nos preços, por sua vez, tornaria lucrativo o envio de suprimentos oriundos de regiões ainda mais distantes destas áreas.  Assim, por exemplo, enquanto as refinarias em Pittsburgh e Cleveland estivessem enviando suprimentos para Nova York e Nova Jersey, outras refinarias em Chicago e Detroit estariam enviando suprimentos para reabastecer Cleveland e Pittsburgh.  O efeito seria o de que as perdas de suprimento de gasolina na região metropolitana de Nova York e no litoral de Nova Jersey seriam agora dispersas por grande parte dos EUA, o que resultaria em uma substancial redução no percentual de perdas nas áreas de Nova York e Nova Jersey.  Em vez de estas áreas sofrerem os efeitos de uma redução de 50 ou 75% em sua oferta, uma área muito mais extensa dos EUA sofreria os efeitos de uma redução de talvez 5 ou 10% em seus suprimentos.  O aumento ocorrido no preço da gasolina iria rapidamente ser revertido em consequência desta grande redução na porcentagem de perdas de suprimento.

O aumento “inescrupuloso” no preço da gasolina no varejo tornaria possível para os postos de gasolina pagar preços maiores para que seus distribuidores e atacadistas trouxessem gasolina de refinarias em locais mais distantes.  Tal aumento iria também cobrir os altos custos das obras de reparações e consertos rápidos, obras essas feitas por empresas que utilizam equipes que trabalham 24 horas, as quais cobram preços maiores para executar seu trabalho em um espaço de tempo menor.  Assim, na ausência de controles de preços, em muito pouco tempo, as refinarias, as estações petrolíferas e as docas das regiões de Nova York e Nova Jersey seriam consertadas, e os postos de gasolina que hoje estão fechados seriam reabertos.  Isso restauraria por completo toda a cadeia de suprimentos, fazendo com que o sistema de distribuição de gasolina voltasse ao normal.  Tudo isso faria com que os preços da gasolina rapidamente voltassem aos seus níveis pré-furacão.

Nada disso pode ocorrer hoje simplesmente porque os burocratas do governo são completamente ignorantes a respeito das leis da economia.  Eles creem que preços não têm conexão alguma com a realidade do mercado, e podem ser controlados por eles sem gerar absolutamente nenhum efeito colateral.  Eles acreditam piamente que o único efeito do controle de preços é o de tornar a oferta menos cara.  Sim, a oferta será menos cara — mas não haverá oferta.  Pessoas passarão infindáveis horas nas filas dos postos de gasolina, dia após dia, tentando obter algo que não existe.  Sob qual aspecto tal arranjo é mais sensato do que o de permitir que os preços sejam “inescrupulosamente” altos, durante um período de tempo muito curto, de modo a fazer com que o problema seja rapidamente resolvido?

A imprensa é tão culpada quanto os burocratas estatais.  Com raras exceções, os repórteres são tão ignorantes das leis econômicas quanto os políticos.  Ambos são completamente desqualificados para suas funções.  Eles simplesmente não têm a mínima ideia do que estão fazendo.

Mas a responsabilidade suprema, é claro, é do público em geral e dos educadores que fracassaram em fornecer às pessoas até mesmo o mais rudimentar conhecimento das leis econômicas.

Em uma sociedade na qual as leis econômicas fossem amplamente entendidas, legisladores e juízes que tentassem impedir aumentos de preços em situações de emergência seriam considerados inimigos públicos e afastados imediatamente de seus cargos.  E eles seriam afastados não por uma mera falta de apoio popular, mas sim por uma falta de apoio manifestada no mais completo desprezo e escárnio do público por sua ignorância econômica e desejo de destruição e miséria.

Nova York e Nova Jersey estão em situação de emergência.  É intolerável que sua população tenha de sofrer os efeitos de uma legislação desastrosa que intensifica um desastre natural e desnecessariamente prolonga e amplia os efeitos desse desastre natural.

 

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