Os libertários são os novos comunistas?

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A Bloomberg publicou tempos atrás um artigo intitulado Os libertários são os novos comunistas, de Nick Hanauer e Eric Liu. Como seria de se esperar, para chegar à essa conclusão – que essas duas filosofias políticas diametralmente opostas inevitavelmente levam ao colapso da sociedade – os autores confiam na ignorância intencional ou na prevaricação deliberada. Como Liu era redator de discursos e conselheiro de políticas de Bill Clinton, você pode adivinhar para que lado estou me inclinando.

Em primeiro lugar, eles definem o libertarianismo “radical” como “a ideologia que sustenta que a liberdade individual supera todos os outros valores”. O comunismo, por outro lado, é definido como a “ideologia da dominação estatal extrema da vida privada e econômica”.

Embora essas declarações reflitam as consequências do mundo real dessas ideologias, as definições reais de libertarianismo e comunismo dizem respeito a como cada um lida com a propriedade privada.

O libertarianismo é baseado na ideia de que os indivíduos são donos de seus corpos e de suas vidas. Com base nas ideias de John Locke e outros, a teoria libertária da propriedade afirma que os indivíduos têm um direito natural à vida, à liberdade e à propriedade. Em um estado de sociedade, ou seja, envolvendo outras pessoas, isso significa que nenhum indivíduo tem o direito de infringir a vida, a liberdade ou a propriedade adquirida de forma justa sem justa causa. Os libertários chamam isso de “o axioma da não agressão”.

O comunismo, por outro lado, baseia-se na abolição de toda propriedade privada. É a antítese do libertarianismo. De acordo com seus teóricos utópicos, o comunismo deveria levar a uma sociedade sem classes e à forma final de igualitarismo. Infelizmente, o oposto sempre acontece e a sociedade é rapidamente segregada em governantes e governados.

De um ponto de vista puramente econômico, a razão pela qual o comunismo entra em colapso é a ausência de preços de mercado, como explicado por Ludwig von Mises em seu O cálculo econômico sob o socialismo.

Estranhamente, Hanauer e Liu não mencionam a questão da propriedade ao comparar libertarianismo e comunismo.

Tampouco mencionam que os libertários acreditam que o Estado deve ser submetido aos mesmos padrões morais aos quais o indivíduo está sujeito. Não é apenas errado que o indivíduo roube, cometa fraude e assassinato, é errado que o governo faça essas coisas também.

Em outras palavras, um grupo de indivíduos – mesmo aquele que se autodenomina governo – não pode ter mais direitos e autoridades do que cada pessoa dentro do grupo tem como indivíduo. Afinal, seria absurdo dizer que tenho o direito de pegar seu carro sem sua permissão, se eu conseguisse convencer um número suficiente de pessoas a se juntarem a mim. Claro, se isso acontecer, você ainda pode perder seu carro, mas ninguém vai argumentar que eu tenho o direito de pegá-lo.

Quando se trata do Estado, esse bom senso evapora.

O Estado, por definição, é uma organização que reivindica a autoridade legal para iniciar a violência contra indivíduos pacíficos. Esse monopólio legal da coação é o que torna o Estado único e não apenas mais uma corporação. Mesmo um comunista como Mao Tse-tung reconheceu a natureza do Estado quando disse que “o poder político nasce do cano de uma arma”.

Hanauer e Liu nunca reconhecem esse fato em seu artigo. Para eles, o Estado é afetuoso e maravilhoso: a expressão máxima da cooperação social. Essa atitude é pura fantasia. Embora o Estado possa às vezes visar fins nobres, nunca devemos perder de vista os meios maléficos que ele utiliza para alcançar esses fins.

Assim, enquanto os autores afirmam que o comunismo e o libertarianismo são “primos”, eles ignoram os fundamentos morais do libertarianismo. Toda a filosofia libertária é construída sobre a paz e a cooperação por meio do livre mercado. O libertarianismo é apenas “radical” no sentido etimológico: a rejeição da coerção – seja pelo indivíduo ou pelo governo – é a raiz da filosofia.

Claro, o que realmente preocupa Hanauer e Liu é o controle do governo sobre a economia. Eles não conseguem ver nem mesmo a distinção entre capitalistas clientelistas e verdadeiros comerciantes do livre mercado. Em vez disso, Hanauer e Liu juntam todos eles e colocam o rótulo de “libertários anti-estado niilistas”.

Enquanto isso, os “libertários sociais” (pessoas que se dizem libertárias porque “apoiam o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou condenam a espionagem do governo”) não são uma fonte de preocupação. Aqui, Hanauer e Liu deturpam a posição libertária em questões sociais. Embora todos os libertários se oponham à espionagem do governo, a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo não é tão clara precisamente porque o Estado está envolvido. Dependendo de sua afiliação religiosa ou crenças pessoais, um libertário pode apoiar ou se opor ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. O que todos nós libertários concordamos é que o Estado não tem o direito de regular o casamento.

O libertarianismo, no entanto, não pode ser dividido em categorias sociais e econômicas como “fiscalmente conservador, mas socialmente liberal”. Para os libertários, não há diferença entre liberdade econômica e liberdade pessoal. Sem uma, você não pode ter a outra.

O artigo difamatório de Hanauer e Liu se trata apenas de reflexões de pretensos tiranos que pensam que deveriam estar comandando as coisas. Apesar de sua retórica afetuosa e vaga, progressistas como Hanauer e Liu querem controlar sua vida por meio de programas de cima para baixo apoiados pela ameaça implícita do uso da força.

Os libertários querem que você seja livre para viver sua vida como quiser, desde que estenda esse direito a todos os outros.

Qual alternativa soa mais como comunismo para você?

 

 

Artigo original aqui

 

1 COMENTÁRIO

  1. “O Estado, por definição, é uma organização que reivindica a autoridade legal para iniciar a violência contra indivíduos pacíficos.”

    A máfia estatal de maneira maliciosa chama isso de “monopólio legítimo do uso da força”. Eu concordaria com isso. A frase é bonitinha e provavelmente remete imediatamente as brincadeiras da infância – ao menos quando era normal, quando policia era bom e bandido ruim. Mas só existe um único tipo de violêcia legítima: a defesa da própria vida e do patrimônio. E obviamente isso não te nada a ver com a gangue de ladrões em larga escala estatal, cuja violência agressiva é codição sine qua nom de sua existência.

    “Em vez disso, Hanauer e Liu juntam todos eles e colocam o rótulo de ‘libertários anti-estado niilistas”.

    É exatamente isso que um liberalóide radiano do estado mínimo, do alto da sua insigificância intelectual, e dizia quando eu apontava seus erros doutrinários. Além de afirmar que a sociedade natural de acordos voluntários que eu defendo se transformaria no monopólio de uma justiça aleatória praticada por traficantes de drogas… sim, eu lembro destas palavras…

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