Uma tarde no supermercado . . .

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Era mais um dia em um supermercado desses de atacarejo, dos que ficam na beira da estrada mesmo na região da Grande Florianópolis. As pessoas o frequentam justamente por ser mais barato, ao ponto de deslocarem-se para aproveitar os preços mais baixos. Aquele era um dia movimentado e puxando o seu carrinho estava Débora Hoffmann, uma mulher de cabelos loiros num estilo que se assemelhavam ao da Princesa Diana, olhos azuis, com calças jeans de corte tradicional e uma camisa xadrez com brincos de pérolas em suas orelhas, sua aliança de casamento e um singelo solitário de ouro com uma pequenina água marinha.

Ela é a dona de uma pequena joalheria num shopping próximo ao mar e casada com o dono de uma empresa de tecnologia que ficava na região da SC-401, levava realmente uma vida próspera e tinha uns 35 anos.

Ela passava por entre as prateleiras da sessão de chás, onde procurava comprar algo como um Russian Caravan ou um Prince of Wales para beber durante as tardes de outono com um pouco de leite enquanto comia queijo brie com mel. Seus olhos procuravam o que desejava, quando então ela escuta uma voz feminina lhe dizendo:

  • Este mês vou ter que levar menos chá, o preço aumentou muito, é isso ou tomar o chá preto nacional genérico de gosto extremamente amargo…

Ao ouvir o lamento, Débora começa a notar que ele de fato é real, os preços aumentaram muito, apesar dela não precisar levar menos chá, sua empatia a fez sentir a dor da desconhecida, o que a leva a dizer:

  • É verdade, os preços dos chás importados aumentaram muito e de fato esses chás brasileiros são imbebíveis… Aliás, quem é você?
  • Eu sou Helena Petry.

Então Débora olha para os olhos castanhos da recém-conhecida e pergunta:

  • O que você faz da vida?
  • Eu sou apenas uma dona de casa, apenas crio meus três filhos e cuido da casa, meu marido me dá o dinheiro para fazer as compras do mês e para que eu possa viver…

Débora então solta um olhar de ligeira estranheza para a mulher vestindo um vestido preto florido com pequenas orquídeas e se apresenta:

  • Eu sou Débora Hoffmann e eu tenho uma loja no shopping…
  • Que tipo de loja?
  • Uma joalheria.

Então Helena pergunta:

  • Você sabe por qual motivo esses preços sempre sobem e quase nunca caem praticamente? Há 10 anos atrás era tudo muito mais barato, há 20 anos ainda mais.
  • Eu sei.
  • Por que você sabe?
  • Eu costumo ler livros de Economia que na escola o governo não gostaria que lêssemos e outros no tema, como os de Böhm-Bawerk.
  • Legal, não sei o que é isso, mas deve ser bom. Agora me diga, qual é a razão desses preços serem assim?
  • A razão principal é a emissão de moeda sem lastro.
  • Mas o que seria isso?
  • Seria imprimir dinheiro sem ter nada garantindo, é dinheiro criado do nada!
  • Mas quem imprime esse dinheiro e por que faz isso?
  • Quem imprime é o banco central para injetar no mercado aberto de títulos públicos do governo visando tornar os juros mais baixos do que seriam, o que também aumenta a velocidade da moeda com a facilitação do crédito e leva a aumentos ainda maiores dos preços.
  • Entendi, e por que ele faz isso?
  • Para manter o poder dos políticos por trás do estado, pois é uma necessidade de tal entidade, que ele imprima dinheiro para cobrir as dívidas que ele faz devido aos gastos públicos…
  • Realmente, esses políticos apenas desejam sugar a riqueza da população de algum modo…
  • Sim, assim como todos os que dependem da grande ficção onde todos tentam viver às custas de todos que é o estado.

Quando então, naquele mesmo corredor, após observar e escutar a conversa de Débora e Helena, estava Fabiana, uma mulher vestida como se estivesse em uma academia de ginástica dentro do supermercado e furiosa com a conversa que tinha acabado de escutar, que então diz:

  • Não dê ouvidos a essa dondoca burguesa ignorante, sem o estado você não seria nada, Helena!

Débora entra em um estado melancólico de choque e Helena questiona:

  • Quem é você e por que diz isso?
  • Eu sou a Professora Fabiana Machado, alguém com autoridade para falar dessas coisas, ao contrário dessa ignorante aí, trabalho no departamento de Geografia de uma universidade.

Débora então diz:

  • Se tivesse tanta autoridade, você não precisava ficar me insultando de graça, eu não fiz nada para você!
  • Você faz sim, sendo burguesa, eu ouvi que você tem uma loja no shopping, uma joalheria ainda por cima, aposto que as suas joias têm ouro de garimpos ilegais com sangue indígena.

E Helena então diz:

  • Então por que não dá seu contra-argumento, me diga, por que os preços sempre aumentam?
  • Devido a ganância dos empresários burgueses.

E Débora então diz:

  • O que importa para o empresário é a margem sobre o volume de vendas. Ou vai me dizer que vender um produto de 10 reais com 9 reais de custo é mais vantajoso do que vender a mesma quantidade de um produto de 5 reais com 2 de custo?
  • Você está me desrespeitando!
  • Eu não, você que está, eu apenas soltei um fato matemático…
  • Você não é nenhuma gênia, patricinha…
  • Por que você então não solta um contra-argumento provando que estou errada? É muito claro que é mais fácil e mais agradável de vender produtos com margens maiores e preços mais baixos, o inflacionamento da economia afeta primeiro os custos dos produtos mais procurados devido ao efeito Cantillon…

E Helena pergunta:

  • O que é efeito Cantillon?

Fabiana diz antes de Débora conseguir abrir a boca:

  • Bobagem burguesa…

E Débora responde:

  • É um efeito causado pela emissão de moeda na economia, em que o dinheiro circula e aumenta os preços e custos de produção dos primeiros setores a receberem esse dinheiro, causando um ciclo econômico, geralmente a crise vem quando esse dinheiro termina de circular por todos os setores e demonstra os investimentos ruins.

Fabiana então diz:

  • Isso é tudo bobagem, além de que ela é leiga, ela apenas leu isso em algum lugar e está repetindo, a verdade é que a ganância da burguesia que leva a aumentos de preços, a solução é congelamento deles.
  • Não é bobagem, além de que o congelamento de preços leva a escassez de produtos.
  • A escassez também é culpa da burguesia!
  • Por que então a burguesia não ia querer vender os produtos que produz?
  • Você vai ver só… Fica de olho no caminho até a sua casa, eu vou saber onde você mora… Aposto que deve ser num lugar bem caro…

Então Fabiana se retira com um caminhar rebolante daquele corredor e Débora com ar de preocupação diz para Helena:

  • Espero que nada de ruim aconteça… Minha filha está em casa com a avó…
  • Calma, se você notar qualquer coisa estranha, ligue para a polícia…
  • Nem sempre a polícia garante, assim como nem sempre os bombeiros garantem, assim como nada estatal garante…

A única coisa que se passava na cabeça de Débora era a ideia de ir embora logo do supermercado, que foi o que ela fez, pagou os produtos, colocou-os no carro e foi por um caminho diferente do que costumava fazer, ao invés de ir para o Cacupé, ela atravessou a ponte e foi circular pelas cidades do continente. Seus olhos não paravam de procurar se alguém a seguia, o que não aconteceu, quando sentiu-se segura, voltou para casa, já durante a noite. Chegando lá ela organiza suas compras e liga para o telefone que Helena a deu, dizendo que estava tudo bem.

 

Continua…

 

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