A educação estatal funciona perfeitamente

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A educação estatal funciona perfeitamente para aquilo que é o seu objetivo. Só que o seu objetivo não é aquilo que você imagina

Sim, é isso mesmo que você leu! Ao contrário do mantra que nos é sempre repetido, o sistema estatal de educação funciona muito bem. Para aquilo que foi criado, ele funciona de maneira impecável. Isso lhe parece surpreendente? Pois é, isso é mais uma prova de que o sistema funciona muito bem. Vamos procurar entendê-lo. Você já parou para se perguntar quais características definem nosso sistema educacional? Você já se questionou sobre o que é realmente cobrado dos alunos? Você já buscou informações sobre quando, onde e por que esse sistema foi criado?

Bom, vejamos. Como você descreveria nosso sistema educacional? Vamos lá. Ele é centralizado: há o Ministério da Educação, que controla todos os aspectos do que é ensinado nas escolas. E ele é obrigatório: os pais são forçados a matricular seus filhos em uma escola ou são acusados de “abandono intelectual”. Nas classes, os alunos todos têm mais ou menos a mesma idade e veem um conteúdo predefinido. As cadeiras ficam todas umas atrás das outras, arranjadas em fileiras. Os alunos são obrigados a ficarem ali, quietinhos, enquanto o professor fica falando. Para entender de onde vem isso, precisamos ir para a Prússia e voltar um pouco no tempo.

A Prússia é uma região europeia que compreende o que hoje é o norte da Alemanha e da Polônia. Em 1525, formou-se ali um estado, cuja capital era Konigsberg. Em 1701, esse estado se transformou no Reino da Prússia, e sua capital foi transferida para Berlim. O Reino da Prússia foi a força-motriz da unificação alemã e passou a moldar de forma decisiva o que seria a história da Alemanha. Os governantes prussianos pertenciam à Casa dos Hohenzollern, uma dinastia real que produziu vários príncipes, reis e imperadores. Um dos membros dessa casa era Frederico II, mais conhecido como Frederico o Grande.

Frederico o Grande governou o Reino da Prússia entre 1740 e 1786, o mais longo reinado de um Hohenzollern. Durante esse período, ele patrocinou artistas e intelectuais, reorganizou o exército prussiano, obteve várias conquistas militares e venceu a chamada “Guerra dos Sete Anos”. E o que foi essa “Guerra dos Sete Anos”? Em 1748, Frederico capturou a Silésia, uma próspera província que pertencia à Áustria. Maria Teresa, a imperatriz austríaca, formou uma aliança para tentar recuperar a província. Assim, em 1756, começou essa guerra, com um lado liderado pela Prússia e o outro, por uma coalização franco-austríaca.

Embora as tropas prussianas fossem mais numerosas, mais treinadas e mais bem armadas do que as de seus adversários, elas perderam várias batalhas de forma humilhante. Parecia que muitos soldados prussianos se recusavam a lutar até a morte pelo rei deles. Para esses soldados, com razão, era mais importante se preocuparem consigo e com suas famílias do que se sacrificarem em uma estúpida guerra de conquista. Isso era um problema para Frederico: “Como assim? Como soldados fogem de tiros para preservar as próprias vidas ao invés de se sacrificarem pelas necessidades do estado?” Algo precisava ser feito.

Artistas e intelectuais, sempre ávidos por uma boquinha, não hesitaram em defender o rei. Para eles, o problema era a natureza individualista da população, que não se preocupava com o “coletivo”, com o “bem maior”. Como incutir esse ideal coletivista no rebanho? Sim, começando desde cedo, enquanto ainda bezerrinhos, e não dando nenhuma oportunidade para eles escaparem do curral. Dessa forma, após o fim da Guerra dos Sete Anos, em 1763, Frederico o Grande publicou um decreto, regulando o sistema de ensino. Isso ficou conhecido como o “Sistema Educacional Prussiano” e, em poucas gerações, mudou o mundo.

Até então a educação era bastante descentralizada, sem obrigatoriedade, sem um único currículo e sem turmas com idades preestabelecidas. Porém, o decreto de Frederico o Grande estabelecia um sistema compulsório de educação primária, financiado por impostos. O sistema era chamado de “Volksschule”, ou “escola popular” em alemão. Ele consistia em um ensino primário obrigatório, com oito anos de duração, em que os bezerrinhos ingressavam com apenas cinco anos. Nele, os alunos de uma determinada turma tinham todos a mesma idade e viam um conteúdo determinado previamente pelos “especialistas”.

