Justiça Social

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Em muitas universidades, há uma pressão para que se promova a Justiça Social. Há duas maneiras de definir “Justiça Social”.

Primeiro, esse conceito pode ser definido substantivamente. Aqui, é tipicamente associado à esquerda ou a análises, políticas e prescrições socialistas. Por exemplo, a pobreza é causada pelo capitalismo desenfreado; a solução é regular pesadamente o mercado, ou bani-lo completamente. Racismo e sexismo contribuem para a relativa situação problemática de minorias raciais e mulheres; leis deveriam passar a proibir seu exercício. Maior confiança no governo é requerida na solução de toda sorte de problemas sociais. O planeta corre grande perigo causado pela exploração ambiental, devido a uma injustificada confiança nos direitos de propriedade privada. Os impostos são muito baixos; devem ser aumentados. Caridade é um insulto aos pobres, que devem obter mais recursos por direito, e não por consentimento. Diversidade é o sine qua non de uma sociedade livre. Discriminação é um dos maiores males que tem assolado a humanidade. O uso de terminologias tal qual “humanidade” é sexista e constitui crime de ódio.

Segundo, a justiça social não deve ser vista como um ponto de vista particular em tais questões, mas como um interesse em estuda-las sem noções preconcebidas. Nessa perspectiva, nenhuma posição é tomada em questões de pobreza, capitalismo, socialismo, discriminação, regulação governamental na economia, livre iniciativa, ambientalismo, impostos, caridade, diversidade etc. Em vez disso, a única reclamação é que tais tópicos são importantes para uma educação nas artes liberais, e que qualquer instituição de ensino superior que os ignora põe em risco sua própria missão.

Então que nós possamos deixar claro como cristal esse distinção, um defensor da justiça social da primeira variedade pode alegar que negócios são per se impróprios, enquanto aquele que defende o objetivo da justiça social no segundo sentido poderia se conter meramente em afirmando que o status dos negócios é um importante assunto para ser estudado.

A universidade deveria se dedicar à promoção da justiça social? Seria um desastre fazê-lo no primeiro sentido do termo, e é desnecessário no segundo. Vamos considerar cada opção por vez.

Uma instituição de ensino superior que pedisse que seu corpo docente apoiasse a justiça social no sentido substantivado pela esquerda, perderia de uma só vez toda a sua credibilidade acadêmica. Isso seria, com efeito, pedir que seus professores defendessem o socialismo. E isso é totalmente incompatível com a liberdade acadêmica: o direito de buscar o conhecimento com a mente aberta, e chegar a conclusões baseadas em pesquisas, evidência empírica, lógica etc., em vez de trabalhar com viseiras, sendo obrigado a chegar a apenas um ponto de vista em todas essas questões. Isso significaria, por exemplo, em economia, a área com a qual sou mais familiarizado, ser forçado a concluir que a lei do salário mínimo é a última e melhor esperança para trabalhadores desqualificados, e que seu contínuo aumento é tanto justo quanto eficiente; o livre comércio é pernicioso e explorador. É curioso observar que aqueles na comunidade universitária que estão mais pesadamente viciados à diversidade não conseguem tolera-la quando surge a divergência de opiniões, conclusões, prescrições de política pública etc.

E quanto a promover a Justiça Social no segundo sentido; não forçando conclusões às pesquisas mas meramente sugerindo que as questões dessa natureza sejam estudadas?

Isso ou é equivocado, ou é desnecessário.

É equivocado em disciplinas como matemática, física, química, música, contabilidade, estatística etc., já que esses campos não abordam normalmente questões relacionadas a Justiça Social. Não há modo “justo” ou “injusto” para lidar com cálculo, uma equação quadrática ou um regressão econométrica; há apenas os modos corretos e incorretos de resolver esses empreendimentos. Pedir, que é muito menos do que exigir que os professores desses campos se preocupem com pobreza, desenvolvimento econômico, diferença salarial ou poluição do ar é tira-los completamente de suas áreas de especialidade. É tão bobo quanto pedir a um filósofo que ensine música, ou vice versa.

E é totalmente desnecessário, particularmente nas ciências sociais mas também nas humanas. Porque se os membros dessas disciplinas já não estão conduzindo estudos em questões pertinentes à Justiça Social (e, é claro, em outras questões também) então eles estão simplesmente negligenciando os seus deveres. Se historiadores, sociólogos, antropólogos, economistas, filósofos estão ignorando pobreza, desemprego, guerra, ambientalismo etc., é provável que nenhuma exortação de áreas diversas resolva os problemas.

Faculdades e universidades portanto, devem cessar e desistir imediatamente de se rotular dessa maneira, e de promover todos os programas existentes para esse fim. É impróprio impor ao corpo docente e aos estudantes um ponto de vista sobre esses assuntos altamente controversos. Seria tão justo quanto impróprio fazê-lo a partir de um empreendimento livre, da perspectiva dos direitos de propriedade privada limitados  dentro de um governo, como é a presente postura deste na direção oposta. Para material crítico adicional dessas iniciativas, ver Michael Novak e  Walter Williams.

É claro, a justiça social pode ser definida ainda de uma terceira maneira: como a justiça que favorece a “arena” social, oposta aos outros pontos. Aqui, todos os combatentes intelectuais favoreceriam a promoção desse valor; a única diferença é que esquerdistas, por exemplo, querem representar alguma versão do igualitarismo, enquanto para libertários, a justiça consiste no respeito aos direitos de propriedade privada. Para que uma faculdade respeitasse a justiça social nesse sentido seria altamente problemático, em que dois aspectos diferentes seriam conotados na mesma frase.

 

Traduzido por Marília Ferreira

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