Moeda, Crédito Bancário e Ciclos Econômicos

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Prefácio à Quinta Edição Espanhola.

            Durante os anos transcorridos desde a última edição de Moeda, Crédito Bancário e Ciclos Econômicos, o processo de recessão econômica desencadeado pela crise financeira de 2007 continuou.  Tal processo consiste no inevitável reajuste e reestruturação microeconômica de uma estrutura produtiva real que, como consequência da expansão do crédito dos anos anteriores de “bolha especulativa”, se tornara insustentável.  Ainda que a política fiscal e monetária dos governos tenha sido errática e contraproducente, ao fim, o crescimento desmedido do déficit das administrações públicas gerou nos mercados internacionais uma irrestrita crise da dívida pública de gravidade tal que os diferentes governos, um a um, se viram obrigados a tomar medidas, ainda que tímidas, na direção correta, reduzindo o gasto público, o intervencionismo e a regulamentação da economia ao flexibilizar e liberalizar os mercados dos fatores de produção e, especialmente, do mercado de trabalho.

Neste sentido, é preciso ressaltar a situação daqueles países que, como a Espanha, pela primeira vez na história tiveram de enfrentar uma profunda crise econômica sem autonomia monetária, por fazer parte da União Monetária Europeia.  Para os países do euro, de modo semelhante ao papel que exerceu na época o padrão-ouro, acabou com o nacionalismo monetário e com a possibilidade de reagir à crise expandido o volume monetário, depreciando ou desvalorizando a moeda e prorrogando indefinidamente as necessárias reformas estruturais de austeridade do setor público e de liberalização econômica.  Curiosamente, pela primeira vez, nossos políticos não tiveram outro remédio salvo dizer, finalmente, a verdade sobre a gravidade da situação dos cidadãos, empreendendo reformas que até aquele momento pareciam impensáveis de ser politicamente possíveis.  E, ainda que fosse apenas por isso, deveriam ser especialmente gratos aoeuro, ao menos aqueles membros da União Monetária que normalmente, até então, haviam seguido políticas econômicas menos austeras e mais irresponsáveis.[1]

Neste contexto econômico e político, a análise contida no presente livro sobre as causas da crise e as necessárias reformas do atual sistema bancário e financeiro, para que as mesmas inevitavelmente não se reproduzam no futuro, adquirem máxima atualidade e relevância.  Uma boa prova e exemplo disso foi a apresentação no parlamento do Reino Unido, feita pelos deputados tories, de um projeto de lei, cujo ápice seria chegar à lei bancária de Peel de 19 de julho de 1844 (curiosamente ainda em vigor) exigindo também o coeficiente de caixa de 100% para os depósitos à vista e equivalentes, todos em consonância com uma das três prescrições do presente livro (as outras são a eliminação do banco central e o retorno ao padrão-ouro) cujo presente autor foi expressamente citado na apresentação diante da dita Câmara.[2]  Em todo o caso, o mero fato de se discutir no âmbito político esse projeto de reforma tem, por si só, uma extraordinária importância e nos faz nutrir esperanças de que, talvez, estejamos tomando um bom rumo.

Outro motivo de esperança, e de satisfação para o autor das presentes linhas, é o crescente número de traduções em línguas estrangeiras do presente livro que surgiram num curto espaço de tempo, desde a última edição em 2009.  Concretamente, neste período foram publicadas as traduções polonesa, tcheca, romena, holandesa, francesa, alemã e italiana.  Em suma, até o final da redação deste prefácio, o livro já foi traduzido em treze idiomas distintos e foi publicado em dez países diferentes.[3]

Em todo caso, e independente de que tais indícios no futuro se vejam confirmados e coroados de êxito, nossa responsabilidade inalienável como acadêmicos e teóricos da economia consiste em concentrar esforços na pesquisa e busca da verdade científica, entregando às futuras gerações um corpo de conhecimentos e princípios que lhes traga incentivos para prosseguir sem entraves e multiplicar ilimitadamente o progresso da humanidade e da civilização.

 

 

 

 

 

El Aprisco, Señorio de Sarría,

Jesús Huerta de Soto

Quinta-feira Santa

21 de abril de 2011

 



[1] Sem dúvida, a percepção alemã, cuja tradicional austeridade monetária corre perigo de desestabilização em consequência do euro, é diferente.  Ver, neste sentido, Philipp Bagus, The Tragedy of the Euro, Ludwig von Mises Institute, Auburn, 2011.

[2] Trata-se da Financial Services Bill (Regulation of Deposits and Lending) apresentada no parlamento britânico em 15 de setembro de 2010 pelos deputados tories representantes de Clacton e Wycombe, Douglas Carswell e Steve Baker, cujo discurso de apresentação se encontra publicado no boletim de debates parlamentares Hansard da mesma data (vol.515, n.46, p. 904-05).

[3] Desejo expressar meus agradecimentos especiais aos tradutores e editores das seguintes edições: polonesa (tradução de Grzegorz Luczkiewicz publicada em Varsóvia pelo Instytut Ludwiga von Misesa no ano de 2009); tcheca e eslovaca (tradução de M. Fronék, A, Túma, D. Vo?echovsky, J. Havél e M. Janda, publicada em Praga por ASPI-Wolters Kluwer em 2009); romena (tradução de Diana Costea e Tudor Smirna, publicada em Ia?i pela editora da Universidade “Alexandru Ioan Cuza” em 2010); GO holandesa e flamenca (tradução de Tuur Demeester e Koen Swinkels, publicada em Louvain e Haya por ACCO em 2011); francesa (tradução da professora Rosine Létinier, publicada em Paris por L’Harmattan em 2011); alemã (tradução do professor Philipp Bagus, publicada por Lucius & Lucius em 2011) e italiana (tradução de Giancarlo Ianulardo, publicada por Rubettino em 2011).  Por último, já terminaram as traduções chinesa, portuguesa, japonesa e árabe, que serão publicadas, com a graça de Deus, num futuro próximo.

 

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