Depois disso, havia um outro ciclo nos mesmos moldes, mas com três anos de duração, chamado de Realschule, ou “escola real”, que os preparava para a universidade. Ainda, depois da Realschule, havia um exame nacional único, o “Abitur”, que avaliava o desempenho do aluno no ensino secundário e permitia o ingresso na universidade. Tal exame possibilitava que o governo controlasse quem faria o ensino superior. No comecinho do século 19, durante as Guerras Napoleônicas, entre a Prússia e a França, esse sistema foi aperfeiçoado, e o grau de controle estatal sobre a educação aumentou ainda mais.

O Sistema Educacional Prussiano fornecia educação “pública, gratuita e de qualidade”; piso salarial, treinamento e registro profissional para professores; financiamento para a construção de escolas; currículo predeterminado para cada série; supervisão do que era ensinado em classe e instrução secular. Notem que, com pouquíssimas modificações, esse é exatamente o mesmo sistema que usamos atualmente. Temos hoje o ensino fundamental nos mesmos moldes da Volksschule, o ensino médio nos mesmos moldes da Realschule e um Exame Nacional do Ensino Médio igual ao Abitur – tudo controlado pelo estado.

Tal como acontece hoje, o discurso era de que esse sistema oferecia uma educação de qualidade à população. Parece lindo, mas de boas intenções o inferno está cheio, não? Na verdade, esse sistema fazia com que periodicamente saíssem das escolas pelotões de cidadãos mais ou menos com a mesma mentalidade, devidamente obedientes, disciplinados e dispostos a se sacrificarem pelo rei. E, literalmente, pelotões. O seu objetivo era formar soldados, de ambos os sexos, quaisquer que fossem os setores da sociedade em que passassem a atuar. Tendo sido doutrinados por anos, eles raramente questionavam o sistema político vigente.

Não por acaso, o Império Prussiano se expandiu após a adoção desse sistema. A partir de 1864, houve uma série de vitórias prussianas sobre os franceses. Em 1866, após uma clamorosa vitória em Koniggratz, Albrecht von Roon, ministro prussiano da guerra, declarou: “A batalha de Koniggratz foi decidida pelo professor primário prussiano.” Também não por acaso, no final do século 19, houve as guerras de unificação da Alemanha e a formação do Reich alemão, que desembocou nas duas Guerras Mundiais. Obviamente o Sistema Educacional Prussiano não foi o único fator, mas foi algo essencial nesse processo.

O sucesso desse sistema foi tão contundente que outros países passaram a adotá-lo. No século 19, a maioria dos demais países europeus já o havia implementado. No início do século 20, a maioria dos países na América também já haviam adotado esse sistema. Aqui no Brasil, ele começou a ser implementado já no final do período imperial. Atualmente, quase todos os países seguem o modelo prussiano. Dada sua extrema eficiência, isso não é de se espantar. É um sistema diabolicamente brilhante, em que políticos decidem o que vão estudar os seus súditos – hoje chamados eufemisticamente de “eleitores”.

Você aprendeu algo sobre a história desse sistema na escola? Claro que não! É fundamental manter os bezerrinhos ignorantes do que está por trás dele. Da mesma forma, você não aprendeu o que é uma moeda fiduciária, como funciona o sistema de reservas fracionárias, para que serve o Banco Central, que a democracia é o deus que falhou, que imposto é roubo e assim por diante… Melhor ficar assistindo a aulas entediantes, estudando matérias inúteis, decorando fatos que nunca vai usar na vida, sendo ensinado que sem o estado cairíamos na barbárie e que tudo é culpa do capitalismo malvadão, não é verdade?

O sistema de educação estatal, baseado no modelo prussiano do século 18, trata os alunos como meros instrumentos de manipulação, a serem moldados para servir ao deus-estado. E note que o fato de uma escola ser privada faz pouquíssima diferença. Mesmo nesse caso, ela precisará seguir a base curricular nacional, determinada previamente por tecnocratas estatais, estará subordinada ao Ministério da Educação, terá em seu quadro professores que passaram pelo mesmo sistema e procurará formar alunos que tenham um bom desempenho no exame nacional.

Você já se perguntou por que o ensino domiciliar é tão combatido pelas máfias estatais? Porque, para elas, é fundamental manter o controle absoluto sobre a educação. Hoje vemos a eficiência de tal modelo. Quando cidadãos questionam algo, raramente vão ao cerne do problema – normalmente o fazem de forma superficial. Por exemplo, quando os Senhores Bovinos Gadosos brigam entre si por esta ou aquela facção criminosa, também chamadas de partidos políticos, estão apenas brigando para decidir por quem vão ser chicoteados pelos próximos quatro anos. Eles jamais questionam o porquê de serem chicoteados.

