Sobre a imoralidade e a ilegalidade das colônias israelenses

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Quando mostra o terrível problema do terrorismo executado por palestinos contra cidadãos israelenses, a mídia corporativa mainstream ocidental nunca expõe as razões e os motivos que estão por trás destas atrocidades. Com muita frequência, o que os grandes veículos de imprensa fazem concernente à qualquer questão envolvendo o conflito entre Israel e Palestina é colocar Israel sempre na posição de pobre vítima inculpe, e retratar os palestinos como pessoas inerentemente perversas e sórdidas, que diariamente saem de suas casas comprometidas unicamente em fazer o mal. Portanto, todo e qualquer nível de controle que se impõe a estas pessoas é necessário, por razões de segurança.

Esta, no entanto, é uma visão excepcionalmente simplória da situação. É muito fácil perceber que existe uma narrativa pré-estabelecida nesse contexto, que os grandes veículos de imprensa seguem de forma inflexível, raramente se mostrando dispostos a questioná-la. Cabe aos sensatos, portanto, ir atrás dos fatos, para verificar a realidade que fomenta o conflito.

Quando analisamos a questão com profundidade, uma coisa fica muito nítida: a violência executada por palestinos radicais contra cidadãos israelenses, além de ser motivada pelo desespero, não é a causa principal do problema, mas a sua consequência. A violência perpetrada por palestinos não é a doença, mas antes o sintoma natural de uma terrível condição política. E, ao contrário do que a mídia mainstream difunde, não se trata de violência gratuita. É, antes de tudo, uma violência reativa, executada em decorrência das políticas ostensivamente tirânicas e arbitrárias do governo israelense sobre os palestinos.

Obviamente, atentados terroristas — especialmente aqueles praticados contra civis inocentes — são e sempre serão um crime. Mas quando analisamos as políticas israelenses praticadas contra os palestinos, fica muito mais fácil entender porque atentados terroristas sempre foram recorrentes em Israel. E, acima de tudo, é fácil perceber porque eles acontecem, poque continuam acontecendo, e porque muito provavelmente continuarão a acontecer.

Mas vamos analisar melhor esse assunto.

Desde a Guerra dos Seis Dias, de 1967, Israel passou a controlar os Territórios Palestinos. Esses territórios incluem a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Israel também controla as Colinas do Golã, que tecnicamente são território sírio. E o que Israel faz em grande escala contra os palestinos (e também contra os sírios, embora em uma escala proporcionalmente menor) é algo excepcionalmente preocupante. Mais preocupante ainda, no entanto, é o fato da grande maioria das pessoas, dos líderes políticos mundiais e da mídia corporativa de massa persistir em ignorar deliberadamente a raiz do problema: as injustas e implacáveis políticas do governo de Israel e a contínua colonização israelense dos territórios palestinos.

O problema é particularmente terrível em Jerusalém Oriental, onde palestinos tem suas residências continuamente confiscadas, para dar moradia a colonos judeus que muitas vezes vem de fora do país. Com a deflagração da controvérsia em Sheikh Jarrah — bairro de Jerusalém Oriental que é o epicentro de uma terrível disputa jurídica de imóveis, propriedades e terrenos entre palestinos, israelenses e o governo de Israel —, os árabes perceberam que terão que lutar muito pelo seu direito de permanecer em Jerusalém.

Infelizmente, como muitos palestinos podem ser expulsos de suas residências por decretos arbitrários, totalmente unilaterais, de um governo extremamente parcial — que tende a beneficiar em demasia um dos lados —, os árabes de Jerusalém veem sua liberdade, seus direitos de residência e sua permanência na cidade como estando permanentemente ameaçados.

Um caso em particular ganhou considerável repercussão internacional há aproximadamente dois anos, tendo ocorrido justamente no bairro residencial de Sheikh Jarrah. Um judeu natural de Nova Iorque, chamado Yakov Fauci, recebeu autorização do governo local para ocupar a residência de uma mulher palestina. Então, ela gravou um vídeo, no qual ela diz explicitamente que o que ele está fazendo é roubo de propriedade. No vídeo abaixo, você pode ver a mulher dizendo “Você está roubando a minha casa”. Ao que o judeu nova-iorquino responde: “Se eu não roubar, uma outra pessoa roubará”.

