A situação espanhola, Paul Krugman e a paixão dos banqueiros pelo keynesianismo

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krugman (1)Banqueiros tolos adoram pacotes de socorro dos governos.  Keynesianos também.  Banqueiros tolos detestam as consequências negativas de suas decisões idiotas.  Keynesianos também.  Banqueiros tolos adoram a inflação monetária que leva a lucros bancários altos.  Keynesianos também.  Banqueiros tolos adoram governos grandes o bastante para socorrer os grandes bancos.  Keynesianos também.  Banqueiros tolos odeiam corridas bancárias.  Keynesianos também.  Banqueiros tolos querem exercer seus cargos mas sem ter arcar com suas responsabilidades.  Keynesianos também.

Paul Krugman é o porta-voz principal do keynesianismo em nossa era.  Sua função é assegurar que os pagadores de impostos aceitem de bom grado entregar seu dinheiro para os governos socorrerem os grandes bancos multinacionais.  Sempre que estes pagadores de impostos oferecem resistência, Krugman os ridiculariza, rotula-os de reacionários e os acusa de serem tacanhos de mentalidade estreita.

Mas Krugman é esperto: ele sabe ocultar seus interesses.  Em vez de se declarar abertamente como um defensor dos interesses dos grandes bancos, ele posa de defensor dos trabalhadores.  Mas a realidade é inocultável: o socorro aos grandes bancos é a implicação inescapável das políticas que ele recomenda.  Krugman é o melhor amigo dos banqueiros multinacionais.  O mesmo pode ser dito sobre o seu colega de Princeton, Ben Bernanke.

Podemos ver isso claramente em seu recente artigo, no qual ele exorta o governo alemão, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu a emprestarem mais dinheiro para o governo espanhol, mesmo com este se recusando a cortar gastos.

Krugman quer que a economia espanhola não tenha de passar pelos custos de quitar os empréstimos tomados junto aos países do continente europeu, mais especificamente a Alemanha.  Sendo assim, ele quer que o governo alemão, o FMI e o BCE dêem mais dinheiro para o governo espanhol para que este possa repassar mais subsídios, mais assistencialismos e maiores salários para os cidadãos em sua folha de pagamento.  Estes irão gastar mais, e isso fará com que a economia deslanche.  E isso, por sua vez, permitirá aos devedores espanhóis pagar os juros que devem aos bancos alemães.

Portanto, após caírem na armadilha de terem concedido empréstimos ruins para caloteiros, os bancos devem conceder mais uma rodada de empréstimos ruins.  E por que eles fariam isso?  Porque o governo alemão, o Banco Central Europeu e o FMI irão continuar comprando títulos do governo espanhol.

Se isso se parece com aquilo que Bernanke e Henry Paulson fizeram em 2008, é porque foram eles que criaram esse padrão.

A Europa está entrando em recessão.  Há uma crise fiscal contínua na Grécia, em Portugal e na Espanha.  A crise é enorme.  A Alemanha acabou de sinalizar que está entrando em recessão.  A Grã-Bretanha provavelmente já entrou.

Krugman está estarrecido com a exigência do FMI, do BCE e dos políticos alemães de que uma redução nos gastos dos governos dos PIIGS seja uma precondição para receberem ajuda do FMI e da Alemanha.  Ele é um keynesiano.  Ele odeia a ideia de austeridade, pois isso significa austeridade para as burocracias estatais.  Ele quer que os governos gastem mais.

A refutação de um artigo de Krugman sempre possibilita a geração de um artigo inteiro.  Ele, obviamente, é contra qualquer austeridade; ele gosta de déficits.

O BCE vai ao resgate

Krugman começa seu artigo fazendo um resumo da promessa feita pelo Banco Central Europeu de que manteria os governos solventes por meio da compra dos títulos de suas dívidas.  Tal medida era ilegal no passado.  Mas o BCE quebrou as regras do tratado que criou a zona do euro.  Esta violação das regras “acalmou” os mercados, diz Krugman.  Tudo o que um país endividado tinha de fazer era pedir ajuda — no caso, socorro na forma de dinheiro.

E então várias greves irromperam na Grécia e na Espanha para protestar contra a “austeridade”, no caso, cortes no orçamento dos governos.  Isso seria economicamente muito ruim, diz Krugman.  “Com o desemprego em níveis dignos da Grande Depressão e com trabalhadores da outrora classe média reduzidos a terem de vasculhar o lixo em busca de comida, a austeridade já foi longe demais. E isso quer dizer que é possível que, no final, não haja nenhum acordo.”

Ele resumiu a posição da mídia financeira, a qual crê que os PIIGS irão dar o calote de qualquer jeito.

