Uma análise austrolibertária do Lockdown

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Diante do Lockdown como medida pra evitar a contaminação do covid-19, vários estados estão seguindo a orientação de permitir o funcionamento apenas de serviços considerados “essenciais“, entre eles supermercados, farmácias, hospitais, etc. Dado que esses serviços em geral são tidos como os mais indispensáveis à manutenção do bem estar humano, para muitos faz sentido permitir que apenas esses funcionem, e assim se evitem aglomerações que possam aumentar a contaminação do vírus. No entanto, algumas observações com base em questões éticas e econômicas nos levam a entender que além disso ser uma medida autoritária e injustificada também é economicamente contraproducente.

Por uma questão ética, como libertário reconheço que todo indivíduo possui direito de propriedade sobre seu próprio corpo e bens que ele adquiriu ou através de apropriação original ou de trocas voluntárias, sendo assim cabe ao indivíduo decidir o que fazer com sua propriedade de acordo com o juízo de valor que ele faz sobre ela, assim cabendo a ele decidir se quer sair para trabalhar, transacionar ou produzir qualquer bem ou simplesmente transitar por qualquer espaço que os devidos proprietários permitam. Qualquer impedimento desse livre exercício será uma violação desse direito e qualquer resistência a essa violação estará legitimada. Dada a explicação ética, a qual é a mais importante, iremos então para as questões econômicas, também importantes, e primeiramente no âmbito individual.

Como também sou um defensor da economia de mercado tendo a escola austríaca como única forma de entender a dinâmica do mercado e tendo em mente seus insights sobre isso, comecemos com o fundamento último da economia, que é esse: indivíduos agem usando meios para alcançar fins que eles julguem mais satisfatórios que a condição na qual se encontram.

Dentro de um contexto econômico não há como determinar quais fins cada indivíduo deve almejar, uma vez que não há nenhuma condição geral e necessária além dessa -que cada indivíduo busca o fim que ele julga mais satisfatório – que nos diga quais fins cada agente tem que desejar alcançar, nos impedindo assim de determinar o que cada um deveria considerar mais importante e ESSENCIAL para si! Sendo assim, o julgamento o que é importante ou não para cada agente, cabe a esse mesmo, e isso já respaldado pelo seu direito de propriedade.

Prosseguindo o raciocínio e chegando já no âmbito econômico a nível coletivo, isso nos permite entender melhor as consequências a nível econômico do Lockdown forçado fechando estabelecimentos julgados pelos estados como serviços “menos essenciais”.

Sabendo que uma economia próspera garantindo a mútua satisfação das demandas de todos os agentes envolvidos nela depende que todos possam empreender seus fatores de produção de tal modo que possam contribuir com sua parte para esse enriquecimento, se entende que qualquer impedimento da participação de alguns desses a médio e longo prazo – e a depender de alguns serviços, a curto prazo – irão afetar fortemente a economia. Vejamos como isso se dá:

Ao fechar certos estabelecimentos se alegando que são menos “essenciais”, os estados estarão impedindo que eles continuem produzindo ou fornecendo certos itens considerados importantes pelos agentes (a despeito da imposição dos estados), privando o outro lado, produtores e fornecedores, de receberem pela venda desses bens, o que com o tempo irá reduzir a receita da empresa, tornando inviável manter certos gastos que não estarão dando retorno, como mão de obra por exemplo.

Essa mesma mão de obra agora desempregada não terá renda para adquirir bens, inclusive aqueles julgados por políticos e burocratas como “essenciais”, os prejudicando fortemente, sem falar que esses mesmos também não poderão fornecer receita para as empresas que poderiam vender esses bens, também as prejudicando, principalmente pequenas e médias empresas que por terem em muitos casos produtos de baixo custo e fácil acesso, seriam uma alternativa para aqueles com rendimentos mais modestos, como o caso de pequenas lanchonetes, salões de beleza, bares, armazéns, etc, e que acabam sendo os primeiros a sentirem o impacto da paralisação devido o Lockdown.

Evidentemente que as empresas que possuem maior capital financeiro e maior estrutura logística serão as menos afetadas e de fato segundo dados recentes foram os tipos de empreendimentos que mais lucraram (na verdade concentraram lucro) durante o Lockdown, bem como os trabalhadores e profissionais com maior salário (principalmente os funcionários públicos, ainda mais os do alto escalão, com emprego e salários garantidos por “lei”), devido ao fato de disporem de maior poupança e também fazerem maior estoque diante de uma possível escassez de bens, acabam também reduzindo a oferta de bens os encarecendo e reduzindo o já reduzido poder de compra dos mais pobres.

