Crimes futuros: a imaginação alucinógena da desgraça

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O Estado vem tratando a iniciativa privada como se fosse uma criminosa em potencial; sim, é isso mesmo! Ele imputou-lha crimes futuros baseado numa doutrina cientificista falha, mentirosa e já refutada uma centena de vezes. “O livre mercado é falho e se autodestruirá”[1], eles dizem. Logo, por uma lógica evoluída na mais alta razão, a solução não poderia ser outra do que achar um lugarzinho para o Estado infalível e regulador.

Sujeito a isso, a iniciativa privada é regulada, quando não estrangulada e sujeita ao perecimento; em seu lugar vem aquela iniciativa antiga e bem conhecida: a dos interesses públicos, que por serem públicos são de ninguém, e por serem de ninguém são daqueles que os detém. E esses, bem, esses são mais do que conhecidos; são (ou melhor, praticam), justamente, os crimes futuros que atribuem ao seu oposto. Digníssimo notar que praticam a tese em que se fundamentam para impedir ou punir terceiros privados. Com uma pequena diferença: os crimes futuros tornam-se presentes em suas mãos; que as usam para sufocar ainda mais o agente criminoso futurista do livre mercado.

Disseram que num regime de livre mercado haveriam monopólios, cartéis, e as empresas aumentariam os preços de seus serviços e produtos às custas dos consumidores; que a sociedade sairia perdendo frente aos grandes senhores do capital; que as grandes corporações dominariam o mundo e não haveria nada que poderia ser feito para impedir essas falhas no sistema livre-mercadista. Pois, então deram poder ao falho e sabido Estado, para que este fosse o grande salvador da humanidade; com ele, a sociedade poderia respirar aliviada porque agora tudo seria regulado e protegido para o bem da sociedade. Pois bem, foi o que fizeram, e o que aconteceu? Exatamente tudo aquilo que diziam ser cria do livre mercado e da iniciativa privada, mas que nunca havia ocorrido em lugar algum do mundo. Aliás, ocorreu o pior, agora, definitivamente tornaram o Estado – que possui poder, e ninguém que seja minimamente inteligente, acredita que possa fazer algo de bom – para controlar a economia. Tirou  do – suposto – ruim para um muito pior. E, que fique claro: este “suposto” não passa de uma velha mentira usada para propagandear, facilitar e transferir a economia para as mãos do Estado.

Utilizaram de crimes futuros para lastrear uma teoria na prática antiética estatista, e assim, até hoje, controlam a economia e a sociedade. Por meio de falácias inventaram coisas que nunca haviam existido e qualificaram como situações de “falhas do livre mercado”.

Mas, nem todos os problemas necessitam ou devem necessitar de intervenção (sem usar o termo político-econômico, ou melhor dizendo: o intervencionismo segundo o pensamento austríaco); as coisas podem ser resolvidas naturalmente. Claro, mais uma vez, o livre mercado não é um problema, é a solução; não por ser uma solução definitivamente, mas por ser unicamente o que segue às leis econômicas e deixa a economia nas mãos da sociedade (e que fique claro: nas mãos dos indivíduos, num regime de propriedade privada), e não nas mãos das pessoas que acham que sabem o que deve ser bom para a sociedade, pois, destes, sabemos muito bem o que acontece quando colocam em prática suas ideias. Desse modo, nem toda dor de cabeça necessita de remédio, nem todo problema necessita de uma solução imposta; deixe as coisas resolverem-se naturalmente, seguir as leis da natureza, no caso as leis econômicas; estabelecido num regime de propriedade privada e num sistema de preços que possibilitem o cálculo econômico sem distorções e manipulações. No mercado é assim que funciona; o intervencionismo (agora sim) só consegue agravar o problema, jamais é solução.

O intervencionismo político-econômico funciona segundo falsas doutrinas corroendo e distorcendo o mercado; não pode e não consegue ser uma solução, sempre haverá de ser um novo problema, que será resolvido assim que deixar de ser exercitado. Existe um certo fetiche nos interventores por soluções que irão obter resultados diversos dos pretendidos, como muito bem disse Mises, mais ou menos parecido. Este intervencionismo ingênuo (se se levar em conta a boa-fé do agente interventor) não passa de querer apagar fogo com álcool; enxergam-se como agentes reparadores de todo o mal, mas só o que conseguem fazer é espalhar o fogo da lixeira para toda a floresta.