Muitos comentários sugerem que os cidadãos da Espanha e Grécia estão apenas protelando o inevitável, protestando contra sacrifícios que terão que ser feitos de qualquer maneira.  Mas a verdade é que os manifestantes estão certos.  Mais austeridade não servirá a nenhuma finalidade útil. Os atores verdadeiramente irracionais aqui são as autoridades e os políticos supostamente sérios, que exigem cada vez mais sofrimento.

Isso é Krugman em estado puro.  Ele jamais viu um déficit de que ele não tenha gostado.  Ele jamais conheceu um sindicato de funcionários públicos do qual ele não tenha gostado.

Ele disse que a Espanha está sofrendo em decorrência do estouro de sua bolha imobiliária.  Ele disse que tal bolha gerou uma forte expansão econômica que elevou os preços e, consequentemente, deixou indústria espanhola pouco competitiva em comparação com a do resto da Europa.  Mas ele não explica o que causou a bolha.  Por que os preços dos imóveis subiram?  Taxas de juros muito baixas.  Por que as taxas de juros estavam baixas?  Porque os bancos do continente europeu, sob a supervisão do BCE, emprestaram volumosas quantias de dinheiro criado por meio de suas reservas fracionárias tanto para o governo espanhol quanto para as construtoras espanholas.  Dentre estes bancos, os alemães eram a maioria.

Quando a bolha estourou, a Espanha ficou com o difícil problema de recuperar sua competitividade, um processo doloroso que levará anos. A não ser que a Espanha deixe a zona do euro — um passo que ninguém quer dar —, ela está condenada a anos de desemprego alto.

Para começar, a Espanha nunca teve muita competitividade dentro da Europa.  Este foi o núcleo do problema.  Não obstante, os espanhóis mesmo assim conseguiram empréstimos a juros equivalentes aos cobradas dos alemães, que são competitivos.  Isso foi uma grande estupidez da parte dos banqueiros alemães, que agora estão repletos de empréstimos ruins concedidos a uma nação que nunca foi competitiva — desde o século XVII.

Mas este sofrimento, que pode ser visto como inevitável, está sendo amplamente intensificado pelos rígidos cortes nos gastos públicos; e esses cortes nos gastos são um exemplo de como se provoca sofrimento pelo simples intuito de provocar sofrimento.

Isso é retórica keynesiana.  Os cortes não estão sendo exigidos apenas pelo sadismo de se infligir dor.  Os cortes estão sendo exigidos porque a Espanha está incorrendo em um grande déficit orçamentário.  Os emprestadores querem receber seus juros corretamente, e em euros.

Ele diz que o governo espanhol apresentou um pequeno superávit até 2009.  “Grandes déficits surgiram apenas quando a economia entrou em recessão, o que derrubou as receitas do governo; mesmo assim, a Espanha não parece ter uma dívida tão grande assim.”

Então o que realmente aconteceu?  Simples: banqueiros tolos do continente europeu emprestaram euros aos espanhóis a juros baixos.  Quando banqueiros tolos mantêm juros em níveis baixos, isso derruba também os juros de outras dívidas de longo prazo.  Consequentemente, os empréstimos para hipotecas dispararam.  A bolha cresceu.  Krugman ignora esta bonança artificial, e não aceita que ela tenha consequências ruins.

É verdade que a Espanha agora está encontrando dificuldades para conseguir empréstimos para financiar seus déficits.  Mas isso está acontecendo principalmente em função dos receios provocados pelas outras grandes dificuldades do país — entre eles, o medo de uma inquietação política em função do desemprego muito alto.  E eliminar alguns percentuais do déficit orçamentário não vai resolver esses receios.  Na realidade, pesquisas do FMI sugerem que a redução dos gastos públicos em economias profundamente deprimidas pode fazer diminuir a confiança dos investidores, porque isso acelera o ritmo de declínio econômico.

Então a redução dos gastos do governo acelera o declínio econômico?  Por quê?  E se a redução for acompanhada de cortes de impostos (o que exigiria uma redução de gastos ainda mais intensa)?  Isso também seria ruim?  Por que seria improdutivo deixar o setor privado ficar com mais dinheiro em suas mãos?  Este é o cerne do erro keynesiano desde o seu início.

Em outras palavras, a simples realidade econômica da situação indica que a Espanha não precisa de mais austeridade. Ela não deveria dar uma festa, e, na realidade, provavelmente não tem alternativa (excetuando a saída da zona do euro) a um período prolongado de tempos difíceis. Mas cortes selvagens nos serviços públicos essenciais, na ajuda aos necessitados e afins na realidade prejudicam as perspectivas de um ajuste bem-sucedido para o país.

