Claudine Gay, DEI e a Guerra no Oriente Médio

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Há pouco mais de seis meses, Claudine Gay foi nomeada presidente da Universidade Harvard, a primeira presidente negra daquela hoje controversa instituição. Recentemente, ela renunciou ao cargo, apenas para manter um salário de US$ 900 mil como professora. Sem dúvida, sua nomeação teve mais a ver com os imperativos de uma agenda de diversidade, equidade e inclusão (DEI) e menos com a qualidade e o volume de sua produção acadêmica, que posteriormente revelou-se repleta de plágios.

As credenciais acadêmicas de Gay certamente não são proporcionais ao cargo de presidente daquela que já foi uma das instituições de ensino superior mais veneradas dos Estados Unidos e do mundo. Com apenas uma monografia e nove artigos acadêmicos de autor único revisados por pares em seu curriculum vitae, seria espantoso como a Gay de cinquenta e três anos ascendeu no mundo acadêmico tão rapidamente se não fosse por sua raça e as demandas interseccionais do DEI.

Em comparação, sou autor de quatro livros acadêmicos e tantos artigos acadêmicos revisados por pares e de autor único quanto Gay e, sem dúvida, contribuí para campos mais rigorosos, incluindo a história da ciência, filosofia, economia etc. (sem plágios). O trabalho de Gay se concentra principalmente na representação política dos negros, nos padrões de voto de negros de diferentes status socioeconômicos e na moradia acessível, entre outros tópicos relacionados. Depois de ler alguns dos artigos de Gay, concluí que ela não é o desleixo acadêmico total que alguns críticos a fizeram parecer. No entanto, sua carreira foi alimentada por ações afirmativas e turbinada pelo DEI.

Sua ruina final, no entanto, não decorreu de seu desempenho acadêmico, ou da falta dele. Afinal, ela foi promovida à presidência pela Harvard Corporation, o principal conselho de administração da universidade, com as mesmas credenciais. O plágio em sua escrita acadêmica só veio à tona após sua malfadada aparição em uma audiência no Congresso sobre antissemitismo, após os eventos de 7 de outubro de 2023 e além. A resposta imediata de Israel ao ataque do Hamas provocou protestos pró-palestinos em Harvard e outras universidades, protestos que supostamente apresentavam gritos de “genocídio” de judeus, embora não pareça haver evidências para tais alegações.

Não foi o plágio de Gay, mas seu desempenho no Capitólio que levou opositores poderosos a escrutinar sua presidência, embora eles deveriam ter feito isso muito antes. Seu plágio serviu de pretexto para afastá-la do cargo. Durante essa audiência no Congresso, recapitulada pelo Harvard Crimson, a deputada Elise Stefanik (R-NY) perguntou repetidamente a Gay se os gritos de genocídio em seu campus violavam o código de conduta de Harvard em relação a bullying e assédio. Gay respondeu dizendo que achava tal discurso “pessoalmente abominável”, mas continuou com o refrão: “Temos um compromisso com a liberdade de expressão e damos uma ampla margem à liberdade de expressão mesmo para opiniões que são censuráveis, ultrajantes e ofensivas”. Essa afirmação é certamente falsa, como deixa claro o meu histórico acadêmico e o de dezenas de acadêmicos. E muitos palestrantes programados para dar palestras nos campi universitários podem atestar o fato de que a academia se tornou totalmente intolerante com visões que diferem da ortodoxia predominante de “justiça social”, assim como um bando de estudantes que ousaram expressar opiniões em desacordo com o credo oficial. Harvard ocupa o último lugar em liberdade de expressão entre as faculdades e universidades americanas, de acordo com a Fundação para os Direitos Individuais e Expressão.

O questionamento implacável de Stefanik continuou: “Em Harvard, pedir o genocídio de judeus viola as regras de bullying e assédio de Harvard?” Gay respondeu: “Pode ser, dependendo do contexto”. As respostas de Gay foram consideradas escandalosamente insuficientes por Stefanik e pelo resto do comitê, e, talvez não menos importante, por proeminentes doadores e ex-alunos de Harvard. Em vez de ter deixado ser colocada nessa sinuca de bico, Gay deveria ter pedido provas de pedidos de “genocídio”. Stefanik terminou o questionamento pedindo a renúncia de Gay.

Enquanto isso, se as universidades tivessem permanecido totalmente neutras em questões políticas, como deveriam, Gay não teria sido colocada nessa encruzilhada. Mas quanto mais ela continuava cavando, mais fundo era o buraco que ocupava. Gay mais tarde se desculpou nas redes sociais, dizendo: “Substantivamente, eu falhei em transmitir o que é a minha verdade”, referindo-se à noção pós-modernista subjetivista de que a verdade é uma função da identidade, uma noção que Ludwig von Mises chamou de “polilogismo”.