Atualmente, inúmeros palestinos residentes de Jerusalém Oriental lutam arduamente nos tribunais pelo direito de permanecer em suas residências. Quando organizam protestos pacíficos, muitas vezes os manifestantes acabam sendo vítimas de violência e brutalidade policial. Como é fácil constatar, os palestinos não possuem nem mesmo os seus direitos básicos respeitados. Imagine viver em um país onde o governo tem o “direito” de expulsá-lo de sua própria casa, porque você não pertence à raça, etnia ou cultura privilegiada pelo governo. Agora me diga, com toda a sinceridade, que você não ficaria ostensivamente indignado com uma situação dessas.

Mas isso não é tudo. Jerusalém Oriental tem sido palco de uma crescente onda de violência contra os palestinos. Infelizmente, nem mesmo crianças e adolescentes escapam da mortandade. No mês de março, um soldado israelense matou um menino de doze anos, Rami al-Halouli, em um campo de refugiados em Jerusalém Oriental, simplesmente porque ele estava brincando com fogos de artifício com os seus amigos.

Itamar Ben-Gvir, Ministro da Segurança de Israel, afirmou que o menino de doze anos era um “terrorista de doze anos”, e que o soldado que o matou merecia ser condecorado. Exatamente nesse mesmo dia, outros cinco palestinos foram mortos pelas forças de segurança israelenses.

Infelizmente, ainda que a situação em Jerusalém Oriental seja extremamente preocupante, a situação é muito pior na Cisjordânia — o maior dos Territórios Palestinos.

A Cisjordânia é fragmentada em áreas não contíguas, classificadas em três zonas distintas: Área A, área B e área C. A área A é onde a Autoridade Palestina exerce uma suposta soberania, ali usufruindo de um amplo nível de controle. Esta é uma área onde, tecnicamente, os israelenses estão proibidos de entrar (mas muitos entram mesmo assim). Na área B, há uma divisão política administrativa. Enquanto a Autoridade Palestina exerce controle sobre assuntos civis, Israel tem total controle militar. A área C — a maior delas, que abrange aproximadamente 60% do território — está sob total controle do exército israelense. Não obstante, o exército israelense está presente (em graus variados) em todas as três áreas.

Na Cisjordânia, é abundante o número de colônias israelenses (localizadas majoritariamente na área C). Existem colônias de todos os tipos e tamanhos, de condomínios residenciais de luxo a famílias isoladas que vivem modestamente. Nem todas as colônias são consideradas legais pelo governo israelense. Geralmente, as mais precárias e irregulares são demolidas por ordens do governo de Israel.

Não obstante, o número de colônias judaicas na Cisjordânia é tão grande, que isso inviabiliza completamente o estabelecimento de um estado palestino livre, autônomo e independente. E parece que o estabelecimento de colônias e assentamentos judaicos é realizado justamente com esse propósito. Daniela Weiss, uma ativista sionista radical responsável por estimular a criação de colônias israelenses na Cisjordânia, falou em uma entrevista que concedeu ao New Yorker, em novembro do ano passado:

            “O mundo, especialmente os Estados Unidos, pensa que existe a opção para a criação de um Estado Palestino (…) se continuarmos a construir comunidades, bloquearemos a opção para a criação de um Estado Palestino. Queremos acabar com a opção de um Estado Palestino e o mundo quer deixar a opção em aberto. É uma coisa muito simples de entender.”

Na prática, a Cisjordândia é um protetorado israelense, onde os palestinos — na melhor e mais promissora das hipóteses — são tolerados. Com inúmeros postos de controle, pontos de verificação, muros de separação e a divisão do território em uma vasta proliferação de áreas não contíguas (categorizadas em A, B e C, como já citado), a Cisjordânia é um verdadeiro labirinto. A configuração da região em uma vasta profusão de divisões, classificadas como zonas políticas e administrativas distintas, acabou por criar um arquipélago de “ilhas”, que teve o efeito de fazer com que os palestinos acabassem vivendo isolados em enclaves dentro do seu próprio território, o que acabou restringindo severamente a liberdade de movimento de todos eles. Adicionalmente, há muita construção de infraestrutura em andamento, como pontes e rodovias exclusivas para colonos e cidadãos israelenses.

No total, a Cisjordânia tem mais de meio milhão de colonos israelenses. E isso gera inúmeros problemas. Nem todos os colonos respeitam a propriedade privada dos palestinos. Muitas colônias em expansão vão construindo novas habitações, e acabam invadindo terreno particular de palestinos, sem nenhuma consideração pelos mesmos. Quando determinadas colônias se tornam muito grandes, acabam monopolizando determinadas ruas, estradas e avenidas, consequentemente proibindo — muitas vezes de forma agressiva — o trânsito de palestinos nestas vias.

Muitos colonos israelenses são agressivos, beligerantes e frequentemente atacam palestinos e vandalizam as suas propriedades, com a clara intenção de expulsá-los da região. Infelizmente, esses colonos agem sob a proteção do exército israelense. Soldados israelenses tem ordens de jamais agir contra um colono israelense, mesmo quando ele é agressivo e violento com palestinos. Soldados israelenses devem estar sempre dispostos a agir para proteger os colonos, e isso inclui proteger até mesmo aqueles que são agressivos e tem conduta deplorável.

A violência praticada por colonos israelenses contra palestinos, infelizmente, é recorrente na Cisjordânia. Não se trata de um simples problema crônico. Há muito tempo ela foi normalizada e é considerada ocorrência rotineira. Palestinos são agredidos, suas propriedades são vandalizadas, e colonos inconsequentes — que muitas vezes estão armados — constroem extensões de assentamentos ilegais em seus terrenos. Em muitas áreas, agressões contra residentes palestinos, seguidas de morte, tornaram-se ocorrências relativamente comuns.

Os colonos israelenses, em grande medida, se comportam como se fossem os donos e proprietários legítimos de todo o território. Muitos acreditam possuir um “direito divino” de estar ali. E os palestinos são simplesmente intrusos, que devem ser expulsos pelos meios que forem necessários. Colonos israelenses de mentalidade religiosa frequentemente se referem a Cisjordânia pelo seu nome bíblico — Judeia e Samaria.

No documentário acima, por volta dos cinquenta e quatro minutos, um colono judeu dá um depoimento muito interessante. Ele diz:

      “De fato, os árabes estão certos. O sionismo é o agressor. O ressurgimento do povo judeu na Terra de Israel é uma invasão ao espaço árabe-muçulmano. É o medo desta invasão que conduz a dinâmica aqui. Como as guerras começam? É porque eles temem que continuemos nos expandindo. (…) Eles nos forçam a capturar território que nós nunca planejamos ocupar. Em 1947, nós estávamos satisfeitos com metade do território. Nós ficamos com as fronteiras de 1948 e estávamos satisfeitos com elas. Os árabes começaram uma guerra, então ficamos com as fronteiras de 1967. Nós deixamos Gaza, mas eles ficam constantemente nos puxando de volta para lá (…) Eles criam a expansão israelense por sua própria resistência.”

É fato incontestável que o projeto sionista de ocupação e colonização da Cisjordânia não tem a menor consideração pela população nativa do território. Os colonos vão simplesmente ocupando áreas e terrenos como se estes estivessem vazios e não fossem propriedade de ninguém. Um comportamento tão leviano e displicente torna inevitáveis os conflitos com a população árabe do território.

Politicamente, tudo fica muito pior, pelo fato dos palestinos terem seus direitos constantemente negligenciados e suas reivindicações completamente ignoradas. Todo este processo progressivo de cantonização e bantustanização da Cisjordânia tem esmagado os palestinos, relegando-os à áreas e territórios cada vez menores. Isso é feito sem a menor consideração por essas pessoas, por suas propriedades particulares, por seus terrenos, por suas residências e pelo direito intrínseco à liberdade de movimento de cada uma delas. Uma situação tão deplorável, evidentemente, vai gerar atos de agressão e violência por parte de palestinos desesperados com sua condição.

Sem dúvida nenhuma, é fácil constatar que os palestinos são vítimas de políticas tirânicas e opressivas, que são consequência de um feroz e implacável etnonacionalismo supremacista judaico, de caráter expansionista, que foi cultural e socialmente institucionalizado. Achar que um povo cruelmente oprimido não irá reagir a opressão da qual é vítima é ser demasiadamente ignorante com relação à natureza humana.

Nunca na história um povo oprimido não tentou reagir contra os seus algozes. É necessário entender que só é possível oprimir as pessoas até determinado ponto. Eventualmente, as vítimas da opressão acabam ficando saturadas; e as mais ressentidas irão extravasar todo o seu ressentimento, geralmente de forma bem agressiva. Até mesmo os judeus poloneses se levantaram contra os carrascos nazistas, no corajoso Levante do Gueto de Varsóvia, de 1943. Judeus aguerridos, valentes e determinados resistiram aos nazistas por mais de um mês. Ainda que tenham sido derrotados, resistiram até esgotar a última fibra de coragem.

Ao analisarmos as deploráveis políticas das quais os palestinos são vítimas — como o racismo institucionalizado, o vandalismo e a demolição de propriedades, o confisco e a invasão de terrenos, a restrição à liberdade de movimento, a contínua marginalização territorial e política e as detenções arbitrárias —, fica muito fácil perceber o que efetivamente motiva os atentados terroristas. Eles são uma reação à opressão e a injustiça sistêmicas. E a injustiça sempre serviu como catalisador do desespero e do ressentimento. E desespero e ressentimento combinados frequentemente produzem uma reação violenta.

Obviamente, não é o propósito deste artigo justificar atos de terrorismo. Mas mostrar as causas, as origens e as condições responsáveis por deflagrar a violência cometida pelos palestinos contra os israelenses. Muitos jornalistas da mídia corporativa mainstream e fanáticos ativistas pró-Israel se acostumaram a demonizar os palestinos, se contentando em dizer que eles fazem o que fazem porque são criaturas perversas e malignas. Mas o que essas pessoas nos passam é uma visão simplória do conflito: Israel está sempre certo e nunca faz nada de errado (portanto é uma pobre vítima inocente). Os palestinos, no entanto, são a epítome do mal. Tratam-se de pessoas cruéis e agressivas que, impulsionadas por um ódio cego, ficaram obcecadas em matar cidadãos israelenses.

Isso, no entanto, não passa de um grosseiro e falacioso reducionismo, saturado de motivações ideológicas, que é incapaz de explicar honestamente as causas da violência.

Como este artigo apontou, a violência dos palestinos não é gratuita; ela é fundamentalmente reativa. Uma investigação honesta da situação mostra que a violência praticada pelos palestinos é, antes de tudo, a reação desesperada de um problema maior, que não é oficialmente debatido, discutido ou sequer exposto, mas é constantemente varrido para debaixo do tapete, como se não existisse.

A situação que os palestinos enfrentam — sendo arduamente oprimidos pela ocupação permanente de um poder estrangeiro — explica perfeitamente o incessante ciclo de violência que aflige Israel e os territórios ocupados.

Os palestinos formam uma massa de pessoas que foram destituídas de seus direitos fundamentais e são tratadas como insetos e micróbios pelo governo de Israel, pelos colonos israelenses e também pela comunidade internacional. Eles são como pragas a serem contidas e exterminadas, e o exército israelense é o pesticida cuja incumbência é lidar com a pestilência.

Ora, é obvio que o que os palestinos enfrentam é uma condição crônica de opressão e tirania. E é irrealista demais acreditar que pessoas em uma condição tão degradante não irão reagir. E pessoas sem nada a perder são frequentemente compelidas a cometer atos de extrema violência (que serão proporcionais ao desespero que as motiva).

A verdade inconveniente que emerge dessa análise (e muitos preferem ignorar) mostra que as políticas israelenses executadas contra os palestinos são diretamente responsáveis pela condição de insegurança que afeta a região. São essas políticas deploráveis — que institucionalizaram um padrão circular de injustiças institucionalizadas — que motivam atos de agressão, violência e atentados terroristas por parte dos palestinos.

Tão importante quanto abordar o problema do terrorismo, é analisar as suas causas. Afinal, analisando as causas, descobrimos o que realmente provoca o problema. Descobrindo o que provoca o problema, chegamos aos possíveis culpados. Chegando aos possíveis culpados, podemos fazer um diagnóstico preciso. E ao fazer um diagnóstico preciso, é possível conceber uma solução. É impossível acabar com o terrorismo se suas principais causas não forem devidamente analisadas, expostas, submetidas a um minucioso escrutínio e apropriadamente combatidas.