Estes senhores inspirados em Prometeu, definiram crimes e desejos futuros para a humanidade; crimes que nunca haviam acontecido e desejos que nunca haviam sido desejados. Simplesmente foram contra a natureza das coisas para arrogarem-se superiores frente às leis naturais; deram ao homem a centelha divina que está sendo a desgraça político-econômica de nosso tempo. Tudo o que podem fazer é cair na arrogância e vaidade de suas teorias malucas para impor crimes àqueles que nada fizeram e nada hão de fazer, em desfavor daqueles que dizem ser a proteção de suas ações, e fazem o que imputam como crime aos demais. Desacorrentaram Prometeu e agora o que resta são os desejos e vontades de sujeitos vaidosos que querem impor medidas (suas medidas) na vida dos demais; querem atingir a plena independência para tornarem-se dependentes de tudo e de todos, pois no fim, é isto o que ocorre. Neste meio de egos exalando orgulho e vaidade, eles, que se desacorrentaram, fazem de tudo para acorrentar a nós, seres inferiores e desprovidos de independência e razão (segundo suas cegueiras); são os únicos que levaram suas razões ao ponto máximo, só não perceberam que não passam de seres desprovidos de sanidade e já caíram em desgraça. Tudo o que lhes resta é poder e seguem em frente usando e usurpando dele para o “bem da humanidade  e da sociedade”.

Os crimes futuros que o Estado baseia-se para punir empresas e pessoas são uma das mais fáceis análises do quão perigoso este ser é; ninguém em sã consciência puniria alguém por um crime não cometido; muito menos um crime impossível e futuro. Alinharam-se a teorias fajutas para obter maior poder e vem fazendo isso com uma frequência e habilidade sem igual. Os crimes futuros que seriam praticados via iniciativa privada foram criados e estão sendo praticados via iniciativa pública. Seus esforços são imorais por si só, e somente quando acabar com isso que se poderá dizer em justiça. O que mais conseguem fazer é causar injustiças por onde ponham suas mãos; abocanham o justo, a economia, o belo e o moral, para depois dizerem que foi tudo pelo bem da sociedade; tudo para o “bem público”. Alucinaram-se com um crime cometido por outros, e acordaram cometendo os crimes sonhados. Nock (2018, p. 17-18), afirma que:

O processo de conversão do poder social em poder do Estado talvez seja visto de forma mais simples nos casos em que a intervenção estatal é diretamente competitiva. O acúmulo de poder do Estado em vários países tem sido tão acelerado e diversificado nos últimos vinte anos que agora vemos o Estado funcionando como telegrafista, telefonista, atacadista, operador de rádio, fundidor de canhão, construtor e proprietário de ferrovias, operador ferroviário, vendedor de tabaco por atacado e varejo, construtor e proprietário de navios, químico-chefe, fabricante de portos e construtor de docas, construtor de casas, educador, proprietário de jornal, fornecedor de alimentos, revendedor de seguros e assim por diante em uma longa lista. (Nock, Albert. J. Nosso inimigo, o Estado. Vide Editorial, 2018.)

Nas notas de rodapé ele acrescenta:

Neste país (EUA), o Estado atualmente fabrica móveis, mói farinha, produz fertilizantes, constrói casas; vende produtos agrícolas, produtos lácteos, têxteis, produtos enlatados e aparelhos elétricos; operam agências de emprego e hipotecários; financiamento de exportações e importações; financiamento de agricultura. Também controla a emissão de valores mobiliários, comunicações por fio e rádio, taxas de desconto, produção de petróleo, produção de energia, concorrência comercial, produção e venda de álcool e uso de vias navegáveis e ferrovias (p. 18).

Claro, isso foi escrito em 1935, o que estava ruim tornou-se muito pior. Sempre baseando-se em problemas do mercado para arrogar-se para si a função salvadora e, ou, reguladora do mercado; sob o mito das supostas falhas do mercado, nascem as falhas fatais do Estado. E o que era para ser rápida e naturalmente corrigido foi se tornando cada vez maior e mais profundo; suas raízes conseguiram atravessar o solo numa velocidade incrível, mas deplorável.

Novas gerações aparecem, cada uma ajustada de forma temperamental – ou, como creio que o nosso glossário americano agora diz, “condicionada” – a novos incrementos do poder estatal, e tendem a considerar válido o processo de acumulação contínua. Todas as vozes institucionais do Estado se unem para confirmar essa tendência; se unem para exibir a conversão progressiva do poder social no poder do Estado como algo não apenas bastante ordenado, mas até mesmo saudável e necessário para o bem público (2018, p. 19).