Pense no que ele está dizendo.  Cortes são “selvagens”.  Qual é a evidência?  O que constitui ‘cortes selvagens’?  Para um keynesiano, quaisquer cortes são selvagens.

Ele disse que haverá “um período prolongado de tempos difíceis”.  Concordo.  Os tempos atuais já são muito difíceis.  O desemprego é de 50% entre pessoas na casa dos vinte anos de idade.  Mas por que a Espanha “não tem alternativa (excetuando a saída da zona do euro)”?

Saindo da zona do euro

Neste ponto, tenho de fazer algumas perguntas resolutamente não-keynesianas.  Primeiro, por que uma eventual saída da Espanha da zona do euro evitaria tempos difíceis?  É exatamente isso o que Krugman diz que aconteceria, mas não é nada óbvio para mim por que seria esse o caso.  Qual a lógica de Krugman?

Em primeiro lugar, é necessário fazer a seguinte pergunta: qual é a característica do euro — mais especificamente, o uso do euro dentro de uma zona de livre comércio — que criou estes tempos tão difíceis para a Espanha?

Um euro forte está criando dificuldades para a Espanha porque não há quase nada que a Espanha possa exportar que alguém no resto da Europa queira comprar.  Sendo assim, por não terem muito o que exportar, os espanhóis não conseguem “importar” novos euros que poderiam ser coletados pelo governo via impostos para pagar os juros de sua dívida.

Em outras palavras, durante a fase do crescimento econômico artificial, governo espanhol conseguiu vender tranquilamente os títulos de sua dívida.  Da mesma forma, as empresas espanholas conseguiram empréstimos fáceis dos bancos de toda a zona do euro.  Naquela época, era fácil conseguir financiamento farto.  Mas a economia entrou em colapso.  E ela continua em colapso porque as ineficiências da produção espanhola não permitem que o país possa competir eficazmente com as outras economias da zona do euro.

Tendo em mente este cenário, por que sair da zona do euro ajudaria a Espanha?  Sim, poderia haver algum aumento das exportações, mas somente se a nova moeda, provavelmente a peseta, fosse acentuadamente desvalorizada em reação ao euro.  Por que isso poderia ocorrer?  Porque o Banco Central espanhol agora teria legalmente o poder de imprimir pesetas em grandes quantidades.  Ele estaria livre para inflacionar a moeda.  Isto reduziria o valor da peseta em relação ao euro.  Assim, a Espanha conseguiria exportar mais.  Porém, em contraste, os cidadãos da Espanha não conseguiriam importar muita coisa de fora da Espanha.  Com as importações dramaticamente reduzidas, os preços domésticos estariam livres para subir, pois não haveria a concorrência dos importados.  O público não mais conseguiria comprar tantos bens e serviços como faz atualmente, exatamente porque a oferta vinda da Alemanha e dos outros países seria financeiramente inviável.

A redução da oferta de bens oriundos do resto da Europa significaria uma forte austeridade para o público.  Significaria que as pessoas teriam de cortar fortemente seus gastos.  Haveria uma real privação para aquelas pessoas que ainda tivessem empregos.

Aqueles espanhóis que pudessem mudar de país se dariam bem.  Os outros — a maioria — perderiam com esse novo arranjo.  Caso saia do euro, a única coisa que o governo espanhol conseguirá fazer é redistribuir o sofrimento; e ele o redistribuiria na direção daqueles cidadãos que gostam de comprar bens de alta qualidade dos outros países da zona do euro.  Isso iria beneficiar enormemente aqueles produtores ineficientes que são membros dos sindicatos espanhóis, mas certamente não ajudaria em nada os consumidores espanhóis.

Krugman quer saber por que alguém recomendaria austeridade.  Para ele, todo mundo parece estar recomendando austeridade.

Parte da explicação é que na Europa, assim como na América, uma quantidade excessiva de Pessoas Muito Sérias se deixou convencer pelo culto à austeridade, pela crença de que os déficits orçamentários, e não o desemprego em massa, constituem o perigo real e imediato e que reduzir o déficit vai de alguma maneira solucionar um problema suscitado por excessos do setor privado.

Ele ironicamente escreve “pessoas muito sérias” em maiúsculas porque julga que elas não são pessoas economicamente inteligentes.  Elas apenas são sérias.  Mas elas não são keynesianas.  Elas não entendem que déficits orçamentários são excelentes para as economias.

