Enquanto sociedade, somos -historicamente- menos prejudicados pelas desventuras do acaso do que pela “necessidade de agir”. Sim, a necessidade de se fazer algo diante do caos aparente pode nos prejudicar mais que o caos em si. É o que em medicina se chama de iatrogenia.
Na década de 1930, 389 crianças (aleatórias) foram submetidas à avaliação de médicos da cidade de Nova York; recomendou-se adenoamigdalectomia a 174 delas. As 215 restantes foram novamente examinadas, e 99 foram recomendadas à cirurgia. Talvez, alguma das crianças de fato precisasse da operação, mas certamente 99% delas ou era saudável ou poderia viver tranquilamente sem ter que passar pelo procedimento.
A iatrogenia ocorre quando o mal provocado no paciente é maior que aquele que se pretende curar. George Washington por exemplo, ao adoecer foi tratado por médicos que prescreveram, dentre outros tratamentos, a sangria (algo entre 2,27 e 4 litros de sangue). O resultado, a morte do founding father. Até o surgimento da penicilina, o saldo da medicina para com a humanidade era negativo (matava mais que curava), tanto é que até o séc. XIX, mais mulheres morriam ao dar à luz em hospitais, do que fora deles.
A medicina tem avançado muito, hoje ela é uma bênção, mas o avanço da religião cientificista vem induzindo seus devotos a erros iguais ou maiores que aqueles cometidos pelos homeopatas e curandeiros do passado. Sabe-se que nos EUA atualmente morrem três vezes mais pessoas devido a erros médicos que a acidentes de trânsito, sabe-se também que no mundo, o erro médico e a medicação excessiva matam mais que todos os tipos de câncer combinados.
Quero condenar a medicina ou a ciência? Longe de mim, sou grato a Deus por viver em um mundo onde existe o tratamento clínico. Se durante séculos a medicina não nos ajudou muito, após a universalização do método baconiano todo aquele conhecimento desenvolvido ao longo dos milênios pôde se traduzir em aplicações úteis que salvaram (e o fazem cada vez mais) vidas de uns 2 ou 3 séculos para cá.
Onde quero chegar com isso? Ora, olhe ao seu redor e contemple a distopia dos tempos modernos diante de seus olhos. É claro que os epidemiologistas disseram que o isolamento é a única opção viável, mas um médico que prescreve remédio para o coração, pode muito bem, sem saber, estar atacando os rins do paciente. Será mesmo que os epidemiologistas sabem tudo sobre relações humanas, economia, indústria, comércio, etc? Será que conseguem entender a magnitude de seu veredicto?
Novamente, não condeno o epidemiologista, seu papel é o de curar epidemias e ele agirá sempre na direção que lhe parecer mais adequada para fazê-lo. Se assim ele proceder, estará procurando o bem e não o mal da comunidade.
Se não condeno o epidemiologista, condeno sim aquele que usa suas indicações para promover o mau comum, a saber, o burocrata. O burocrata é o ser incapaz de perceber a complexidade dos sistemas humanos. Como o Leito de Procusto, seu objetivo é cortar as pernas dos que não cabem na cama e alongar as do que são pequenos demais para ela.
Como alguém que reconhece não saber nada, exceto o fato de que sistemas complexos não podem ser dirigidos, posso afirmar que é real a possibilidade de que mais pessoas morram devido às medidas adotadas para conter o vírus, do que pela contaminação em si. A solução uniforme para um problema multiforme não costuma produzir resultados diferentes. Apenas pense nas consequências econômicas, e aqui não me refiro apenas aos mercados financeiros, mas também à distribuição de alimentos, medicamentos, roupas, combustível, transporte. Apenas pense nas bilhões de pessoas afetadas pela decisão unilateral da burocracia.
Pense nos males que o desemprego e o enrijecimento dos negócios vêm causando desde que o mundo é mundo, pense nas erupções de violência em tempos de recessão econômica, pense na população mais vulnerável que pode ter dificuldade para acessar recursos básicos como alimentos e água.
Não estou dizendo que tudo isso ocorrerá, apenas analiso as possibilidades e, ao que parece, o preço do isolamento parece ser caro demais pelo suposto benefício por ele trazido.
Mas e quanto ao vírus, vamos deixar os velhinhos morrerem? Ora, e que tal se deixássemos que múltiplas opções de tratamento fossem testadas para ver qual seria a mais efetiva? E se a empresa que desenvolveu o primeiro teste para COVID-19 nos EUA não tivesse sido proibida de operar devido à falta de uma licença do FDA? E se clinicas e farmácias pudessem dispor de respiradores e UTIs sem ter que passar por um martírio regulatório? E se dispositivos de proteção pudessem ser usados livremente por qualquer um? E se a oferta de serviços médicos não fosse artificialmente reduzida pelo lobby dos conselhos de medicina?
Vai ver, se todos os interessados em descobrir a cura para a doença pudessem agir livremente, talvez nem chegássemos a saber o nome da tal gripe chinesa. Problemas multiformes requerem soluções multiformes, não políticas.
Quase um ctrl+c, ctrl+v do Antifrágil hehe, ótimo artigo
Taleb é mito
O artigo começou bem, mas na hora de oferecer respostas alternativas, não vi nada factível como alternativa para ESSA crise…
para mim artigo muito bom, parabéns.