O antipolítico

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Untitled2O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

 

A citação acima reproduzida, do marxista Bertold Brecht, é a bandeira que tantos políticos e intelectuais orgânicos têm empunhado no Brasil das últimas décadas, para incentivar o povo à participação em movimentos reivindicacionistas.  Como antônimo à ignorância política, pretende o dramaturgo alemão conclamar o povo àquilo que eu generosamente aqui denominarei de “consciência política”. A “consciência política” consiste, portanto, em participação política, ou, em outros termos, a fazer com que o povo decida sobre todos os aspectos da vida por meios políticos, notadamente àqueles diretos, como o plebiscito e o referendo.  É assim que Brecht entende que aparecerá o feijão à mesa, que a menina furtar-se-á ao destino da prostituição e o que o pior de todos os bandidos, o político, regenerar-se-á porque deixará de ser vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Longe de mim contestar o caráter de verdade contido nesta máxima. Todavia, se há algo que sempre e sempre merece desconfiança, é o que sai da boca de um comunista.  Pra começar, é também de Brecht a máxima “primeiro vem o estômago, depois a moral”, o que já nos põe em dúvida sobre o critério que ele utiliza para classificar um político qualquer como vigarista ou pilantra.  Porém, se eu apóio o teor de verdade do trecho em questão, o mesmo não digo quanto à postura de quem eu considero ser um sujeito politicamente consciente.  E aqui socorro-me de Hans-Hermann Hoppe (Uma Teoria sobre o Socialismo e o Capitalismo, p. 37) para explicar aonde quero chegar:

A e B podem ter a mesma renda e ambos podem ser igualmente ricos, mas A pode ser negro, ou mulher, ou ter algum problema de visão, ou ser residente no Texas, ou ter dez filhos, ou não ter marido, ou ser maior de 65, ao passo que B pode não ser nada disso, mas alguma outra coisa.  E então A pode argumentar que suas oportunidades de alcançar qualquer coisa na vida são diferentes, ou, mais ainda, piores, que as de B, e que ele deveria de alguma forma ser compensado por isto, de modo que a renda monetária de ambos, que antes era a mesma, agora seja diferente. B, por sua vez, poderia argumentar exatamente da mesma forma, simplesmente revertendo a implícita avaliação de oportunidades. Como consequência, haverá um grau jamais visto de politização. Tudo parece justo agora, e tanto produtores quanto não-produtores, os primeiros por motivos defensivos e os segundos por propósitos agressivos, serão estimulados a gastar mais e mais tempo no papel de criar, destruir e contestar demandas distributivas.  Por conseguinte, certamente esta atividade, assim como a prática de atividades recreativas, não apenas é completamente não-produtiva, como também contrasta com o intuito de usufruir o lazer, implicando o gasto de mais tempo para o único propósito de interromper o usufruto sossegado da riqueza produzida, assim como a produção de ainda mais riqueza.

O trecho acima, do “nosso alemão” (“os nossos alemães são melhores do que os deles”), trata do socialismo do estilo social-democrata, aquele para o qual parece querer convergir a proposta de Brecht.  Em um socialismo do tipo russo-soviético, Hoppe nos ensina que a atitude normal dos indivíduos é a do afastamento da política, uma vez que todas as instâncias da vida já estão determinadas pelos agentes dirigentes.

Segundo Hoppe, ainda

Sob um sistema de produção democrático, assume-se que cada um tem o direito de dar ordens sobre as coisas que ele não adquiriu; deste modo, um indivíduo pode permanentemente não apenas criar uma instabilidade legal, com todos os seus efeitos negativos sobre o processo de formação de capital, mas, acima de tudo, ele também pode agir de forma imoral.

O que eu tenho sobre a política é que esta é a arte de enganar e roubar, a qual segue uma escala que começa por um que engana e rouba todos (o despotismo) até aquela em que todos enganam e roubam um (a democracia).  Uma consciência política, portanto, é uma consciência contra a política e o uso da política, para que os políticos não roubem o feijão de nossa mesa, não transformem nossas filhas em prostitutas e que os piores bandidos de todos, eles mesmos, os políticos, que Brecht aponta de forma pleonástica como vigaristas, sejam poucos ou, quiçá, um dia, nenhum.

Ludwig von Mises afirmava:

Príncipes, governantes e generais nunca são liberais espontaneamente. Tornam-se liberais quando forçados pelos cidadãos. (Ação Humana, p.448).

Eis aí, portanto, a forma da consciência política negativa, ou, permita-se-me inaugurar o termo, a antipolítica.

E novamente, Hoppe nos dá uma sugestão de como começar a participar deste processo (Uma Teoria Sobre o Socialismo e o Capitalismo, p. 100 e 101.):

Para que o estado fracasse em alcançar seu objetivo, é necessário que haja apenas um tipo de mudança na opinião pública geral: toda e qualquer ação de apoio ao estado deve vir a ser considerada e rotulada como imoral, pois trata-se de um apoio dado a uma organização de crime institucionalizado.  O socialismo chegaria ao fim se as pessoas apenas parassem de se deixar corromper pelo suborno estatal, e passassem a manter sua parte na riqueza produzida como forma de reduzir o poder do suborno estatal, ao mesmo tempo em que continuam a vê-lo e tratá-lo como um agressor a ser resistido, ignorado e ridicularizado, a qualquer tempo e em qualquer lugar.

(……………..)

Para trazermos o estatismo e o socialismo ao fim, é necessário que haja apenas um tipo de mudança na opinião pública geral: uma que leve as pessoas a não mais utilizarem os meios institucionais que permitem uma participação política voltada apenas para a satisfação de um desejo de poder; uma que, ao contrário, faça com que as pessoas suprimam qualquer desejo dessa natureza e utilizem esta própria arma organizacional do estado contra ele, exigindo incondicionalmente o fim da tributação e da regulação de todo e qualquer tipo de propriedade, sempre que houver uma chance de influenciar a política.

Isto, caros leitores, somente pode ser conseguido mediante a incorporação de um senso de militância, onde cada pessoa deve agir como a protagonista, divulgando às outras os conceitos de uma sociedade livre e estimulando-as a se unirem em torno da diminuição dos impostos, da máquina pública e das leis que limitem as liberdades individuais.

Certa vez presenciei uma cena que me marcou: era a de um destes políticos querendo angariar votos em uma feira, ao que o feirante respondeu: “Suma daqui, você já começou por estragar o meu dia!”

Eis aí um exemplo de como as pessoas simples, honestas e trabalhadoras sabem bem o que pensam.  Somente basta a todos nós universalizarmos este princípio.

Basta de esperarmos por políticos que prometam estas coisas.  Elejamos os antipolíticos.  Elejamos nós mesmos!

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