A comunidade acadiana: uma história anarcocapitalista de sucesso

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Embora o anarcocapitalismo seja uma ideologia, houve um punhado de precedentes históricos que confirmam que ele é viável no mundo real. Alguns dos exemplos mais comuns são o Velho Oeste, Islândia Medieval e Cospaia. Há outra experiência maravilhosa de ausência de estado que passou despercebida até recentemente: Acadia, Nova Escócia.

Em 2020, os economistas Rosolino Candela e Vincent Geloso publicaram um artigo que explorava em detalhes a história da colônia francesa de 1650 a 1755. O artigo se baseou em anos de pesquisa, dando-nos uma visão muito clara da governança e economia de Acadia. Espera-se que a pesquisa traga mais luz para a viabilidade de sociedades sem Estado.

Os historiadores estimam que a população de colonos franceses atingiu o pico em cerca de dezesseis mil habitantes. Os acadianos eram em grande parte religiosos (católicos) e mantinham uma mentalidade muito libertária quando se tratava de direitos de propriedade privada e liberdades pessoais. Muitos dos acadianos vieram de um cenário feudal na qual não tinham permissão para possuir propriedades, então sua nova vida na América do Norte estava repleta de oportunidades.

Anarquismo

Geloso e Candela descrevem Acadia como estando em “relativa ausência de estado” após a década de 1650. Embora estivessem tecnicamente sob o domínio da França, ignoravam amplamente o estado francês e não pagavam impostos direta ou indiretamente. A França realizou censos de 1671 a 1707, que acompanhavam a riqueza dos acadianos, mas tributá-los era muito trabalhoso.

Apesar de sua aversão ao estado, os acadianos mantinham uma sociedade muito hierárquica. A redistribuição igual e a propriedade coletiva não foram encontradas em lugar algum. Certas famílias construíram mais riqueza, mas isso não era uma coisa ruim. A divisão social do trabalho beneficiava toda a sociedade com grandes quantidades de riqueza, e as hierarquias eram bem estruturadas e justas.

Os acadianos frequentavam fielmente as celebrações da igreja e participavam dos sacramentos. Essas atividades foram vitais para unir as comunidades.

As assembleias paroquiais eram o principal substituto do Estado. Elas eram uma estrutura política não coercitiva e voluntária estabelecida para resolver grandes e importantes questões por meio da tomada de decisões coletivas. Chefes de família e delegados nomeados pelo povo constituíam as assembleias. A tomada de decisão era geralmente não divisiva e bastante unânime, e normalmente tinha taxas de participação comparativamente altas. A resolução de conflitos era rápida e justa, e algo que qualquer fã de Rothbard ou Hoppe acharia bastante atraente.

Ao lado dos acadianos, viviam os nativos Mi’kmaq, que somavam cerca de 3.250. Os mi’kmaq eram seminômades e tinham estruturas políticas muito frouxas, que poderiam ser classificadas como sem estado. Uma das coisas mais importantes na cultura mi’kmaq é a ênfase na família e no parentesco. Com essas estruturas familiares, os mi’kmaqs foram capazes de construir comunidades fortes sem a necessidade de um estado, como os acadianos. Os acadianos e os mi’kmaq construíram uma relação muito próxima que só foi fortalecida por sua aversão a estados opressores. O historiador David Jones escreveu que os acadianos

   viviam em grande parte livre da ameaça contínua de ataque ou insurreição nativa iminente, um luxo desfrutado por poucas outras fronteiras de colonos no continente.

A relação entre os dois povos foi sem dúvida uma das mais pacíficas da América do Norte, muito mais pacífica do que as relações entre brancos e índios na vizinha Quebec. Os povos frequentemente se engajavam no comércio e se casavam entre si. Os acadianos compartilhavam sua fé católica, que era vista como compatível com a fé tradicional mi’kmaq.

Em 1733, a coroa britânica assumiu o controle da área; eles continuaram a abordagem relativamente desinteressada da França. Os britânicos exigiram que os acadianos fizessem um juramento de fidelidade, mas eles se recusaram a jurar sem concessões que os isentassem de lutar contra os franceses ou mi’kmaqs, mantivessem seus direitos de propriedade privada e mantivessem a liberdade de religião. O oficial do exército britânico Paul Mascarene disse sobre os acadianos em 1720:

      Todas as ordens que lhes são dadas, se não condizem com seus humores, são escarnecidas e ridicularizadas, e eles se colocam na condição de não obedecer a nenhum governo.

Capitalismo

Uma das coisas mais impressionantes sobre Acadia era sua incrível riqueza. O sistema de livre mercado e o comércio aberto com os mi’kmaqs tornaram Acadia ainda mais rica do que a França, e a qualidade de vida lá muito melhor. Embora houvesse alguma desigualdade, a maioria dos camponeses possuía suas terras e conseguia ter uma vida confortável para si. O historiador Gregory Kennedy descreveu os acadianos como

   muito orientados para o mercado, organizando as suas explorações agrícolas para melhor aproveitar as oportunidades comerciais disponíveis.

Agricultores e caçadores acadianos produziam um grande excedente de suprimentos, e estes eram então trocados por materiais não disponíveis localmente, como metais, bens manufaturados e bens de consumo. Peles e peixes eram os principais itens de exportação e eram muito procurados pela França.

Expulsão

Infelizmente, em agosto de 1755, a paz e a prosperidade dos acadianos chegaram ao fim quando o estado britânico conduziu uma limpeza étnica sob as ordens do brigadeiro-general Charles Lawrence, resultando na morte de 55% da população. Os britânicos fizeram isso por muitas razões diferentes, como seu desdém pelos métodos e estilos de vida não convencionais dos acadianos, ciúme de seu sucesso e riqueza e ódio de seu relacionamento com os nativos. Nem todos os britânicos sentiram que essa ação era necessária, no entanto. Murray Rothbard escreveu em Conceived in Liberty, volume 2:

   Logo após o início da expulsão, Lawrence recebeu a ordem do rei para não molestar os acadianos. Raciocinando como o típico burocrata, Lawrence racionalizou sua desobediência à ordem do rei: uma vez iniciado, ainda que com erro, o processo de expulsão não poderia ser revertido!

Se a expulsão não tivesse sido realizada, é muito provável que a Acadia tivesse continuado a florescer, e seu modelo de governança e economia teria crescido em toda a América do Norte.

 

 

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