Bem, o Prometeu econômico está ai, e basta olhar para qualquer lado que pode-se vê-lo; não é que o Estado não pode controlar a economia, ele pode e o faz; ele apenas não deve. Pois, no momento que toma para si um dedo que for do mercado, fará de tudo para preencher sua mão e afundar-nos em suas burocracias e regulações destruidoras de riquezas, do belo, da ética e da moral; e pior, fará isso sempre de forma que pareça a coisa mais natural do mundo, sempre sobre algum pretexto de ser bom à sociedade e ao povo. No decorrer dos tempos, as pessoas passarão a correr o grave risco de se acostumarem com isso e cair no ciclo da desgraça econômica e civilizacional, pois, não há outro jeito: ou afundam a economia em algum momento, ou a própria humanidade que é afundada na história por falta de virtudes, quando não os dois concomitantemente.

 

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Notas

[1] O que mais chama (ou deveria chamar) a atenção cai no simples fato de que se o mercado é falho, a solução que nos dão é usar o Estado para regulá-lo, quando não proibi-lo de atuar em alguma frente. Pois vejam, o Estado é um ser por natureza falho, burocrático, corrupto, e só consegue atuar por meio da força; com base nesse simples olhar já justifica que dentre tudo e todos, ele é justamente quem deveria fazer nada. Como usar um ser mais falho para regular aquilo que chamam de falhas do livre mercado? É um completo nonsense. Foge a razão utilizar um estagiário para regular um engenheiro numa obra. Por que diachos deveria um ser por sua própria natureza diversas vezes mais problemático regular aquilo que sequer é comprovado que dará problemas lá na frente? Pois bem, os austríacos bem sabem o porquê da coisa; sabem que não existe esse negócio de falhas do livre mercado como um peso que irá derrubar tudo nas costas dos indivíduos; sabem que quem consegue e faz isso é, por excelência, o Estado salvador da pátria. As falhas do livre mercado são “reguladas”, ajustadas e resolvidas no próprio mercado livre e desimpedido; por meio da soberania dos consumidores e de um sistema de preços e cálculo econômico é possível alocar os fatores de produção mais corretamente e diminuir custos, bem como utilizar recursos escassos com mais aprimoramento para, ao invés de causar miséria e mais escassez, levar abundância para as casas das pessoas. E tudo isso é apenas uma nota de rodapé, valha-me elencar o tanto que já foi dito, escrito, e vomitado de tanto refutar essas loucuras apaixonantes estatistas-econômicas.

3 COMENTÁRIOS

  1. Porque Estado e não estado? essa palavrinha grafada deste jeito aqui neste nobre espaço é uma agressão estética a minha sensibilidade…

    Provavelmente eu esteja errado neste assunto de regulações do mercado por parte da máfia estatal, mas depois de estudar os clássicos da economia austríaca e observado as diabrites e fanfarronices que os liberalecos do estado mínimo fazem para defender qualquer empresa como um fim em si mesmo, eu começei a achar que todos os setores regulados pelo leviatã estatal não constituem um mercado livre de verdade. Os bancos, construtoras, fábricas de automóveis, empresas de petróleo, entre tantas outras não merecem que qualquer libertário as defenda. Tenho uma péssima impressão de qualquer empresa que alcance o nível gigantesco, mesmo que não sejam notadamente reguladas, elas se aproveitam de alguma distorção de mercado causada pela máfia estatal. Na minha opinião, esse modelo de capitalismo não se afirma em um mercado sem a presença de uma instituição monopolista, mesmo que seja um guarda e um cão.

    Um mercado livre nos dias de hoje são as padarias, mercados de bairro, o vendedor bala na rua. Esses caras vivem uma competição de verdade. São controlados pelo estado no mínimo possível, apenas o bastante para roubar através dos impostos… vários setores desta economia não são livres – mas obstruídas com diz Mises, mas mesmo assim, são responsáveis por um menor aumento de preços em ralação aos setores regulados. E curiosamente, mesmo os setores que sofrem mais com a regulação do governo, sobem menos que os preços administrados pela máfia estatal…

    No final, posso estar sendo exagerado, mas observando o comportamento de uma Vale do Rio Doce que matou centenas de pessoas duas vezes ou com a recente censura das Big Techs, entre outros casos de empresas que sequestraram o estado para si mesmas ou se tornaram estatais de controle privado, no mínimo isso tem que ser visto de perto.

  2. O estado e suas afirmações centralizadoras de regulação são uma anedota performática. O estado é incapaz de gerir a si mesmo, sendo fundamentalmente uma farsa do ponto de vista do calculo econômico, mas seus agentes arrogam para si a suposta capacidade de impor regras sobre todo o resto da sociedade e ainda afirmam terem o monopólio do “saber” o que é o “mais eficiente” para todos.

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