Donde surge minha segunda pergunta.  O que os déficits orçamentários têm a ver com uma retirada da zona do euro?  Como é que uma saída da zona do euro irá permitir ao governo central restaurar a economia ao meramente incorrer em déficits orçamentários?  Qual é a mágica das pesetas que fará com que o governo espanhol supere as atuais agruras econômicas por meio de déficits orçamentários, sendo que ele não consegue superar estas mesmas agruras ao incorrer em déficits denominados em euros?  Em outras palavras, o que faz do keynesianismo uma ideologia tão eficaz em reduzir o desemprego?  A resposta é clara, de acordo com os keynesianos: a capacidade do banco central de criar quantias maciças de dinheiro e emprestá-las para o governo.  O governo, sabendo que será livremente financiado pelo seu próprio banco central (o que não ocorre na zona do euro), irá incorrer sem temores em déficits substanciais.  E isso irá recuperar toda a economia.

Próxima pergunta.  De onde virá esta recém-descoberta produtividade?  Por que incorrer em enormes déficits em moeda fiduciária é a maneira de escapar dos efeitos de uma bolha estourada no setor imobiliário?  Krugman em momento algum discute isso.  Em nenhum artigo seu.  Mas esta relação é a essência do sistema keynesiano.  Déficits maciços financiados por moeda fiduciária são a cura advogada pelos keynesianos para toda e qualquer recessão econômica.

A resistência alemã

Mas essa não é uma explicação boa o bastante para Krugman.  Ele quer outra explicação — neste caso, uma explicação política.  Parece que uma ideia ousada está se espalhando incontrolavelmente pela Alemanha: não é sensato que os banqueiros alemães concedam novos empréstimos aos espanhóis a juros baixos.  Foi isso que eles fizeram no passado, e foi isso que criou a bolha imobiliária.  Os eleitores alemães creem que seu governo emprestar mais dinheiro para a Espanha — mais especificamente para o governo espanhol — é o equivalente a jogar dinheiro de impostos no esgoto.

Os bancos alemães compraram dívidas emitidas por tomadores de empréstimos espanhóis, e agora estes não conseguem pagar suas dívidas.  É claro que não conseguem.  Era simplesmente impossível que eles conseguissem a quantia de euros necessária para pagar a dívida.  Os euros que eles tomaram emprestado foram exportados em troca da importação de bens e serviços; e eles não têm o que exportar em troca de euros que os permitiria pagar suas dívidas.

Agora os juros espanhóis estão subindo.  Consequentemente, o valor de mercado dos títulos espanhóis em posse dos bancos alemães está caindo, e a ameaça de um calote só aumenta.  (Sair da zona do euro seria um calote parcial).  Grande surpresa.  Banqueiros tolos fazem coisas tolas, e os alemães estão cansados de socorrer banqueiros tolos.  Mas isso ainda não satisfaz Krugman.

Além disso, uma parte importante da opinião pública no núcleo da Europa — sobretudo na Alemanha — está profundamente engajada em uma visão equivocada da situação. Quando se fala com autoridades alemãs, elas retratam a crise do euro como um drama de moralidade, uma história sobre países que gastaram mais do que tinham e que agora enfrentam as consequências inevitáveis.  Não importa que não tenha sido isso o que aconteceu na realidade, nem o fato igualmente inconveniente de que bancos alemães exerceram um papel importante na inflação da bolha imobiliária espanhola.  Para essas pessoas, é tudo uma questão de ‘pecado e suas consequências’, e elas não abrem mão deste raciocínio.

Não, Dr. Krugman, o pecado e suas consequências não são o problema.  Mais especificamente, foram os parvos banqueiros alemães que não perceberam que os juros baixos que estavam recebendo quando compraram dívidas espanholas envolviam um enorme risco de calote.  Os tolos banqueiros alemães não se entregaram ao pecado, mas sim à estupidez econômica.  Eles acreditaram que os PIIGS seriam capazes de quitar suas dívidas, o que significa dizer que eles imaginaram que os PIIGS tinham algo de valioso para exportar, sendo que eles não tinham.  Agora estes bancos estão à deriva.

Pior ainda, é também nisso que acreditam muitos eleitores alemães, em grande medida porque é o que os políticos lhes disseram. E o medo de uma reação negativa de eleitores que pensam, equivocadamente, que estarão pagando pelas consequências de irresponsabilidade na Europa meridional faz com que os políticos alemães não queiram aprovar empréstimos emergenciais essenciais para a Espanha e outros países com problemas, a não ser que os devedores sejam castigados primeiro.