Como se vê, o próprio Lockdown leva a uma maior desigualdade de renda tão alardeada pela esquerda que estranhamente em grande parte com raras exceções – como a ala marxista ortodoxa representada no Brasil principalmente pelo PCO – a maior parte dela defende e apoia a paralisação total como medida necessária contra o Covid-19. Não só a esquerda, mas todos que defendem essa paralisação total o fazem totalmente desprovidos de entendimento sobre as implicações éticas, econômicas, sociais e morais que isso acarreta.

Como libertários, reconhecemos que o perigo do covid-19 é real e é importante e necessário que tomemos medidas que possam evitar uma maior propagação do mesmo. No entanto, sendo libertários devemos rejeitar toda forma de tirania, como essa imposição forçada que não permite que os próprios indivíduos, dentro do seu direito, decidam como lidar com ele, também devemos levar em conta a importância da questão econômica, afinal, medidas econômicas imprudentes podem ser fatais para o bem estar de toda uma sociedade.

Os especialistas da área da saúde estão corretos em se preocupar com o perigo que vírus carrega, e os dados científicos levantados devem ser levados em consideração. Porém, falham em ignorar os aspectos econômicos, sociais, éticos e morais que o Lockdown impõe, impedindo-os de enxergar uma alternativa que seja a menos prejudicial possível em todos os aspectos e que também não seja uma medida autoritária.

Uma solução libertária economicamente eficaz contra o Covid-19

Levando em conta as informações que se tem até então confirmadas por especialistas e pela própria OMS,  a probabilidade de contágio entre pessoas assintomáticas é muito baixa, e esses também são o caso da maioria dos contaminados pelo Covid-19, e que o grupo de risco formado principalmente por idosos e pessoas com certas doenças graves, o mais sensato seria orientar a esse último grupo a ficar em isolamento e estabelecimentos evitarem que pessoas desse grupo transitem em seus espaços e que os demais possam transitar livremente e manter suas atividades normais, usando das devidas precauções para evitar contágios, claro. Só lembrando que isso seria uma ORIENTAÇÃO, não devemos defender a imposição de nenhuma medida autoritária, só falo aqui do que seria a medida que acredito ser a ética e ao mesmo tempo eficaz e que não traga, ou traga o mínimo possível, de consequências econômicas e sociais.

Ao invés de “Fique Em Case”, devemos defender o direito de cada um decidir como lidar com o Covid-19.

 

1 COMENTÁRIO

  1. Excelente artigo!

    Governos só sobrevivem da doutrinação e propaganda. O estado hoje é um grande aparelho ideológico. Como libertários, devemos apenas compreender como isso funciona. Nosso espaço é o lugar de fala anti-estatal não revoluções.

    O governo precisa de verossimilhança com a realidade, senão, já teria falido. Todas as medidas que a máfia estatal está tomando são razoáveis, mas não funcionam – mas principalmente agravam o problema.

    A questão da máscara é o símbolo por excelência desta situação: não faz a menor diferença usar, mas para a vasta maioria das ovelhas, é um colete à prova de balas. E funciona! Se o vírus é invisível, como não acreditar no “especialista”? Infelizmente faz todo o sentido.

    A divisão entre essencial e não-essencial segue o mesmo princípio da verossimelhança. O bom senso pessoal diz que arroz com feijão é essencial, mas beber no boteco não. Então faz todo o sentido fechar os bares. Só que o que os vagabundos da gangue de ladrões em larga escala não dizem é que a vida só vale a pena pela parte “não essencial”. Ainda que tudo o que existe é essencial, a questão é como o autor colocou: fechar tudo deveria ser uma recomendação, nada além disso.

    Mas jamais podemos esquecer que o objetivo do estado leviatã jamais foi “salvar vidas” – e. Única será, mas somente ampliar o controle ideológico sobre a população.

    Um católico inspirado em “A imitação de Cristo” diria: mais vírus, menos máscaras, distanciamento social e quarentenas. Mas o que eu posso fazer se essa geração secular tem medo de uma gripizinha mas não de ir para o inferno?

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