Não adianta absolutamente nada tentar explicar o problema, reduzindo-o à uma conveniente desmoralização dos palestinos e fornecendo explicações genéricas para o terrorismo. É necessário reconhecer que Israel é o causador de um enorme problema, e que os palestinos possuem demandas territoriais e de soberania que são legítimas.

Infelizmente, isso é uma coisa que a mídia corporativa mainstream se nega categoricamente a fazer. Afinal, é muito mais fácil simplesmente retratar os palestinos como criaturas bestiais e animalescas, que praticam atos recorrentes de violência motivados unicamente por hostilidade gratuita, sem causa, razão ou motivo. A mídia mainstream ocidental parece possuir um medo grotesco de manchar a reputação de Israel.

A mais relevante das verdades desagradáveis que a mídia se recusa a expor é a da responsabilidade direta de Israel na situação. Afinal, ao atuar como o agente causador de políticas injustas aplicadas contra os palestinos, o governo israelense acaba criando as circunstâncias que fomentam o terrorismo. Que nada mais é do que uma reação criminosa contra a injustiça, que vem a ser consequência de um problema que as autoridades políticas de Israel se recusam a debater, resolver ou mesmo reconhecer que existe.

Adicionalmente, é fundamental enfatizar que os integrantes do governo israelense que estimulam e promovem as políticas ilegais de ocupação e colonização (e negligenciam os problemas causados por elas), como Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir — eles próprios colonos residentes na Cisjordânia — estão traindo abertamente o povo ao qual deveriam servir.

São esses indivíduos que contribuem para perpetuar uma condição política e social que dissemina a insegurança doméstica e fomenta indiretamente as condições para futuros atentados, que matarão pessoas inocentes. São essas deploráveis políticas que contribuem para fazer de Israel o lugar mais perigoso do mundo para os judeus. Quer mandar judeus para a morte? Mande-os para Israel. É mais provável que eles sejam assassinados lá, do que em qualquer outro lugar do mundo. Como o rabino Elhanan Beck declarou, “o estado de Israel é o lugar mais perigoso do mundo para o povo judeu.”

Dito isso, a verdade é que é muito fácil culpar palestinos radicais, que — motivados pela aflição e pelo ressentimento — cometem atrocidades contra cidadãos israelenses. Analisar as causas que agem como a força propulsora dessa violência, no entanto, é algo que a maioria das pessoas se recusa a fazer. Infelizmente, além da cegueira ideológica, existe outra razão bem específica para isso.

Muitas pessoas que perceberam o sistema injusto de tirania e opressão que foi institucionalizado sobre os palestinos decidem permanecer em silêncio porque, atualmente, qualquer crítica dirigida contra a sociedade ou contra o governo israelense é suficiente para fazer uma pessoa ser acusada de antissemitismo. Na sociedade israelense contemporânea, isso pode significar perda do emprego, processo judicial e até mesmo pena de prisão. Se você decidir contestar ou criticar publicamente o estado de Israel, vai sofrer algum tipo de intimidação e retaliação.

Para citar um exemplo dessa situação, no final do ano passado, o professor israelense Meir Baruchin foi despedido da escola onde dava aulas, por compartilhar histórias de palestinos em suas redes sociais. Posteriormente, o Ministério da Educação suspendeu sua licença para lecionar. Na sequência, a polícia de Jerusalém o intimou a prestar depoimento. Pouco tempo depois, ele foi acusado de dois crimes: Intenção de cometer atos de traição contra o estado de Israel e intenção de perturbar a ordem pública.

Como é possível constatar através de uma ocorrência dessa natureza, lutar contra o supremacismo judaico não será, de maneira alguma, das tarefas mais fáceis de se realizar. Combater o despotismo sionista é algo que definitivamente exige um elevado nível de coragem e determinação. Felizmente, existe um coro significativo de judeus (tanto religiosos quanto seculares) que protestam em favor dos palestinos, e que se torna maior a cada dia que passa.

Infelizmente, como as últimas décadas nos mostraram, esse é um problema cuja resolução será de difícil aplicação. Israel usufrui de apoio incondicional dos Estados Unidos, de um lobby excepcionalmente poderoso, e de uma massa de nacionalistas, entusiastas e ativistas ideológicos, que não estão nem um pouco interessados em reconhecer as reivindicações dos palestinos, tampouco considerá-los como as oprimidas vítimas de um padrão cíclico de injustiças sistêmicas. De fato, se o fizessem, essas pessoas seriam obrigadas a reconhecer os crimes perpetrados de forma contínua pelo estado de Israel. E então elas seriam forçadas a rever suas crenças, convicções pessoais e posições ideológicas. Algo que certamente a maioria delas não está disposta a fazer.

