Fascismo: uma aflição bipartidária

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 Se neoconservadores e progressistas realmente entendessem o fascismo, eles parariam de usar o termo como uma difamação. Isso ocorre porque ambos os grupos, juntamente com as maiores figuras políticas e comentaristas, abraçam ideias e políticas fascistas.

A característica distinta do fascismo é uma “economia mista”. Diferentemente dos socialistas e comunistas que pretendem abolir os negócios privados, os fascistas se contentam em deixar as empresas em mãos privadas. Como alternativa, os fascistas usam regulações, mandatos e taxas para controlar os negócios e gerir (e arruinar) a economia. O sistema fascista é, então, aquele no qual as empresas privadas servem aos políticos e burocratas em vez dos consumidores. A economia americana moderna não se enquadra na definição de fascismo?

O fascismo beneficia as grandes empresas que podem arcar com custos de cumprir com as regulações governamentais ao contrário de seus concorrentes menores. As grandes empresas que têm maior influência política do que empreendedores e pequenas empresas também se beneficiam significativamente com os subsídios governamentais. Para manter seu poder, grandes empresas financiam o “estado oculto” –  a rede de lobistas, jornalistas, think tanks, burocratas e funcionários do congresso que trabalham nos bastidores para moldar a política governamental.

O Obamacare é um exemplo de fascismo que é frequentemente mal rotulado como socialismo. O Obamacare não criou um sistema de “pagamento único”  administrado pelo governo, como seria o caso sob o socialismo.  Ao invés disso, o Obamacare estendeu o controle governamental ao sistema de saúde por meio de mandatos, regulações e subsídios. A parte mais infame do Obamacare – o mandato individual – força os indivíduos a comprar um produto da indústria privada.

A política externa militarista da América moderna voltada para policiamento e o aperfeiçoamento do mundo é um outro exemplo de fascismo que possui forte apoio bipartidário. Tanto neoconservadores quanto intervencionistas humanitários de esquerda afirmam que nossos objetivos – supostamente nobres – justificam todas e quaisquer ações feitas pelo governo dos EUA. Assim, esses supostos defensores dos direitos humanos defendem a guerra preventiva, a tortura e as listas de mortes presidenciais.

Muitos dos políticos que apoiam uma política externa militarista estão mais concentrados em espalhar “generosidades” ao complexo militar industrial do que disseminar a democracia. É por isso que muitos conservadores de livre mercado soam como  um Paul Krugman sob efeito de esteróides quando discutem os benefícios econômicos dos gastos militares. Similarmente, muitos progressistas antiguerra vão apoiar grandes orçamentos militares se parte do dinheiro for gasto em seus estados ou distritos parlamentares.

A vigilância massiva e os limites à liberdade pessoal são marcas adicionais dos regimes fascistas. Embora haja um movimento para “reformar” o estado policial, poucos querem abolir a vigilância em massa, o confisco de bens civis e outras políticas policiais adotadas em nome das guerras ao terror e às drogas.  O governo federal inclusive usou força para barrar as pessoas de venderem leite cru! As tentativas dos progressistas em silenciar oponentes políticos são mais exemplos do quanto os supostos antifascistas americanos estão defendendo políticas fascistas.

O crescimento do estado de guerra e de bem-estar social foi acompanhado por um aumento do poder presidencial. Essa centralização do poder e o apoio que isso recebe da classe política é mais uma indicação da natureza fascista do nosso atual regime. É claro que muitos no Congresso vão lutar para controlar o poder executivo enquanto o ocupante da Casa Branca for do partido oposto. Mesmo os mais ferozes oponentes do poder presidencial excessivo tornam-se instantaneamente mansos quando o seu partido ganha a Casa Branca.

Apesar de todo o seu alegado antifascismo, os conservadores e os progressistas apoiam o uso da força para reformular a sociedade e o mundo. Essa é a definição característica não apenas dos fascistas, mas também de ‘autoritários’. Os verdadeiros antifascistas são aqueles que rejeitam a iniciação de força. O verdadeiro caminho para o verdadeiro livre mercado, a paz e a liberdade individual começa com a rejeição do autoritarismo bipartidário em favor do princípio da não-agressão.

 

Tradução de Bruno Cavalcante
Revisão por Larissa Guimarães

Artigo original aqui.

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Ron Paul
é médico e ex-congressista republicano do Texas. Foi candidato à presidente dos Estados Unidos em 1988 pelo partido libertário e candidato à nomeação para as eleições presidenciais de 2008 e 2012 pelo partido republicano. É autor de diversos livros sobre a Escola Austríaca de economia e a filosofia política libertária como Mises e a Escola Austríaca: uma visão pessoal, Definindo a liberdade, O Fim do Fed – por que acabar com o Banco Central (2009), The Case for Gold (1982), The Revolution: A Manifesto (2008), Pillars of Prosperity (2008) e A Foreign Policy of Freedom (2007). O doutor Paul foi um dos fundadores do Ludwig von Mises Institute, em 1982, e no ano de 2013 fundou o Ron Paul Institute for Peace and Prosperity e o The Ron Paul Channel.

5 COMENTÁRIOS

  1. A diferenciação que Ron Paul fez entre fascismo e socialismo está confusa. Eu entendi o que ele quis dizer, mas agora complicou compartilhar isto em grupos onde tem soças – eles vão encher o saco só por causa desse detalhe, rs… Acho que Ron Paul deveria ler Igor Shafarevich e Norman Cohn pra fixar bem a definição. Analisar essas coisas apenas sob a ótica política e econômica sempre leva ao erro.

  2. O resumo é que o sistema jurídico tupiniquim, ao contrário do anglo-saxão, é de uma burocracia lusitana. O senso de justiça da maioria da população é diferente da dos “técnicos (burocratas que ganham dinheiro com a complexidade). Democraticamente querem um sistema suíço numa ilha pirata, óbvio que não dá certo, óbvio que é instável, óbvio que ajustes deverão ser feitos. write custom essays

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