Uma lição de história: comparando a Alemanha Oriental Socialista e a Alemanha Ocidental Capitalista

0
Tempo estimado de leitura: 6 minutos

Donald Trump é uma mistura incoerente de boas e más políticas.

Alguns de seus possíveis oponentes em 2020, ao contrário, são coerentes, mas loucos.

E a loucura econômica também existe em outras nações.

Em uma coluna para o New York Times, Jochen Bittner escreveu sobre como uma estrela em ascensão do Partido Social-Democrata da Alemanha quer o tipo de socialismo que fez da antiga Alemanha Oriental um fracasso econômico.

Socialismo, a ideia de que as necessidades dos trabalhadores são melhor atendidas pela coletivização dos meios de produção… Um sistema em que fábricas, bancos e até mesmo a habitação eram nacionalizados, requeria uma economia planejada, como um substituto para a competição capitalista. O planejamento central, no entanto, mostrou-se incapaz de atender às demandas individuais das pessoas… Eventualmente, todo o sistema entrou em colapso; como em qualquer outro lugar, o socialismo na Alemanha falhou. É por isso que é estranho, em 2019, ver o socialismo voltando à política mainstream alemã.

Mas essa evidência do mundo real não importa para alguns alemães.

Kevin Kühnert, o líder da organização juvenil dos socialdemocratas e um dos jovens talentos mais promissores de seu partido, fez do socialismo seu cartão de visita. Esqueça o pretenso socialismo dos democratas americanos como Bernie Sanders ou Alexandria Ocasio-Cortez. Kühnert, de 29 anos, tem como objetivo a coisa real. O socialismo, ele diz, significa controle democrático sobre a economia. Ele quer substituir o capitalismo… O neo-socialismo alemão é profundamente diferente do capitalismo. … O Sr. Kühnert teve como objetivo específico o sonho americano como modelo de realização individual. (…) Sem coletivização de uma forma ou de outra, é impensável superar o capitalismo”, ele nos disse.

Em outras palavras, ele quer um socialismo real (ou seja, propriedade do governo). E isso significa, presumivelmente, que ele também apoia o planejamento central e o controle de preços.

O que torna a visão de Kühnert tão absurda é que ele obviamente não sabe nada sobre a história de sua nação.

Apenas no caso de ele ler isso, vamos ver as evidências.

O livro de Jaap Sleifer, Planning Ahead and Falling Behind, aponta que a parte oriental da Alemanha era realmente mais rica do que a parte ocidental antes da Segunda Guerra Mundial.

A economia do país inteiro foi então destruída pela guerra.

O que aconteceu depois, no entanto, mostra a diferença entre o socialismo e a livre iniciativa.

Antes… do Terceiro Reich, a economia da Alemanha Oriental tinha… renda nacional per capita… 103% da Alemanha Ocidental, em comparação com meros 31% em 1991. … Eis o caso de uma economia relativamente rica, mas perdida em relativamente pouco tempo… Com base nas estatísticas oficiais sobre produtos nacionais, as taxas de crescimento da Alemanha Oriental foram muito impressionantes. No entanto, o desempenho real não foi tão impressionante assim.

Sleifer tem duas tabelas que valem a pena compartilhar.

Primeiro, ninguém deveria se surpreender ao descobrir que as autoridades comunistas divulgaram números imprestáveis que ostensivamente mostraram crescimento mais rápido.

O que é realmente deprimente é que tiveram vários americanos crédulos – incluindo alguns economistas – que acreditam cegamente nesses dados absurdos.

Em segundo lugar, gosto desta tabela porque confirma que o nazismo e o comunismo são muito semelhantes de uma perspectiva econômica.

No entanto, acho que devemos reconhecer o mérito dos alemães por fazerem um trabalho decente relativo a qualidade dos produtos sob as duas vertentes do socialismo.

Para aqueles que querem ler mais sobre o desempenho econômico da Alemanha Oriental, você pode encontrar outros artigos acadêmicos aqui, aqui e aqui.

Eu quero chamar atenção especial, porém, para uma coluna de um economista da Índia. Escrita em 1960, antes mesmo de haver um Muro de Berlim, ele comparou as duas metades da cidade.

Aqui está a situação na parte capitalista.

O contraste entre as duas Berlins não passa desapercebido nem por uma criança. Berlim Ocidental, apesar de ser uma ilha dentro da Alemanha Oriental, é parte integrante da economia da Alemanha Ocidental e compartilha da prosperidade desta última. A destruição pelo bombardeio foi imparcial para as duas partes da cidade. A reconstrução está praticamente concluída em Berlim Ocidental. … As principais avenidas de Berlim Ocidental estão praticamente congestionadas com carros modernos, a modelos alemães de carros, grandes e pequenos, estão muito em evidência. … As lojas de departamento em Berlim Ocidental estão cheias de roupas, outros itens pessoais e uma multiplicidade de equipamentos domésticos, exibidos de forma tentadora.

Aqui está o que ele viu na parte comunista.

… Em Berlim Oriental, boa parte da destruição ainda permanece; ferro retorcido, paredes quebradas e entulho amontoado são coisas bastante comuns. As novas estruturas, especialmente os cortiços pré-fabricados dos trabalhadores, têm aparência sombria. … Automóveis, geralmente carros velhos e pequenos, são em número muito menor que em Berlim Ocidental. … As lojas em Berlim Oriental expõem artigos baratos em caixas ou embalagens ordinárias e os preços de itens similares, apesar da má qualidade, são visivelmente mais altos do que em Berlim Ocidental. … Visitar Berlim Oriental dá a impressão de visitar um campo de prisioneiros.