Portanto, para o objetivo para o qual foi criado, o sistema funciona perfeitamente. Ele é muito bom para doutrinar, incutir passividade e induzir obediência. Porém, para o aprendizado, para o desenvolvimento de senso crítico, para o fomento de pensamento independente e para a busca de soluções para problemas reais, esse sistema é muito ruim. Procure escapar dele de todas as maneiras possíveis. Se puder, eduque-se em casa; considere aprender habilidades que não dependam da educação formal; procure cursos disponíveis eletronicamente. Hoje em dia, finalmente temos como escapar da pseudoeducação estatal!

 

Veja também este artigo narrado aqui.

8 COMENTÁRIOS

  1. Li o livro do professor Marco, excelente e o artigo também, a vida dele na Ufscar não é moleza não, pensa numa Universidade infestada, assim como as demais de istas: comunistas,socialistas e progressista, de docentes a alunos, com raríssimas exceções.

  2. Excelente artigo!

    Veja que aqui fica uma lição: a máfia estatal não perdoa um milímetro de indivíduos que busquem se isolar da sua influência.

    Sejamos realistas: quantas pessoas pessoas teriam a motivação e os meios adequados para ensinar seus filhos através do homeschooling? provavelmente um número menor do que os de libertários. Ou seja, um número próximo de zero.

    Mesmo se o governo permitisse essa alternativa, seria uma gota em um oceano de ovelhas. E ainda assim, além da máfia proibir sob ameaça de matar os pais da criança – quanta ironia! eles perseguem de maneira implacável aqueles que tentam ensinar seus filhos em casa de maneira aberta. A máfia estatal é um exemplo de sucesso exatamente por isso, pois eles são implacáveis em defender um modelo que comprovadamente funciona para impor a sua agenda.

    É por isso que o Rothbard dizia para jamais sair um centímetro da rota libertária:

    “O libertário não deve tolerar qualquer tipo de retórica — muito menos recomendações de políticas — que operem contra o seu objetivo final” (http://rothbardbrasil.com/em-defesa-do-idealismo-radical/)

  3. Até pouco tempo atrás, eu tinha um certo “remorso” por nunca ter levado os estudos a sério nos tempos de escola. Não prestava atenção nas aulas, não fazia tarefas e trabalhos, e tirava notas medíocres.

    Mas hoje eu vejo que, graças a isso, eu não sofri doutrinação – como eu não prestava atenção nas aulas, eu nem sei dizer se havia doutrinação nas escolas que frequentei, para falar a verdade. Hoje eu vejo que os mais “lobotomizados” são justamente aqueles que prestavam atenção nas aulas, que participavam das aulas, que tiravam boas notas… Uma pena!

    Acabei concluindo o ensino médio sem ter aprendido nem metade do que foi ensinado. Mas, graças à internet, pude recuperar parte disso, aprendendo por conta própria coisas que eu considerava relevantes. E, melhor ainda, continuo aprendendo coisas que considero realmente úteis, que escola nenhuma ensina!

  4. Excelente artigo professor Marco Batalha.

    Permita me trazer para os leitores o nome de um político que levou esse modelo de doutrinamento à ferro e fogo e destruiu a cultura de vários povos do Oriente Medio.

    Um genocida que matou aproximadamente 40 mil armenos das piores formas imagináveis, anos antes do Holocausto nazista. Pouco comentado, ele amava este modelo e inspirou Mussolini e Hitler.

    COMEMORADO pelas Nações Unidas e pela UNESCO que até adotaram a Resolução Sobre o Centenario de Atatürk teve inúmeros monumentos erguidos em todo o planeta para sua homenagem, nomeados contraditoriamente como “Praça da Paz” por exemplo.

    É dele a frase: “Paz em casa, paz no mundo”. Impossivel não nos remetermos ao atualíssimo George Orwell no seu 1984. Um slogan perfeito para o Ministerio da Paz, que na distopia cuidava das guerras.

    Seu nome? Mustafa Kemal Atatürk

  5. Ótimo artigo. Foi no cerne da doutrina educacional fortalecida pela forte presença do Estado. É facto que desde sempre o sistema de educação estatal, baseado no modelo prussiano do século 18, trata os alunos como meros instrumentos de manipulação – cordeiros.

  6. Certíssimo. Sou estudante do Pedro II e só ensinam merda lá. Na primeira aula de sociologia a professora já chegou falando sobre marx, e sobre como os empresários ricos eram malvadões. A doutrinação estatal é tão eficiente que até os alunos doutrinam uns aos outros! O professor nem precisa fazer mais nada.

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