Gay emitiu uma série de declarações sobre o ataque do Hamas e suas consequências. Logo depois, William A. Ackman, um bilionário gestor de fundos de hedge e ex-aluno e doador, começou uma investigação pessoal de sua alma mater. Em um comunicado que foi chamado de “Manifesto Anti-DEI” de Ackman, publicado no X, Ackman afirmou: “Fiquei preocupado com @Harvard quando 34 organizações estudantis de Harvard, na manhã de 8 de outubro, antes de Israel ter tomado qualquer ação militar em Gaza, vieram publicamente apoiar o Hamas, uma organização terrorista mundialmente reconhecida, responsabilizando Israel “exclusivamente” pelos atos bárbaros e hediondos do Hamas”.

Ackman continuou afirmando que os protestos estudantis “começaram como pró-Palestina e depois se tornaram anti-Israel” e ainda sugeriu que os sentimentos anti-Israel expressos pelos estudantes constituíam “antissemitismo”. O antissemitismo, segundo ele, era abundante nos campi universitários: “Infelizmente, o antissemitismo continua sendo uma fonte fervilhante de ódio, mesmo em nossas melhores universidades, entre um subconjunto de estudantes”.

Ackman então rapidamente mudou sugerindo que o antissemitismo não era a raiz do problema, mas sim um sintoma: “Aprendi que a causa raiz do antissemitismo em Harvard era uma ideologia que havia sido promulgada no campus, uma estrutura opressor/oprimido, que forneceu o baluarte intelectual por trás dos protestos, ajudando a gerar discurso de ódio e assédio anti-Israel e anti-judeu”.

Escrevo sobre a díade opressor/oprimido há anos. Sugeri que essa configuração é o que o pós-modernismo tem em comum com o marxismo. O pós-modernismo traduz categorias de classe marxistas em termos identitários. O argumento de Ackman era que os esquemas opressores/oprimidos acabavam figurando os judeus como opressores e, portanto, os palestinos (e o Hamas) como oprimidos. Essa ideologia, ele insinuou, explica a razão e o fervor dos protestos e vilipêndio de Israel, bem como as respostas ineficazes de Gay.

O antissemitismo, continuou Ackman, é apenas um exemplo de um problema mais amplo – o DEI, que opera sob esse binário.

A mistura de críticas ao paradigma do DEI e à política de guerra no Oriente Médio é uma tática bem adequada para recrutar críticos do DEI entre apoiadores pró-Israel. Este é, de fato, o mesmo truque ao qual Jordan Peterson, Gad Saad e outros críticos proeminentes da ortodoxia universitária também recorreram. No entanto, é uma manobra sorrateira que estabelece uma falsa equivalência. Embora os manifestantes estudantis possam ter sido doutrinados a ver todas as questões através desse prisma opressor/oprimido, isso não representa a única justificativa para se opor à execução da guerra na Faixa de Gaza por Israel.

Claudine Gay foi vítima de sua própria ideologia, que valoriza a identidade e o suposto vitimismo acima da verdade. Ela aprendeu que algumas identidades superam as suas. A mesma ideologia e política identitária estão sendo usadas para justificar o massacre de Israel na Faixa de Gaza e para intimidar e perseguir seus críticos.

 

 

 

Artigo original aqui

3 COMENTÁRIOS

  1. Não concordo com o autor, que parece passar um certo pano para o Hamas. 1- Os estudantes de Harvard estavam literalmente pedindo genocídio de judeus, cantando o mantra “From the river to the sea”. Ou seja, querem varrer Israel do mapa. O que ele diria se algum grupo nos EUA estabelecesse um califado em Nova York e cantasse “From the Atlantic to the Pacific”? 2- A ação de Israel em Gaza é necessária. Já está provado que o Hamas usa escolas, mesquitas e hospitais como abrigos para seus mísseis. Sem falar que ele usa os civis de escudo humano. O autor quer que Israel, para que os escudos humanos não sejam mortos, não faça nada? Tem que deixar o Hamas sequestrar seus cidadãos (inclusive idosos e crianças, até bebês)? Tem que só reclamar na ONU, que não é capaz de resolver ou impedir um conflito sequer? Todo o gabarito que o autor diz ter não adianta se ele omite esses pontos na análise. E vem falar de “supostamente” como se fosse um jornalista da CNN? Isso me cheira a antissemitismo disfarçado.

    • O correto é usar operações militares de assalto e atacar de fato os terroristas. O governo de Israel está, na verdade, matando inocentes e isso é crime em qualquer contexto.

    • O governo terrorista de Israel já matou mais seres humanos inocentes do que o Hamas. Ou seja, ele conseguiu ser mais terrorista do que a organização que diz combater.

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