Por que a maconha foi proibida? As verdadeiras razões são piores do que você pensa

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Para entender como a cannabis se tornou tão estigmatizada, você tem que entender algo sobre uma planta que é muito semelhante à cannabis, mas diferente o suficiente para que sua ilegalidade seja absurda: o cânhamo.

Se eu lhe dissesse que hoje existe uma planta que pode ser cultivada em praticamente qualquer solo, pode prosperar sem o uso de pesticidas e pode ser cultivada com pouca manutenção, e que esta planta mágica pode ser usada em um grande número de necessidades e bens que usamos hoje, mas não estamos fazendo nada sobre isso, você pensaria: “Cara, você deve estar chapado ou sob efeito de alguma outra droga barata”?

Bem, eu não estou chapado e nem fico chapado, mas deixe-me dizer, há uma planta disponível agora que é frequentemente confundida com maconha, mas tem capacidades que estão além do que você poderia imaginar. É chamada cânhamo.

A primeira vista, o cânhamo se parece muito com a maconha e é tecnicamente da mesma família de plantas. Mas, ao contrário da maconha moderna, ele não contém nem de perto a quantidade de THC necessária para alguém ficar chapado se fumar. O engraçado é que o cânhamo é tão ilegal para o plantio quanto a maconha é. Mas como pode ser isso? Se não podemos ficar chapado com isso, então qual é o problema?

No passado, o cânhamo era usado para muitas coisas: roupas, carros, plásticos, materiais de construção, corda, papel, roupa de cama, comida, remédios e assim por diante. Na verdade, costumava ser obrigatório nos Estados Unidos que os agricultores cultivassem o cânhamo se tivessem terra. Você pode encontrar ainda mais sobre o cânhamo aqui.

O fato é que o cânhamo era muito popular durante os anos 1800 e 1900, porque era incrivelmente útil e fácil de cultivar, e seus produtos derivados eram bastante duradouros. Mas um dia tudo mudou; tornou-se ilegal e o mesmo aconteceu com a sua amiga cannabis (maconha). Como isso aconteceu?

A história

Durante a presidência de Hebert Hoover, Andrew Mellon tornou-se o Secretário do Tesouro de Hoover e principal investidor da Dupont. Ele nomeou seu futuro sobrinho, Harry J. Anslinger, para chefiar o Departamento Federal de Narcóticos e Drogas Perigosas.

Reuniões secretas foram realizadas por esses magnatas financeiros. O cânhamo foi declarado perigoso e uma ameaça para suas empresas de bilhões de dólares. Para sua dinastia permanecer intacta, o cânhamo tinha que desaparecer. Isso os levou a pegar uma obscura palavra de gíria mexicana – “maconha” – e colocá-la na consciência dos EUA. A razão pela qual eles mudaram o nome foi porque todos conheciam o cânhamo e como ele era incrível para o mundo. Eles nunca seriam capazes de passar a proibição do cânhamo, então usaram um nome que sabiam que ninguém reconheceria.

Não muito tempo depois desse plano ter sido implementado, a mídia começou uma explosão de “imprensa marrom” no final dos anos 1920 e 1930. A imprensa marrom é essencialmente o jornalismo onde as reportagens com títulos chamativos são colocadas na grande mídia para chamar a atenção, mas essas histórias não são bem pesquisadas ou têm fontes duvidosas. Elas são frequentemente usadas simplesmente para influenciar a opinião pública. Muitos jornais estavam bombando histórias enfatizando os horrores e perigos da maconha. A “ameaça” da maconha fez manchetes em toda parte. Os leitores aprenderam que ela era responsável por tudo, desde acidentes de carro até imoralidades, e não demorou muito para que a opinião pública começasse a se moldar.

Em seguida vieram vários filmes como Reefer Madness (1936), Marihuana: Assassin of Youth (1935) e Marihuana: The Devil’s Weed (1936), que eram todos filmes de propaganda projetados por esses industriais para criar um inimigo a partir da maconha. Reefer Madness foi possivelmente o mais interessante dos filmes, pois mostrava um homem enlouquecido de fumar maconha que depois assassina sua família com um machado. Com todos esses filmes, o objetivo era obter apoio público para que as leis anti-maconha pudessem ser aprovadas sem objeção.

Dê uma olhada nos seguintes atributos a respeito da maconha do The Burning Question, vulgo Reefer Madness:

  • Um narcótico violento
  • Atos de violência chocante
  • Insanidade incurável
  • Efeitos destruidores de alma
  • Sob a influência da droga, ele matou toda a sua família com um machado
  • Mais cruel, mais mortal até do que essas drogas que destroem a alma (heroína, cocaína), é a ameaça da maconha!

Ao contrário da maioria dos filmes com um final simples, Reefer Madness terminou com palavras em negrito na tela: DIGA A SEUS FILHOS.

Nos anos 1930, muitas coisas eram bem diferentes de hoje. A população não questionava as autoridades ou a mídia da maneira que fazemos agora, e eles não tinham ferramentas como a Internet para espalhar rapidamente informações e aprender sobre as coisas que estavam acontecendo. A maioria construiu suas opiniões e crenças através das notícias de jornais, rádio ou cinema. Como resultado (e graças à instrução explícita das principais notícias), muitas pessoas contaram aos filhos sobre a maconha. Assim, a opinião pública sobre esta planta foi formada.

