É possível explicar a hipocrisia da esquerda?

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A esquerda política vive afirmando que detesta bilionários, condena o excesso de riquezas e alega que os mais afortunados deveriam dividir o seu patrimônio com os menos afortunados; da mesma forma, ela considera extremamente fundamental e necessária a sua luta no combate à exploração. Como sabemos muito bem, a esquerda é socialista — ou seja, a militância de esquerda, à princípio, defende a socialização das riquezas existentes em uma sociedade, de maneira que nenhum cidadão fique na pobreza. Assim, todos teriam o suficiente para o seu sustento, e ninguém passaria necessidades.

No entanto, quando colocamos tudo isso debaixo do microscópio — e sujeitamos a retórica esquerdista à uma análise mais profunda e meticulosa —, percebemos que, previsivelmente, o que os militantes executam na prática é demasiadamente diferente dos princípios ideológicos que eles alegam defender.

A verdade é que a esquerda política sofre de doses cavalares de hipocrisia, que ela não admite, mas que seus críticos e detratores corretamente fazem questão de apontar. Na prática, a esquerda não é necessariamente contra riquezas. Na verdade, ela não é nem mesmo contra a exploração. Mas vamos analisar isso melhor.

Sabemos perfeitamente que a esquerda política é demagógica, populista e inescrupulosa. Em sua busca desenfreada pelo poder absoluto, ela não mede esforços em prometer o impossível aos seus eleitores. Consequentemente, ela vai falar tudo aquilo que os seus simpatizantes desejam ouvir, para que assim ela possa conquistar o poder.

Para começo de conversa, os políticos (incluindo os de esquerda) são todos extremamente bem remunerados. Mas aqueles que afirmam amar os pobres e defender os interesses da classe trabalhadora não estão dividindo o seu patrimônio, nem partilhando os seus robustos salários com as pessoas mais miseráveis e necessitadas da sociedade. Evidentemente — por uma questão de lógica e princípios —, os políticos que declaradamente alegam ser socialistas deveriam estar fazendo isso. Mas é claro que eles não fazem.

A verdade é que a classe política é excepcionalmente abastada, e faz parte da classe rica da sociedade. A esquerda política, no entanto, não gosta de divulgar esse fato porque não é uma informação pertinente para a sua ideologia de contumaz e irrefreável adoração ao estado. E lembro ao leitor que esse é um artigo sobre hipocrisia. Obviamente — ao abordarmos esse tópico —, seria completamente impossível que a esquerda socialista ficasse de fora, visto que ela é, por excelência, a definição prática da hipocrisia.

Adicionalmente, se for comparado com o cidadão brasileiro comum, o político brasileiro pode ser considerado ultra-rico. 70% dos brasileiros ganham até 2 salários mínimos. Para estar entre o 1% mais rico do Brasil, uma pessoa precisa ganhar um salário superior a vinte e oito mil reais.

Deputados no Brasil ganham salários de pouco mais de trinta e um mil por mês (R$ 31.238,19, para ser mais exato), enquanto os salários dos senadores são de pouco mais de trinta e nove mil (R$ 39.293,32, precisamente). Ou seja, tanto os deputados quanto os senadores brasileiros fazem parte do 1% mais rico da população. E isso que nem estou levando em consideração a quantidade exorbitante de benefícios adicionais da categoria, como auxílio-moradia e auxílio-paletó.

No entanto, quando reclama dos ricos e da burguesia, a esquerda exclui os políticos das suas reclamações. E quando fala de redistribuição de riquezas, ela igualmente exclui os políticos das suas reivindicações. Ou seja, a esquerda possui uma retórica inflamada contra os ricos da iniciativa privada, mas nunca faz uma única reclamação sequer contra os ricos do estado. Muito pelo contrário. A esquerda política não tem absolutamente nada contra eles.

A esquerda também reclama da desigualdade (que não é exatamente um problema). No entanto, da mesma forma que ela convenientemente ignora o fato de que a classe política brasileira é excepcionalmente rica — e sua manutenção custa mais caro do que a coroa britânica —, a esquerda convenientemente ignora o fato incontestável de que é justamente o estado o principal responsável por fomentar e difundir a desigualdade no Brasil.

O Brasil possui o judiciário mais caro do mundo. Aqui, o salário de alguns juízes pode chegar a meio milhão de reais (não, você não leu errado). Mas o festival de anomalias institucionais não para por aí. O Brasil possui o segundo congresso mais caro do mundo. O congresso nacional custa aproximadamente dez bilhões e trezentos milhões de reais por ano, e seu custo exorbitante só perde para o congresso americano. Isso significa que o custo diário do congresso nacional é de pouco mais de vinte e oito milhões de reais, mesmo quando está fechado.

Adicionalmente, existem outras categorias que usufruem de salários extravagantes (os chamados supersalários), como embaixadores e diplomatas, que podem receber remuneração superior a cem mil reais por mês.

Mas não se preocupe, você nunca vai ver a esquerda reclamando à respeito disso. Como eu escrevi acima — e repito —, a esquerda política se opõe única e exclusivamente aos ricos da iniciativa privada; ela jamais dirige sua indignação contra os ricos do estado. Ou seja, a esquerda se posiciona contra os ricos que, de uma forma ou de outra, auferem sua riqueza por meio da atividade produtiva, mas jamais reclama dos ricos que auferem sua riqueza e seu patrimônio através de parasitagem institucionalizada.

A esquerda também alega ser contra a exploração. Mas a verdade é que ela é unicamente contra a exploração perpetrada pela iniciativa privada. Quando a exploração é executada pelo estado — que cobra indevidamente taxas, tarifas e impostos excruciantes de toda a sociedade produtiva —, percebemos uma complacência inominável por parte da esquerda.

Ou seja, a esquerda não é contra a exploração de nenhuma forma, maneira ou circunstância. A esquerda é unicamente contra a exploração executada pelo setor privado. Mas quando é o estado que explora as pessoas, a esquerda não profere uma única crítica sequer. A verdade é que a esquerda não é contra a exploração em si — o que ela realmente pretende é que o estado tenha o monopólio da exploração. A iniciativa privada não pode explorar as pessoas, mas o estado pode.

A carga tributária existente no Brasil é verdadeiramente aterrorizante. Pagamos impostos diretos, indiretos e aqui existe até mesmo a aberração da dupla tributação (quando um imposto incide sobre outro). Adicionalmente, temos um dos códigos tributários mais complexos do mundo. Toda essa gigantesca e faraônica montanha de impostos é paga, em sua maioria, pela classe média e pelos pobres, para sustentar uma máquina governamental excessivamente perdulária e demasiadamente dispendiosa.

Aqui no Brasil, as classes que formam a base da pirâmide social são amplamente sacrificadas e exploradas ao máximo para sustentar aqueles que estão no topo; ou seja, impostos obscenos são cobrados das classes produtivas (composta pelos pobres e pela classe média) com o objetivo de transferir renda para as castas sociais mais poderosas e abastadas. Ou seja, pobres e trabalhadores são extorquidos ao máximo para bancar os elevadíssimos salários de políticos, juízes, burocratas e funcionários públicos ultra-ricos. Quem ganha menos é forçado a pagar impostos aviltantes para sustentar os salários, os benefícios e os privilégios daqueles que ganham mais. Isso nada mais é do que uma forma dissimulada de escravidão moderna. E a esquerda apoia isso.

Esse arranjo social não é apenas maligno e imoral, como é um catalisador crônico de injustiça e pobreza sistêmica. Mas não se preocupe. A esquerda política nunca reclamou disso, nem irá reclamar. Para a esquerda política, nem os pobres nem a classe trabalhadora são importantes. Para a esquerda, verdadeiramente  importante é difundir a religião do estatismo e do legalismo, garantir que o governo tenha poderes absolutos e plenipotenciários sobre tudo e sobre todos e exigir de todos os cidadãos a adoração, a lealdade e a obediência ao supremo deus-estado, a divindade absoluta.

Como bem sabemos, a esquerda não é guiada pela ética ou pela moralidade. Sua descarada demagogia populista pode sempre colocar no capitalismo a culpa pela pobreza existente na sociedade. O desespero de uma população carente e miserável atende muito bem à agenda da plataforma política esquerdista. Ela sempre explora com muita astúcia todo o cenário de carência e miséria social para exigir mais poderes de intervenção para o estado (e até mesmo expandir a tributação, alegando que isso é necessário para prover benefícios assistencialistas).

Para a esquerda, é extremamente conveniente ignorar a realidade. O que importa é a busca frenética e incessante pelo poder político absoluto. Nessa história, os pobres e os trabalhadores são apenas engrenagens convenientes que podem ser facilmente manipuladas de acordo com as circunstâncias. O importante é adorar o supremo deus-estado, venerar políticos excepcionalmente ricos e abastados e demonizar unicamente os ricos da iniciativa privada, que geram empregos e são os responsáveis por manter funcionais as engrenagens da sociedade.

Ou seja, com a esquerda política aprendemos que você pode odiar apenas os ricos da iniciativa privada. Por outro lado, não há problema algum em adorar os ricos do estado (como políticos e juízes). E a exploração só deve ser combatida quando ela é executada pela iniciativa privada. Quando a exploração é executada pelo estado, então está tudo certo.

Os fatos mostram que, na verdade, a esquerda é a favor de todas as coisas que ela diz combater. Ela é a favor da exploração dos ricos sobre os pobres e a favor do acúmulo de riquezas e de patrimônio excessivo, sem que nenhum tipo de redistribuição seja feita. Basta realizar isso através do estado. Se você se tornar um político ou um funcionário público, você pode explorar os pobres ao máximo, tributar toda a sociedade produtiva e até mesmo criar novos impostos, com o objetivo egoísta de enriquecer avidamente e acumular o máximo de fortuna e patrimônio que puder.

Se você se autointitular socialista, a esquerda defenderá você com unhas e dentes, com extrema mordacidade e veemência. E ainda considerará você um herói. Nessa questão, Lula é o melhor exemplo, e não me deixa mentir.

Quer acumular fortuna exorbitante, explorar todas as pessoas ao máximo e ainda ser adorado pela esquerda? Vire um político socialista. Através do estado, você pode fazer tudo aquilo que a esquerda condena na iniciativa privada.

Sem dúvida nenhuma, hipocrisia é a marca registrada da esquerda política. Um duplo padrão para tudo é a sua principal característica. Não existe consistência em suas reivindicações políticas. O que existe na esquerda é histeria, fanatismo, idolatria pelo estado e muita, muita hipocrisia. Hipocrisia em demasia.

14 COMENTÁRIOS

  1. O Inácio particularmente eu não colocaria como hipócrita, mas dissimulado. Nas entrevistas dos anos 80 ele nunca escondeu que vida de peão é insignificante. Eu acho que ele até chegou a subscrever a frase “quem gosta de pobreza é sociólogo, pobre gosta é de lixo”.

  2. Parabéns por mais um belo artigo, Wagner!

    Hoje mesmo, em almoço de família, tive de ver/ouvir um festival de asneiras com a matiz escarlata, dado que lamentavelmente parte de meu clã é progressista e tem até gente woke. Eles, assim como meu supervisor, são os típicos socialistas de i-Phone. O mesmo Lula é um semideus e Bolsonaro, a encarnação do Anticristo na Terra. A estupidez da vez foi sobre o pleito argentino, de que Milei é um “louco” e que “Bolsonaro tentou ajudá-lo”, isto claro, “esquecendo-se” que o ídolo político da bolhinha doou dinheiro para influenciar nas eleições locais, o que até ajuda a explicar o segundo turno necessário, dado que Milei era já favorito há tempos… em suma, um caminhão de óleo de peroba seria pouco à minha parentela canhota.

  3. E tem outra hipocrisia também, vez ou outra na tv paga passam aqueles filmes, documentários cretinos sobre a ditadura militar. Um bando de velhos feios e sem vergonha na cara posando de vitimas dos militares, enquanto eles apoiam fervorosamente ditadores socialistas do passado e do presente. E pior que ainda tem alguns filmes desses que são feitos com dinheiro roubado via impostos do povo.

    • Roberto,

      Já que mencionei minha família progressista há pouco, lá vai mais uma: alguns desses parentes já nasceram no governo civil, mas falam do regime militar como se aqui tivesse sido uma Coréia do Norte verde-oliva. O Bolsonaro é demonizado por ser uma figura associada aos mesmos, sem contar as calúnias atribuídas a este que a mídia tradicional, consumida pelos mesmos mentecaptos, conta diariamente. Já tive a chance de ouvir dos mesmos, que foi o Bolsonaro, por meio de milicianos, que mandou matar a Marielle Franco. Fora a “honra” de ser xingado de “direitista de merda” por um deles, quando questionei a respeito. Poderia ficar horas aqui apenas escrevendo cada estupidez da ala progressista/woke da minha família…

  4. O Bozo quando viajava para o exterior, ficava em hotéis medianos.
    O Lula fica em hotéis cujas diárias custam 5 dígitos em doletas americanas.

    Agora o pior: ouvi na época esquerdistas reclamando que era uma vergonha o presidente se hospedar em hotéis fuleiros. Ou seja, o povo gosta e acha normal as mordomias dos donos da corte.

    • Bozo sempre foi outro parasita nada diferente do molusco. Em gastos de cartão corporativo, ele gastava quantias obscenas, além claro, de ser um ladrão de jóias!
      E outra, deixar Exércíto inútil brasileiro gastar horrores com leite condensado, viagra, whisky e prótese peniana? Isso mostra que Bolsonaro e Lula foram e são dois pilantras, patifes e canalhas. Ninguém tem moral para criticar ninguém! É tudo farinha do mesmo saco!

      • Concordo que ambos são parasitas mas não são comparáveis.
        O Bozo e o seu exército inútil de generais broxas são muito menos ruins do que o Molusco e seus cupinchas.

        Os dois são uns merdas, nisso eu concordo, mas querer nivelá-los é no mínimo ignorância.

  5. Há algum tempo li um artigo que explicava a dificuldade de debater com esquerdistas. O problema era a “fé cega na crença” basicamente o canhoto fala em distribuir renda e você responde que isso não funciona e explica o porquê. Ou seja ficamos preocupados em responder a que acreditamos que seja a “CRENÇA”

    • Direitistas são outros fanáticos e são agressivos e arrogantes! Já tentei conversar com vários e é impossível também!

      • Claro que é impossível. Política é guerra !.
        Você parece não ter entendido isso até hoje.

        É risível alguém falar em respeito à opiniões políticas, como se estas fossem meras opiniões pessoais ou ainda gostos.

        Se você não gosta de alho e cebola, tudo bem, é só não comer.
        Se você não é homossexual, tudo bem, não tenha relações sexuais com pessoas do mesmo sexo.

        Na política é diferente, se o seu candidato ganhar você ficará numa boa às custas dos derrotados, e a recíproca é verdadeira. As idéias dos vencedores serão impostas na marra aos derrotados. Não haverá nenhum respeito para com os vencidos.
        (Grosseiramente falando, se o meu candidato ganhar, o estado irá socar alho e cebola até no seu r@bo e te forçará a transar com homens.)

        Não existe essa de governar para todos, a política é um jogo de soma zero, uns vão se ferrar e outros vão ficar numa boa. Só restando aos derrotados o sonho de voltar ao poder na próxima eleição.

        A política fomenta o que há de pior no ser humano.
        Logo todos ficam fanáticos, agressivos e arrogantes, pois o destino deles está em jogo, sabem que não haverá misericórdia para com os vencidos.

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