Uma viagem à Polônia comunista

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Em março, passei uma semana fascinante em uma conferência em um hotel em Mrogowo, na região dos lagos do norte da Polônia (antiga Prússia Oriental). A conferência, um amplo simpósio sobre “Economia e Mudança Social”, foi organizada pelo Instituto de Sociologia da Universidade de Varsóvia e patrocinada por um grupo de estudiosos ingleses conservadores e pró-mercado.

Embora economicamente, como observou um dos participantes ocidentais, a Polônia seja uma “favela gigante”, com campos, vilarejos e cidades em evidente e sombria decadência, esta nação galante é intelectualmente a mais livre do bloco oriental. Não há nenhum outro país na órbita soviética em que uma conferência desse tipo possa ser realizada.

A única restrição era que os títulos anunciados dos estudos deveriam ser ideologicamente neutros. Mas, uma vez que a conferência enfrentou esse desafio específico e a reunião foi aprovada pelas autoridades, qualquer um poderia – e pôde – dizer o que quisesse. (No meu caso, expurguei o título do meu artigo, “Concepts of the Role of Intellectuals in Social Change Towards Laissez-Faire”, ao omitir discretamente as últimas três palavras, embora o conteúdo real da palestra permanecesse o mesmo.)

O primeiro estudo da reunião foi apresentado pelo professor Antony Flew, um distinto filósofo inglês, que gosta de nada mais do que fazer – com inteligência e perspicácia – observações sobre a esquerda. Flew não fez rodeios, apontando a importância e a necessidade dos direitos de propriedade e do livre mercado. O fascinante foi que nenhuma sobrancelha polonesa foi levantada e nenhum estudioso polonês reagiu com horror. Pelo contrário. E foi extremamente inspirador ver cada um dos vinte e tantos estudiosos poloneses denunciando o governo, embora fosse óbvio para todos nós que havia um agente do governo ouvindo atentamente os procedimentos. (O agente – o guia turístico e diretor da viagem – era obviamente muito inteligente e ciente do que estava acontecendo.)

Os poloneses variavam de libertários a adeptos da terceira-via e marxistas dissidentes, mas era evidente que nenhum deles via qualquer utilidade no regime comunista. Além de se opor ao comunismo, nenhum dos estudiosos poloneses na reunião via muita utilidade em qualquer governo. Um deles me disse: “claro, qualquer ato de governo é feito para o poder e a riqueza dos membros do governo, e não para o ‘interesse público’, ‘bem comum’, ‘bem-estar geral’ ou qualquer outro motivo apresentado”.

“Sim”, eu disse, “mas a propaganda do governo sempre diz que eles fazem essas ações para o bem comum, etc.” O professor polonês olhou para mim com curiosidade: “Quem acredita na propaganda do governo?” Respondi que “infelizmente, nos Estados Unidos, a maioria das pessoas acredita na propaganda do governo”. Ele não conseguia acreditar nisso.

Todos os estudiosos poloneses sabiam inglês muito bem, uma virtude que infelizmente nós, ocidentais, não poderíamos retribuir. No entanto, uma verdadeira camaradagem se desenvolveu. Uma lacuna cultural divertida foram os garçons poloneses em nosso hotel (o que se passa por um “hotel de luxo” na Polônia é mais ou menos equivalente a um motel interestadual de baixo custo nos Estados Unidos) tendo que lidar com as “crianças” da conferência, dois jovens estudiosos ingleses que são estritos vegetarianos. A Polônia é uma terra com um consumo de carne per capita muito alto (os comunistas nunca coletivizaram a agricultura ali), mas onde a carne agora é racionada, e estava além da compreensão dos garçons poloneses que dois jovens ocidentais privilegiados continuariam pedindo “mais vegetais” enquanto recusam carne bovina e suína de primeira qualidade. Felizmente, sempre havia um professor polonês por perto que poderia servir de intérprete para esses pedidos bizarros.

O momento mais emocionante do encontro aconteceu no banquete da última noite, quando o sociólogo inglês que dirigiu a conferência, depois de agradecer aos nossos anfitriões polacos, levantou um copo e fez um brinde caloroso a “uma Polônia livre, soberana e católica.” Cada um de nós entendeu sua intenção, e todos naquela sala, protestantes e não religiosos incluídos, levantaram um copo e beberam com entusiasmo. Incluindo o agente do governo.

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