Imposto sobre rodas

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O governo anunciou uma redução dos impostos sobre automóveis novos que pode chegar à 10% de diminuição no valor final, valendo para carros de até R$120 mil. Sendo que praticamente metade do preço de um carro novo é de impostos, o governo possui um grande controle na determinação do preço que pagamos por automóveis. De acordo com o vice-presidente Geraldo Alckmin, o alegado motivo primordial dessa redução de impostos é ajudar os mais necessitados a conseguirem comprar um carro:

      “Hoje, o carro mais barato é quase R$ 70 mil. Queremos reduzir esse valor. Mas os outros também serão reduzidos. Quanto menor, mais acessível, maior será o desconto do IPI, PIS e Cofins. Primeiro item é social, é você atender mais essa população que está precisando mais”

Além deste, há o motivo fascista de incentivar um setor econômico, pois o governo também anunciou outras medidas para tentar recuperar a já protegida indústria automotiva, entre elas, a concessão de R$4 bilhões em empréstimos do BNDES para estimular os investimentos e as exportações das montadoras brasileiras. Ou seja, transferência de riqueza de toda a população para uma indústria favorecida. Mas quanto à redução de impostos, temos aí realmente um benefício para todos os consumidores que desejam comprar um carro. Será que o governo está sendo bonzinho, diminuindo sua arrecadação criminosa de impostos para ajudar os pobrezinhos? Na verdade não, pois quanto mais os súditos compram carros, mesmo que pagando um valor menor de impostos no ato da compra, mais o estado arrecada. Cada carro vendido se torna uma mina de ouro para o estado, pois ele vai continuar pagando impostos a cada km rodado, ou mesmo se ficar estacionado na garagem.

Peguemos um carro popular, um Fiat Mobi no valor de R$70 mil, comprado hoje e registrado em São Paulo e que fique por 20 anos com o comprador. Com base nesse valor, o IPVA seria de cerca de R$2.800,00 por ano, considerando a alíquota de 4% em São Paulo para carros movidos a gasolina. Se o valor do carro continuasse o mesmo, ao longo de 20 anos, o valor total do IPVA seria de R$56.000,00. Mas existe a depreciação do veículo, e como o IPVA é calculado de acordo com o valor atual do veículo, o imposto também diminui ano à ano. Então consideremos um desconto em torno de 30% deste total, ficando em R$40.000,00. (Se alguém tiver um método mais preciso de estimar essa depreciação, me avise) Já o valor do licenciamento anual em São Paulo é de R$155,23 em 2023. Supondo que esse valor se mantenha constante ao longo de 20 anos, o valor total seria de R$3.104,60. Sendo assim, somando o valor do IPVA e licenciamento, o valor total de impostos que seria pago em 20 anos seria de cerca de R$43.104,60. Este é o valor que o estado iria arrecadar se o Fiat Mobi ficasse parado. Se a pessoa, como se espera, for usar o carro, o valor é muito maior.

Mais da metade do valor do combustível é imposto. Digamos que o motorista encha o tanque duas vezes por mês. O Fiat Mobi tem um tanque de 47 litros. O litro da gasolina está custando R$5,37. Dessa forma, ao se consumir dois tanques por mês, o valor gasto em gasolina por mês seria de cerca de R$504,78. Ao longo de 20 anos, que equivalem a 240 meses, assumindo que o preço permaneça o mesmo, o valor total gasto em gasolina seria R$145.376,64. Os impostos pagos seriam de cerca de R$72.688,32, considerando uma carga tributária média de 60% sobre o valor da gasolina em São Paulo.

Portanto, usando um Fiat Mobi durante 20 anos, uma pessoa irá pagar de impostos sobre o veículo e o combustível um total de R$115.792,92. Muito acima do valor total do carro de R$70 mil. Mas se incluímos os impostos embutidos em outros gastos que o dono do veículo terá, como impostos sobre serviços e peças de manutenção, impostos sobre o seguro, indústria da multa etc. o valor ultrapassa facilmente o dobro do valor do Fiat Mobi.

Ou seja, ao diminuir os impostos sobre a venda de veículos, o estado está apenas adiando o recebimento de um esbulho ainda maior para os anos seguintes. Para o estado parasita, cada automóvel circulando é um hospedeiro que ele irá sugar pelo resto de sua existência. É um negócio tão bom que o governo poderia zerar os impostos sobre a venda de veículos e até subsidiar 100% sua compra, que ainda seria um grande “negócio”. Isso porque a compra de veículos não existe realmente, o que existe é somente o aluguel. O estado é o dono e os vassalos tributários devem pagar um aluguel, uma taxa anual, para poder ficar com o veículo. Se o escravo não pagar, o mestre apreende o veículo, leiloando sua posse para outros ou deixando-o apodrecer em seus pátios. Brasileiros e brasileiras, agradeçam seus líderes benevolentes Lula e Alckmin por eles estarem facilitando a oportunidade de vocês se tornarem os titulares de um imposto sobre rodas.

5 COMENTÁRIOS

  1. Redução tributária é boa, mas esses empréstimos do BNDES são péssimos. Mas isso é de praxe, a petralhada precisa de apoio do baronato industrial (que apoiou a Dilma e depois ficaram furiosos com o desastre econômico petista).

    Lembrando que as vendas de veículos estão em queda desde 2014/2015, à despeito de todo ano aumentarem os preços dessas coisas.

    É fácil saber os motivos: a renda da população está estagnada faz muitos anos, o crédito estatal está fraco e os preços só sobem. R$ 70 mil por um Fiat que não seria vendido nem na Itália, só podem estar de brincadeira.

  2. Ótimo artigo, Fernando! Aproveita e detona o roubo sobre os imóveis:
    ITR, IPTU, ITBI, Imposto de Renda sobre Lucro Imobiliário, Imposto de Renda sobre Aluguel, Escritura do imóvel, Registro de imóvel, etc.

  3. Excelente artigo! Retirar todos os impostos sobre os automóveis é o equivalente ao indivíduo receber devolução do imposto de renda e achar que o governo deu dinheiro para ele. ..

    De certa forma toda a indústria automobilística é subsidiada, pois efetivamente tanto estradas quanto os combustíveis só existem na forma como conhecemos graças ao estado. E isso é ruim.

    Quando a indústria automobilística estava surgindo, foi justamente essa preocupação dos empresários: falta de acesso a combustíveis e poucas e intransitáveis estradas. Eles fizeram um estudo para estimular a demanda e chegaram a conclusão que os veículos a combustão seriam basicamente comprados praticamente apenas para profissionais. E durante um tempo foi isso que aconteceu. Até aparecer o papai estado…

  4. Vida de escravo não é fácil : se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. É desolador saber que somos reféns desses governantes eleitos pela abundante mediocridade. Ufa !

  5. “impostos sobre o seguro”
    Aqui o c.. caiu da bunda! Nunca tinha pensado nisso, meu Deus!
    Lembrando dos seus “direitos” de segurança pública. Mas pagamos seguro pela falta.

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