A culpa é da Rússia ou da Ucrânia?

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Suponha que o Brasil tenha invadido um Estados Unidos relativamente pacífico várias vezes no século passado. A política externa deste último país certamente seria providenciar um cordon sanitaire ao sul de sua fronteira. Isso seria tudo e acabaria com todos os seus esforços internacionais.

Mas suponha que os brasileiros criaram uma OTAC (Organização do Tratado da América Central). E nela ingressaram sucessivamente a Colômbia, depois o Panamá, depois a Costa Rica, depois a Nicarágua, depois El Salvador, Honduras, Guatemala e Belize. A ela também se juntaram Chile e Argentina e vários outros países sul-americanos. Por um tempo, o governo mexicano teve uma postura pró-EUA, mas a OTAC também acabou com isso, depondo aquele líder democraticamente eleito e substituindo outro a seu gosto em seu lugar. Além disso, os canadenses também eram antiamericanos (bem, isso não é uma suposição) e membros da OTAC.

Em seguida, o Brasil e seus muitos aliados da OTAC ameaçaram armar seu novo aliado, o México, com armas de devastação em massa.

Nesse ponto da história, os Estados Unidos colocaram armas em X (deveria ser Uruguai, Cuba, Porto Rico? O ideal é que procuro uma ilha a 90 milhas da costa brasileira, mas não encontrei nenhuma). Ao que os brasileiros ficaram apopléticos. Tudo bem eles cercarem completamente os EUA com forças hostis, mas aquele país não deveria ousar retribuir o “favor” ao Brasil, com uma base militar em X.

Finalmente, os Estados Unidos invadiram o México em nosso pequeno cenário na tentativa de colocar naquele país um governo que não lhe fosse hostil; para garantir que ele nunca se junte a OTAC. Esta última organização ameaçou os EUA com terríveis sanções econômicas e disse que nada estava fora de cogitação.

Aqui está o que o presidente dos EUA (não Joe Biden; preste atenção) disse nesta ocasião:

    Considero necessário hoje falar novamente sobre os trágicos acontecimentos no Donbass e os aspectos fundamentais para garantir a segurança da Rússia.

Começarei com o que disse em meu discurso em 21 de fevereiro de 2022. Falei sobre nossas maiores inquietações e preocupações e sobre as ameaças fundamentais que políticos ocidentais irresponsáveis ​​criaram para a Rússia de forma consistente, rude e sem cerimônia no decorrer dos anos. Refiro-me à expansão da OTAN para leste, que está aproximando cada vez mais sua infraestrutura militar da fronteira russa.

É um fato que nos últimos 30 anos temos tentado pacientemente chegar a um acordo com os principais países da OTAN sobre os princípios de segurança igual e indivisível na Europa. Em resposta às nossas propostas, invariavelmente enfrentamos enganos e mentiras cínicas ou tentativas de pressão e chantagem, enquanto a aliança do Atlântico Norte continuou a se expandir apesar de nossos protestos e preocupações. Sua máquina militar está se movendo e, como eu disse, está se aproximando de nossa fronteira.

Por que isso está acontecendo? De onde veio essa maneira insolente de falar do alto de seu excepcionalismo, infalibilidade e toda permissividade? Qual é a explicação para esta atitude desdenhosa e depreciativa aos nossos interesses e exigências absolutamente legítimas?

A resposta é simples. Tudo é claro e óbvio. No final da década de 1980, a União Soviética ficou mais fraca e, posteriormente, se separou. Essa experiência deve servir como uma boa lição para nós, porque nos mostrou que a paralisia do poder e da vontade é o primeiro passo para a degradação e o esquecimento completos. Perdemos a confiança por apenas um momento, mas foi o suficiente para romper o equilíbrio de forças no mundo.

Adivinha quem disse isso? Putin, é claro.

Chega de analogias. Voltemos ao mundo real.

Sim, a URSS não era um lugar legal, internamente. A Rússia também tem seus problemas nesse sentido, assim como muitas outras nações. No entanto, muitos comentaristas que realmente deveriam saber melhor deduzem deste fato que este país é expansionista, externamente. Isso não é verdade. A Grã-Bretanha foi por muitos anos um dos melhores países para se viver; a Magna Carta e tudo isso. No entanto, dizer que pretendia dominar o mundo (o sol nunca se punha em seu império) seria um grande eufemismo. Além disso, existem muitas pequenas ditaduras que nunca se envolveram em nenhuma guerra agressiva. Simplesmente não se pode inferir políticas internacionais de políticas domésticas.

Além de alguns mísseis colocados em Cuba, no momento em que os EUA cercavam a Rússia em muitos lugares, este último país se limitou a se proteger de mais uma invasão vinda de seu oeste.

Por que é tão difícil olhar para questões desse tipo do ponto de vista do outro cara também, além de sua própria perspectiva. Peço isso aos neoconservadores que agora clamam por sangue russo.

Sim, Putin errou ao invadir a Ucrânia. A guerra é um horror. “A guerra é o alimento do Estado.” Vidas inocentes serão derramadas, não importa o quão cuidadosos são os lados em guerra. No entanto, quem é o principal culpado por esta ocorrência infeliz? Obviamente, os EUA e a OTAN.

Homens decentes esperam um fim rápido para esta conflagração. E esperam que a OTAN pare sua marcha incessante para o leste.

 

 

 

Artigo original aqui

2 COMENTÁRIOS

  1. Texto muito bem escrito, com analogias e realidades de mãos dadas. Um olhar histórico equilibrado dos fatos, desejáveis ou não !

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