Muito provavelmente, todos os crimes e todas as transgressões descritas neste artigo, cometidas pelo governo de Israel e por colonos israelenses contra os palestinos, irão se prolongar por muito tempo. Os sionistas têm poder suficiente para manter o status quo e preservá-lo a seu favor. O fato de que esta situação se prolonga há décadas é prova irrefutável disso.

Certamente, o processo de ocupação da Cisjordânia não apenas irá continuar, como muito provavelmente irá se expandir. Há algumas semanas, um escândalo veio à tona, quando foi descoberto que inúmeras sinagogas nos Estados Unidos e no Canadá estavam realizando eventos de vendas de imóveis na Cisjordânia, exclusivos para judeus.

Felizmente, alguns bravos judeus protestaram energicamente contra isso, e ainda aproveitaram a oportunidade para falar sobre o genocídio na Faixa de Gaza. Não obstante, a conscientização sobre a condição dos palestinos precisa de muito mais exposição e discussão. E isso muito depende da coragem de judeus antissionistas, que muitas vezes acabam sendo marginalizados por sua própria comunidade, por se manifestarem contra a tirania da ocupação israelense.

Evidentemente, a descrição que fiz das terríveis injustiças que acometem os palestinos é apenas um breve resumo dos tormentos e aflições severas que milhares deles tem de enfrentar diariamente, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental (a situação na Faixa de Gaza é um caso à parte, e merece artigo exclusivo).

Décadas de colonização e ocupação ilegal institucionalizaram um sistema arbitrário de injustiças sistemáticas, que está blindado por uma forte estrutura política, de natureza vertical e autocrática. De maneira que alterar a presente situação é bastante difícil. Em virtude dessas circunstâncias tão desfavoráveis, é fácil perceber que as perspectivas futuras para os palestinos não parecem promissoras. Mas e quando foram? Como sempre, eles terão que enfrentar o futuro com a mesma coragem, resignação e resiliência que demonstraram ao longo das últimas décadas.

Os palestinos são, possivelmente, o povo mais injustiçado, marginalizado e oprimido da história contemporânea recente. Infelizmente, a distorção de narrativas promovida pela mídia corporativa mainstream — que inverte a posição de opressor e vítima — faz com que a opressão do governo israelense exercida sobre os palestinos não pareça tão óbvia e nem tão evidente.

Quando paramos para racionar, no entanto, certos fatos incomodam. Afinal, Israel é a potência política e militar regional. A Palestina, por outro lado, nem sequer é um país. Ao contrário de Israel, não possui força militar expressiva. Não tem real poder político nem grande influência na comunidade internacional. Desde quando o mais fraco consegue ser o opressor do mais forte? Por que os palestinos se empenhariam tanto em atacar um adversário que não podem vencer?

Talvez eles não queiram “vencer” os israelenses, mas reivindicar território perdido, direitos e dignidade. E talvez eles recorram à violência porque a situação política que lhes foi imposta pelo poder dominante sionista não lhes ofereça nenhuma outra alternativa. Aceitar a humilhação da submissão com passividade, no entanto, é condição que nenhum povo que tenha sido arbitrariamente subjugado consegue tolerar por muito tempo.

De fato, um estudo minucioso da condição dos palestinos mostra que o governo israelense não está nem m pouco preocupado com eles. Para piorar, as explicações genéricas e superficiais que a mídia convencional disponibiliza ao grande público comprometem um entendimento real e objetivo da situação.

A narrativa fabricada e ostensivamente repetida pela mídia corporativa de massa mostra uma brutal inversão de papéis — os palestinos foram transformados em vilões cruéis e a nação de Israel é sempre a pobre vítima inocente.

Como o ativista americano Malcom X certa vez declarou (se expressando justamente sobre a questão Israel-Palestina): “Se você não tomar cuidado, os jornais farão com que você odeie as pessoas que estão sendo oprimidas e ame as pessoas que praticam a opressão.”

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