As lições, ele explicou, deveriam ser bastante óbvias.

… o contraste das duas Berlins… a principal explicação está nos sistemas políticos divergentes. As pessoas sendo as mesmas, não há diferença de talento, habilidade tecnológica e aspirações dos moradores das duas partes da cidade. Em Berlim Ocidental, os esforços são espontâneos e autodirigidos por homens livres, sob a vontade progredir. Em Berlim Oriental o esforço é dirigido centralmente pelos planejadores comunistas … O contraste na prosperidade é uma prova convincente da superioridade das forças da liberdade sobre o planejamento centralizado.

Em 2011, eu compartilhei um vídeo destacando o papel de Ludwig Erhard na libertação da economia da Alemanha Ocidental. Dado o tópico de hoje, aqui vai a repetição da apresentação.

Samuel Gregg, em um artigo para a FEE, fala sobre as causas geradas pelo mercado para o milagre econômico alemão do pós-guerra.

Não foi apenas Ludwig Erhard.

Setenta anos atrás, neste mês, um pequeno grupo de economistas e juristas ajudou a promover o que é hoje amplamente conhecido como Wirtschaftswunder, o “milagre econômico alemão”. Mesmo entre muitos alemães, nomes como Walter Eucken, Wilhelm Röpke e Franz Böhm são desconhecidos hoje. Mas é em grande parte graças à incansável defesa feita por eles da liberalização do mercado em 1948 que a Alemanha Ocidental escapou de um abismo econômico … Foi um raro exemplo de intelectuais de livre mercado que desempenharam um papel decisivo na liberação de uma economia de décadas de políticas intervencionistas e coletivistas.

Como foi mencionado no vídeo, os ocupantes americanos não estavam do lado certo.

Na verdade, eles exacerbaram os problemas econômicos da Alemanha Ocidental.

… A reforma seria fácil: em 1945, poucos alemães eram receptivos ao livre mercado. O Partido Social-Democrata emergiu das catacumbas querendo mais planejamento econômico de cima para baixo, não menos. (…) O que mais complicou foi o fato de que as autoridades militares nas zonas ocupadas pelo ocidente na Alemanha, com muitos keynesianos em seu contingente, admiravam a política econômica do governo trabalhista de Clement Atlee na Grã-Bretanha. De fato, entre 1945 e 1947, os administradores aliados deixaram em grande parte a economia parcialmente coletivizada e voltada para o Estado, implantada pelos nazistas derrotados. Isso incluiu controles de preços, racionamento generalizado … O resultado foi a escassez generalizada de alimentos e o aumento dos níveis de desnutrição.

Mas pelo menos houve um final feliz.

As reformas de Erhard em junho de 1948 … a abolição dos controles de preços e a substituição do Reichsmark da era nazista por quantidades muito menores de uma nova moeda: o marco alemão. Essas medidas efetivamente acabaram com a inflação … Em seis meses, a produção industrial aumentou em incríveis 50%. A renda real começou a crescer.

E a Alemanha nunca olhou para trás. Ainda hoje, é uma nação razoavelmente baseada no mercado.

Vou encerrar com minha modesta contribuição para o debate. Com base em dados da OCDE, eis uma análise da produção econômica comparativa na Alemanha Oriental e na Alemanha Ocidental.

Você notará que eu adicionei algumas linhas pontilhadas para ilustrar que ambas as nações presumivelmente começaram no mesmo nível muito baixo depois que a Segunda Guerra Mundial terminou.

Também afirmo que a linha azul provavelmente exagera a produção econômica da Alemanha Oriental. Se você duvida dessa afirmação, confira esta história de 1990 do New York Times.

O resultado final é que as condições econômicas na Alemanha Ocidental e na Alemanha Oriental divergiram dramaticamente porque uma tinha uma boa política (a Alemanha Ocidental rotineiramente pontuou no top 10 da liberdade econômica entre 1950 e 1975) e uma sofria com o socialismo.

Esses números devem ser muito convincentes, uma vez que a teoria econômica tradicional defende que as rendas nos países devem convergir. No mundo real, no entanto, isso só acontece se os governos não criarem muitos obstáculos à prosperidade.

 

Artigo original aqui.

Tradução de Paulo Roberto Cavalcante Junior

Artigo anteriorLiberdade e propriedade: quando elas entram em conflito 
Próximo artigoA irrelevância da impossibilidade do anarco-libertarianismo
Daniel J. Mitchell
é um dos maior experts em assuntos de política tributária como reforma tributária e o impacto econômico dos gastos públicos. Mitchell já foi membro senior do The Cato Institute e da The Heritage Foundation, e foi o economista do senador Bob Packwood e da Senate Finance Committee. Foi articulista do Wall Street Journal, New York Times, Investor's Business Daily, e Washington Times. Aparece frequentemente em programas populares de rádio e tv e é um palestrante requisitado. Mitchell possui bacharelado e mestrado em economia pela Universidade da Georgia e Ph.D em economia pela George Mason University. Seu blog é o Liberty – Restraining Government in America and Around the World.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui