Enxugando gelo

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geloVenho aqui comentar sobre os últimos acontecimentos relacionados com as provas do Enem, somente para lembrar – mais uma vez! – sobre a capacidade que tem o estado de criar desastres de proporções gigantescas sobre fatos irrelevantíssimos. Isto não acontece vez ou outra. É sempre! É o resultado da equação!

Quem quer uma explicação rápida para a pobreza das nações, tão mais pungente quanto mais socialistas? É simples: enquanto nas sociedades mais livres as pessoas estão estudando ou trabalhando – em um único termo, produzindo -, nos países onde o socialismo predomina, elas estão em filas ou “enxugando gelo”. Sim, enxugando gelo, eis a imagem – créditos ao meu querido pai ou a de quem ele a obteve – para ilustrar aquelas atividades que, de tão inúteis (e são tantas!), nem sequer seriam imaginadas existir nos países onde o sentido do capitalismo sobrevive.

Quem conhece os fundamentos da doutrina liberal, acaba por se tornar um chato. É que a vida vai se tornando monotonamente previsível. Para um sujeito como eu, o que aconteceu com a prova do Enem é somente o que já aconteceu, em escala municipal, com as quilométricas filas da meia-passagem. O Script é o mesmo: milhares de pessoas na fila, quando poderiam fazer qualquer coisa mais útil; o atendimento sofrível de uma besteira que jamais vai resolver o problema da pobreza ou do transporte ou mesmo, do ensino; o roubo por uma quadrilha; a ampla cobertura jornalística sobre os acontecimentos; a hilária promessa das autoridades sobre a apuração das responsabilidades e – o que é bem merecido para este povo adorador de vales – a convocação da população para voltar à fila para pegar outro com cores diferentes!

Este foi só um mísero exemplo. Filas, senhas, assaltos ou corrupção, reconvocações ou recadastramentos são notícias diárias. Agora imagine o leitor o custo (literalmente, em termos financeiros) de tudo isto…

 A prova do Enem segue este roteiro à risca. Os eventuais culpados, parece que são somente uns “pé-rapados”, talvez até cheguem a ir para outro lugar inútil, a cadeia, quando, em um sistema liberal, sofreriam um apenamento mais voltado à reparação do dano. Para que isto aconteça, a sociedade ainda vai pagar pela investigação, pela captura, pelo processo e enfim, pelo cumprimento da pena. Seria mais barato mantê-los soltos, o que aconteceria se pertencessem aos quadros do PT: saem de cena aqui e reaparecem depois acolá.

Quanto à população, esta arcará com o grande prejuízo. Milhões de estudantes e milhares de estabelecimentos de ensino superior agora se vêm na necessidade de ajustarem seus cronogramas por causa deste estorvo, que não serve para porcaria nenhuma. Este Enem não fará de ninguém um médico melhor, ou um engenheiro mais competente. Não fará, com certeza, pessoas melhores, até porque, em suma, não estudam para eles mesmos, para alcançarem seus próprios projetos. Fará, no máximo, com que alguns se tornem mais capazes de repetir bordões e conceitos úteis ao estado. Só isto.

Em uma sociedade livre, pra começar, seriam poucas as faculdades ou universidades. Um amigo meu, que retornou recentemente do Japão, confessou-me que lá são poucas as pessoas que detém um título. Em uma grande fábrica para a qual trabalhava, mesmo aquelas que ocupavam postos mais elevados não possuíam qualquer curso superior. Isto não significa, em absoluto, que não eram pessoas preparadas. O que acontece no Japão é a demonstração empírica do que temos afirmado em outro artigo, ou seja, as pessoas vão fazendo cursos livres, voltados aos seus projetos, em uma interação teoria x prática bem mais intensa do que a dos pobres tupiniquins a dormir sobre anos de quadro negro. Disto se conclui que o ensino, no Brasil, na verdade é uma autorização estatal para as pessoas poderem exercer um ofício, e o Enem passa a ser uma espécie de pré-licença.

Destas poucas instituições de nível superior, apenas uma parcela delas optaria por um concurso de provas como meio de seleção. Desta forma, acaso viesse a acontecer um roubo das provas, apenas uma dentre todas as outras instituições seria prejudicada, e o prejuízo que sofreriam seus candidatos seria minimizado pelo fato de que o ajuste reparador ocorreria justamente em função deste processo seletivo, e não de outros, como acontece por aqui.

Como, então, resolver o problema do ensino de má qualidade nas escolas públicas, que era o motivo alegado para a criação do Enem? Oras, para quê escolas públicas? Devolva o estado o dinheiro correspondente aos impostos e deixe as pessoas buscarem o conhecimento e o aperfeiçoamento profissional por si próprias e por meio das relações mutuamente benéficas que haverão de tecer entre si. Ou quiçá, que lhes permita estudarem em casa ou ainda, na pior das hipóteses, que lhes pague uma bolsa para matricularem-se em instituições privadas e enfim, que pare de inventar cursos inúteis na grade curricular, cursos estes que servem somente aos seus interesses, e não aos dos estudantes.

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