Os eleitores de fato estão na cabeceira da mesa, só esperando a conta chegar.  Não há dúvidas de que uma ocorrerá maciça redistribuição de renda, de um jeito ou de outro.  O governo irá fornecer um socorro para os bancos alemães, à custa dos pagadores de impostos.  A única questão é como isso ocorrerá: ou o dinheiro será dado diretamente aos bancos ou será emprestado ao governo espanhol, o qual irá pagar juros com estes euros que lhe foram emprestados.

Isso vai durar para sempre.  Ninguém confiará novamente nos espanhóis que tomarem empréstimos, a menos que os pagadores de impostos alemães estejam na cabeceira da mesa garantindo a conta destas dívidas da Espanha.

É claro que não é assim que essas exigências são descritas. Mas é a isso que a coisa se resume, na realidade. E já passou há muito tempo da hora de pôr fim a essa insensatez cruel.

Não se trata de insensatez e tampouco de crueldade.  Trata-se simplesmente de uma inevitável consequência de empréstimos irresponsáveis feitos por banqueiros alemães a empresas e governos caloteiros na zona do Mediterrâneo.  Os banqueiros sabem que já perderam centenas de bilhões de euro porque as dívidas não podem ser quitadas, e eles querem que alguém os socorra.  Afinal, é isso que banqueiros sempre querem.

Os pagadores de impostos alemães sabem que eles são as ovelhas que serão sacrificadas para salvar o couro dos banqueiros alemães.  E eles compreensivelmente não gostam desta ideia.  Eles preferiam que as dívidas fossem pagas pelos espanhóis que pegaram o dinheiro emprestado.  Eles creem que, já que foram os espanhóis que pegaram o dinheiro emprestado, então eles é que deveriam quitar a dívida.  Essa perspectiva, é claro, é radicalmente anti-keynesiana.  No sistema keynesiano, dívidas supostamente nunca devem ser quitadas.  Eles apenas devem crescer continuamente.

Até a bolha estourar.  Quando a bolha estoura, alguém inevitavelmente fica em posse de uma montanha de dívida sem valor.  Esse alguém sempre são os banqueiros — neste caso, os banqueiros alemães.

Se a Alemanha quer realmente salvar o euro, deve deixar o Banco Central Europeu fazer o que é preciso para resgatar os países devedores — e deve fazê-lo sem exigir mais sofrimento inútil.

Esse é o discurso infatigável de todo economista keynesiano.  Ninguém jamais deve sofrer em decorrência de suas decisões ruins tomadas anteriormente.  Estas decisões ruins acabaram se revelando desastrosas.  Os parvos banqueiros alemães já entenderam isso.  Consequentemente, eles se ofendem a qualquer menção de que não deve haver mais empréstimos governamentais, nem mais empréstimos do FMI, nem mais inflação do Banco Central Europeu que possibilitem aos devedores espanhóis pagarem os juros de empréstimos que eles jamais conseguirão quitar.  Isso irá apenas aumentar o total que eles devem aos tolos banqueiros alemães.

É por isso que os eleitores alemães querem interromper este processo.  Não é porque eles são sádicos que querem infligir dor e sofrimento aos espanhóis.

Tudo se resume a isso.  No final, todo mundo quer ser socorrido.  Todos aqueles que ganham muito dinheiro na época da bonança artificial querem ser protegidos por uma rede de segurança, financiada por terceiros, quando a bonança acaba e se transforma em depressão.

No universo keynesiano, nunca deve haver consequências para as ações das pessoas.  Nunca deve haver sanções negativas que imponham perdas a banqueiros que fizeram empréstimos idiotas.  Nunca deve haver uma reação negativa que relembre aos banqueiros que eles cometeram erros e que os acionistas de seus bancos devem sofrer prejuízos.  Os banqueiros americanos não quiseram isso nos EUA em 2008 e os banqueiros alemães não querem isso em 2012.

Conclusão

Paul Krugman, na condição de dignitário eclesiástico dos economistas keynesianos da atualidade, preconiza as mesmas e velhas soluções: maciços déficits orçamentários e uma maciça inflação monetária.  O show deve continuar.  Aqueles que cometeram erros não devem sofrer por ter cometido esses erros.

Foi uma parvoíce ter emprestado euros para empresas espanholas a juros baixos.  A solução keynesiana para essa parvoíce é fazer uma série infindável de empréstimos a juros baixos para as mesmas empresas espanholas e para os mesmos bancos espanhóis, os quais devem emprestar para as empresas espnholas.  Em outras palavras, os erros, uma vez cometidos, devem ser socorridos com novos e piores erros.  A ideia é seguir gastando dinheiro, não importa em quê.  Esta é a essência do keynesianismo.

É por isso que os banqueiros adoram o keynesianismo.

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