Em 14 de abril de 1937, a Lei Tributária de Proibição da Maconha, o projeto de lei que proibiu o cânhamo, foi diretamente levado ao Comitê da Câmara Ways and Means. Simplificando, este comitê é o único que pode apresentar um projeto de lei ao plenário da Câmara sem que seja debatido por outros comitês. Na época, o presidente da Ways and Means era Robert Doughton, que era um partidário da Dupont. Com interesse próprio, ele garantiu que o projeto passaria no Congresso.

Em uma tentativa de impedir a aprovação da lei, o Dr. James Woodward, um médico e advogado, tentou testemunhar em nome da Associação Médica Americana. Ele mencionou que a razão pela qual a AMA não havia denunciado a Lei Tributária da Maconha mais cedo, era porque a Associação havia acabado de descobrir que a maconha era o cânhamo (ou pelo menos uma variedade dele).

Cânhamo e maconha são ambas variedades de Cannabis Sativa, mas essa distinção foi intencionalmente obscurecida do público. Como a lei não estava focada em proibir um ou outro, ambos entraram na proibição. A AMA reconheceu a cannabis/maconha como um remédio encontrado em numerosos produtos de cura vendidos que tinham sido usados há algum tempo. A AMA, como muitos outros, não percebeu que a ameaça mortal que eles estavam lendo na mídia era de fato cânhamo.

Em setembro de 1937, a proibição do cânhamo começou. O que era indiscutivelmente a planta mais útil conhecida pelo homem na época, pelo menos no Ocidente, tornou-se ilegal cultivar e usar: cannabis (maconha) e cânhamo, um costumava dar má fama ao outro, mesmo que na verdade nenhum deles merecesse ter um retrospecto negativo. Até hoje, esta planta ainda é ilegal para plantio nos Estados Unidos.

Para o público, o Congresso proibiu o cânhamo e a cannabis porque se dizia que era uma droga violenta e perigosa. Na realidade, o cânhamo não é nada além de um recurso incrível para praticamente qualquer indústria e qualquer produto, e a cannabis é e pode ser uma substância médica útil que, quando administrada corretamente, pode ter muitos benefícios. Mas também deve ser mencionado que a cannabis foi usada abusivamente ao longo dos anos e tem seus efeitos colaterais negativos. Essa é uma realidade que muitos na comunidade não querem admitir, mas precisa ser dito. Sabemos os efeitos que tem sobre os usuários regulares com menos de 25 anos, bem como o que o uso regular pesado pode fazer aos níveis de serotonina.[1]

Avançando para os dias de hoje, fica claro que estamos com alguns problemas quando nos referimos a como tratamos o meio ambiente. Os recursos e práticas que usamos hoje para gerar energia, bem como a criação de produtos, são muito prejudiciais e tóxicos não apenas para o nosso planeta, mas para nós mesmos. Apesar da consciência que existe sobre o cânhamo como uma opção para transformar a maneira como as coisas podem ser feitas neste planeta, os governos continuam proibindo esta planta, e ele ainda é muitas vezes confundido com a maconha devido à sua aparência similar.

Felizmente, muito mais progresso cultural e regulatório está sendo feito do lado da cannabis, não só para ilustrar o valor do medicamento, mas também para entender melhor seus perigos potenciais. Isso ajuda a descobrir a diferença entre fato e ficção para que possamos usar a planta de maneira responsável, aproveitando os benefícios dela.

 

Artigo original aqui.

Tradução de Daniel Navalon

 

[1] https://www.mcgill.ca/newsroom/channels/news/study-cannabis-double-edged-sword-27677

8 COMENTÁRIOS

  1. Muito bom este artigo, neste sítio podemos encontrar os melhores artigos que já vi. São poucos em periodo de tempo adequado. Se me permitem gostaria de sugerir uma pequena mudança. Na opção de mudança de língua, consta uma bandeira do país sede da maçonaria, favor alterar para aquele outro menos horrível onde se fala o inglês original.

    • Obrigado Bastiat.
      Infelizmente o inglês é hoje o segundo idioma mundial graças ao imperialismo americano. Então a bandeirinha do país dos maçons é a mais correta mesmo.

  2. Por que a DuPont não tentou utilizar o cânhamo em seus negócios ao invés de tentar mudar a opinião pública e proibi-lo ?

    No texto só diz que:

    “Reuniões secretas foram realizadas por esses magnatas financeiros. O cânhamo foi declarado perigoso e uma ameaça para suas empresas de bilhões de dólares. Para sua dinastia permanecer intacta, o cânhamo tinha que desaparecer.”

    Mas não explica o por que era mais vantajoso economicamente para a DuPont e outras indústrias proibirem o cânhamo do que utilizarem essa planta em sua produção e simplesmente vencer os concorrentes pela maior produtividade operando com uma margem de lucro reduzida e um grande volume de vendas, visto que já eram empresas grandes e consolidadas na época.

    • Mas isso é exatamente o que todas as empresas grandes e consolidadas fazem: se voltam para o estado para dificultar a concorrência.

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