Mises e a Escola Austríaca – uma visão pessoal

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2 – A Teoria do Valor Subjetivo

O estudo da Economia Austríaca me ajudou de várias maneiras a compreender não só o que ocorre em nossa economia, mas também as desculpas dos economistas do sistema por não estarmos alcançando o paraíso que os políticos prometiam, contanto que suas leis fossem aprovadas. Chegou a hora, é claro, de eles prestarem muitos esclarecimentos, já que, depois de 70 anos de intervenção, as condições só pioraram e enfrentamos uma crise bancária internacional sem precedentes em toda a história.

De todas as importantes contribuições da Escola Austríaca, a teoria do valor subjetivo se mostrou a mais proveitosa para mim na compreensão do porquê as coisas não serem como os intervencionistas dizem que elas têm de ser. Segundo os adivinhos, sempre há uma desculpa fácil. Na Rússia, é sempre o clima. No intervencionista Estados Unidos são “os especialistas”, “o timing“, “os resíduos do capitalismo”, “a política tributária”, “gastos muito baixos”, “jogo de interesses” etc. As desculpas não têm fim.

Exceto por alguns poucos parlamentares, ninguém no Congresso jamais ouviu falar da teoria do valor subjetivo (ou da teoria do valor-trabalho, aliás), e ninguém dá a mínima. No entanto, creio que é crucial que eles compreendam a teoria se quisermos realizar reformas reais. Uma vez que se tem dado tão pouca atenção aos fundamentos, noções superficiais da teoria do valor-trabalho continuam a instigar muitos parlamentares a promover leis que garantam uma recompensa “justa” ao trabalhador. A explicação de como indivíduos, atuando livremente no mercado, determinam valores e preços de bens específicos dissipa os mitos propagados tanto pelos keynesianos quanto pelos monetaristas. Os keynesianos culpam os árabes pela inflação; os monetaristas, restringindo suas ideias à quantidade de moeda como o único determinante dos preços, suscitam mais perguntas do que respondem. Foi apenas por meio de uma compreensão básica de como os preços são determinados subjetivamente que não cedi aos argumentos “plausíveis” dos planejadores que conseguem se ater a verdades parciais e a consequências de curto prazo. Quando analisada sob um ponto de vista austríaco, a “estagflação” não tem nada do mistério que se proclamava na recessão de 1974 a 1976.

Há alguns que já ouviram falar da teoria do valor subjetivo mas que hesitam a aceitá-la porque preferem a “objetividade” à “subjetividade.” No entanto, se os consumidores estabelecem subjetivamente os preços e os valores afetando a oferta e a demanda (e, assim, as vendas), essa é uma importante descoberta objetiva. Apenas porque podemos medir agregados monetários, ou horas gastas na fabricação de um bem, decidimos que esses fatos objetivos podem ser utilizados para determinar o valor. No entanto, não é de fato assim que os preços são determinados, de modo que esses fatos não são objetivamente úteis para esse fim. Aqueles que usam esses fatos “objetivos” para calcular “níveis de preço” futuros negam sem pestanejar a objetividade de certas leis econômicas que são manifestamente evidentes, por exemplo, o planejamento estatal leva ao caos; imprimir moeda não cria nova riqueza; moeda de curso forçado não pode substituir a moeda-mercadoria sem uso da força ou fraude etc. Portanto, eles negam a subjetividade onde ela é importante — na compreensão de como preços individuais são estabelecidos — e ignoram leis econômicas objetivas, de modo que seus programas de planejamento possam ser levados a cabo. Esse mecanismo é tão conveniente quanto ignorante. Ele permite que os planejadores em Washington desafiem persistentemente todas as leis econômicas, a fim de que os políticos possam pôr em prática noções pré-concebidas e errôneas a respeito do que é melhor para todos.

Ao aceitarem a ideia de que os preços são uma consequência “objetiva” de certos acontecimentos anteriores — da oferta de moeda, de boicotes ao petróleo, de acertos salariais ou da política agrícola —, eles naturalmente sentem que os preços podem ser alterados com facilidade. Projetos de lei para estabelecer salários, preços, o crédito, dividendos e controles de lucros foram apresentados no Congresso e podiam concebivelmente ser aprovados, se as condições “autorizassem.” Embora a precificação de livre mercado seja crucial para transmitir as mensagens necessárias aos empreendedores e aos consumidores, sua origem é absolutamente mal compreendida em Washington, de modo que não surpreende que nossa economia permaneça ameaçada.

Se não há qualquer compreensão abrangente dos fundamentos de uma estrutura de livre precificação, a economia de mercado sempre estará ameaçada. E sem uma estrutura de livre precificação, o mercado não pode funcionar. Para compreender como os preços são determinados, temos de compreender a teoria do valor subjetivo.

 

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Ron Paul
é médico e ex-congressista republicano do Texas. Foi candidato à presidente dos Estados Unidos em 1988 pelo partido libertário e candidato à nomeação para as eleições presidenciais de 2008 e 2012 pelo partido republicano. É autor de diversos livros sobre a Escola Austríaca de economia e a filosofia política libertária como Mises e a Escola Austríaca: uma visão pessoal, Definindo a liberdade, O Fim do Fed – por que acabar com o Banco Central (2009), The Case for Gold (1982), The Revolution: A Manifesto (2008), Pillars of Prosperity (2008) e A Foreign Policy of Freedom (2007). O doutor Paul foi um dos fundadores do Ludwig von Mises Institute, em 1982, e no ano de 2013 fundou o Ron Paul Institute for Peace and Prosperity e o The Ron Paul Channel.

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