Ao mesmo tempo, isso é apenas o início da crise, pois as condições que estão estimulando as pessoas a fugirem de seus respectivos países só irão piorar. E a União Européia, com países que possuem os maiores e mais bem equipados sistemas assistencialistas do mundo, parece estar estupefata e impotente perante tudo isso — politicamente, moralmente e administrativamente.
Essa paralisia cria um significativo risco para a União Européia. Ninguém acredita seriamente que os países-membros — particularmente Itália e Grécia, os dois países mais afetados — possam superar, por conta própria, os desafios de longo prazo gerados pela imigração em larga escala.
Por outro lado, vários países-membros rejeitam um esforço comum europeu, postura essa que ameaça acelerar a erosão da solidariedade dentro da União Européia e reforça a atual tendência rumo à desintegração — Joschka Fischer.
Joschka Fischer foi Ministro das Relações Exteriores e vice-chanceler da Alemanha de 1998 a 2005, no governo do social-democrata Gerhard Schröder. Posteriormente, ele fundou o Partido Verde alemão. Ou seja, ele costumava estar dentro do sistema; hoje, ele está nas franjas.
No trecho acima, ele está descrevendo o colapso da União Europeia. Ele está também descrevendo o colapso dos estados assistencialistas europeus do pós-guerra.
Ambos os arranjos estão condenados. Ao longo dos próximos anos, a Europa será atingida por milhões de imigrantes oriundos de países arrasados do Oriente Médio. Estes imigrantes irão — como já fazem na França — tirar proveito de todo o sistema assistencialista em voga na Europa, da educação gratuita à saúde gratuita. Eles tenderão a ser mão-de-obra de baixa produtividade e incapazes de falar os idiomas locais. Terão baixa educação formal e viverão segregados em seus guetos, com suas antenas parabólicas apontadas para as redes do Oriente Médio. Já é assim na França há décadas. Será assim em toda a Europa.
O tsunami de imigração em massa ainda não atingiu a Europa. Atingirá na próxima primavera européia (a partir de abril de 2016). Milhões já chegaram até a Europa. Outros milhões farão essa mudança enquanto ainda for fácil. As cercas de arame farpado foram colocadas apenas pela Hungria e pela Croácia. Mas a tendência é que, na próxima primavera européia, elas se intensifiquem.
O governo da Polônia já anunciou que não aceitará mais imigrantes. O governo da República Tcheca está indo pelo mesmo caminho.
Os cidadãos europeus sempre pensaram que seriam os únicos beneficiados das generosas políticas assistencialistas de seus respectivos países, as quais são sustentadas pela tributação dos ricos. Agora, repentinamente, eles descobriram que eles se tornaram “os ricos”, e terão de sustentar as massas de imigrantes. A consequência disso é que seus estados assistencialistas irão falir sob o peso de imigrantes oriundos de estados falidos.
Tudo parecia tão fácil após a Segunda Guerra Mundial… Apenas vote nas políticas social-democratas e você usufruirá segurança econômica por toda a sua vida, devidamente financiada pelos impostos sobre os mais ricos. E então, surpresa! O jogo virou, os beneficiados repentinamente se tornaram “os ricos”, e serão devidamente tributados para sustentar os milhões que estão chegando para reivindicar esse “direito ao assistencialismo”.
Esses imigrantes, que não pagam impostos, têm várias bocas para alimentar, vários corpos para abrigar, e jovens mentes para educar. Eles não conseguirão certificados e licenças profissionais nas esclerosadas burocracias européias. Eles não conseguirão fazer parte dos sindicatos em uma Europa que já é dominada por guildas mercantilistas.
Porém, sendo progressistas, a maioria dos europeus não exigirá que estes imigrantes se alimentem por conta própria, se eduquem por conta própria, e paguem sozinhos por suas moradias. Isso seria uma intolerável e inaceitável demonstração de thatcherismo. Consequentemente, seus governos irão incorrer em maciços déficits orçamentários para arcara com tudo isso, tudo devidamente financiado pelo Banco Central Europeu.
A Europa não é apenas consumida por sindicatos; ela também é consumida pela culpa. Seus cidadãos sempre acreditaram na promessa de votar para receber políticas assistencialistas. Dentro de 25 anos, eles não mais serão a maioria desses votos. Os filhos dos imigrantes serão os votos decisivos. Pode até ocorrer em menos de 25 anos.
Os estados assistencialistas europeus já estavam rumo ao colapso em decorrência de passivos futuros (gerados pelo estado de bem-estar social) para os quais não havia uma equivalente quantidade de receitas programas (algo que, contabilmente, é chamado de “passivo a descoberto”). Com as imigrações em massa, esse processo será acelerado.
O que um esquerdista irá fazer contra tudo isso? Coerentemente, nada. A esquerda sempre proclamou acreditar no “socialismo democrático”, também chamado de democracia econômica. Agora eles receberão aquilo que sempre proclamaram defender, e em grandes doses. Eles apenas nunca imaginaram que seriam eles que arcariam com a fatura; sempre imaginaram que eles seriam os beneficiários da fatura. A esquerda sempre se viu como sendo o lado ativo do assalto perpetrado pelas urnas; repentinamente, descobriu que estaria do lado passivo do furto.
As lamúrias estão apenas começando. “Isso simplesmente não é justo!”. É verdade, não é justo. Mas é o sistema que vocês próprios criaram.
Fischer termina sua coluna dizendo que:
No longo prazo, os estrategistas políticos terão de explicar aos seus eleitores que é impossível usufruir, simultaneamente, prosperidade econômica, um alto nível de seguridade social, e uma população em que pensionistas geram um crescente fardo sobre os economicamente ativos. Para que tal sistema seja mantido, a força de trabalho européia terá de crescer continuamente, e esse é justamente um motivo pelo qual os europeus deveriam parar de tratar os imigrantes como uma ameaça e começar a vê-los como uma oportunidade.
Em uma economia de livre mercado, na qual cada pessoa, por meio do seu trabalho, provê a si própria, esse raciocínio é perfeitamente verdadeiro. Já em um estado assistencialista esclerosado, burocrático e dominado por sindicatos, são as multidões que abocanham a maior fatia do espólio.
Isso seria uma vitória do “eu avisei” dos teóricos anti-assistencialismo em uma escala jamais vista no Ocidente, embora já vivenciadas pela URSS e pela China comunista.
Ludwig von Mises passou 60 anos de sua vida alertando para isso. A esquerda não quis escutar.
As ruas das cidades européias estão se tornando abarrotadas de imigrantes desempregados. Eles adquiriram o direito de ter três refeições gratuitas por dia (e, alguns casos, chegam a receber dinheiro vivo tão logo chegam ao país). Quem irá dizer a eles que “chega”? Quando? Utilizando qual argumento?
Esse é o início do fim daquilo que passou a ser chamado de “política da culpa e da comiseração“. Ao contrário do que previu Karl Marx, a “revolução vermelha” jamais varrerá a Europa. O que varrerá a Europa serão as “contas no vermelho”.
Será fascinante assistir a tudo isso . . . a uma distância segura.
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