Sim, existem palestinos inocentes

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Recentemente, o radialista conservador Mark Levin expressou no X sua opinião sobre a guerra em curso em Gaza. Ele linkou um artigo escrito por D.W. Wilber, cuja formação é em inteligência dos EUA. No artigo, e repetido por Levin, Wilber afirma: “Então vamos esclarecer algumas coisas. Em primeiro lugar, não existem ‘palestinos inocentes’.”

Esta posição é fundamentalmente desumana quando se considera que muitos dos que perderam a vida nesta guerra foram crianças.

Até 31 de outubro, 133 bebês com menos de um ano foram mortos graças às bombas israelenses. Isso representa apenas uma parcela dos 444 bebês que foram mortos. Estes são os números publicados pelo Ministério da Saúde palestino.

Em 29 de novembro, dois meninos palestinos foram baleados e mortos pelas forças israelenses em Jenin, na Cisjordânia. Isso aconteceu depois que Israel invadiu o campo de refugiados. Adam Samer al-Ghoul, de 8 anos, foi baleado na cabeça, enquanto Abu al-Wafa, de 15, foi baleado no peito.

Enquanto dormiam, uma família palestina foi atingida por uma bomba israelense. Quando Khaled Nabhan acordou, ele imediatamente começou a chamar seus filhos e netos. A filha dele sobreviveu, mas os netos de 3 e 5 anos, infelizmente, não. Eles foram soterrados sob os escombros.

Em suma, o número de crianças que morreram em Gaza por causa dos ataques aéreos de Israel é condenatório. De acordo com a BBC, mais de 7.000 crianças morreram desde o início da guerra, de um total de 17.500 civis.

Por mais doloroso que isso seja, Levin e Wilber argumentariam que nenhum era um “palestino inocente”. Para eles, os mortos representam terrorismo e não passam de simpatizantes de terroristas, na melhor das hipóteses.

Wilber chegou a reconhecer o número de civis que morreram no conflito. Infelizmente, ele os minimiza escrevendo: “Os palestinos deveriam ter pensado nisso antes de eleger terroristas para governá-los”.

Bem, apenas cerca de 44% dos palestinos votaram no Hamas em 2006. Como compartilhei, muitas crianças morreram, e certamente elas não votaram no Hamas em 2006. Na verdade, a maioria dos que vivem na Palestina não votou no Hamas em 2006.

Hoje, apenas 11% dos palestinos se classificam como apoiadores do Hamas. A única razão pela qual eles venceram em 2006 o Fatah foi porque o Fatah estava dividido e porque eles haviam desistido de uma resolução de paz com Israel. 70% disseram que teriam votado no Fatah se acreditassem que quem vencesse a eleição faria as pazes com Israel.

Além disso, desumanizá-los dessa maneira é para lá de cruel. Quando os antissemitas fazem o mesmo, eles são legitimamente desprezados por sua desumanização de todos os judeus. Quando olhamos para o que os nazistas disseram em suas tentativas de justificar o Holocausto, qualificamos com razão seu raciocínio como o de maníacos genocidas. Mas por que não é errado desumanizar todos os palestinos por causa das ações do Hamas?

Esse argumento da punição coletiva foi usado recentemente, após a Segunda Guerra Mundial, e diz respeito aos americanos. Como escreveu Jack Hunter,

     “Isso faz EXATAMENTE parte da lógica de Osama Bin Laden ao realizar o 11/9. A Al-Qaeda acreditava que os americanos elegeram seu governo e, portanto, qualquer um que perecesse no dia de seus ataques não eram apenas danos colaterais – eles mereciam.”

Bin Laden usando essa lógica é mau, mas de acordo com Levin não é mau para Wilber usar a mesma lógica. Isso faz algum tipo de sentido?

A noção de que não existem palestinianos inocentes é má e deve ser rejeitada liminarmente. Os argumentos usados por Wilber são os mesmos que Bin Laden usou para justificar o assassinato de civis americanos em 11/9 e pior. Este é o primeiro passo para apoiar um genocídio e quem usar este argumento merece ser denunciado e envergonhado.

 

 

Artigo original aqui

5 COMENTÁRIOS

  1. Não existe. A maioria concordou com os ataques do Hamas, realmente o Hamas não ganhou por maioria absoluta, porém em pesquisas recentes, o apoio ao ataque teve maioria.

    Além do mais, até alguns membros do Hamas tem apontado que cometeram um erro, pior a ação de Israel está sendo muito bem sucedida, enquanto o mundo tem impedido uma ação com excelentes resultados contra o terrorismo, basicamente mostrando que existir esse tipo terrorismo agrada a maioria dos países do mundo.

    • Mesmo se tiver apoio da “maioria”, isto é, a maior minoria, isso justifica o extermínio em massa de milhares de civis? Faz tanto sentido quanto se o Estado Brasileiro decidisse explodir favelas para eliminar traficantes. Se trata de uma noção de coletivismo sem o menor sentido, isto é, colocar todos na mesma caixa por uma noção coletiva “é eu ou é eles”, e se os traficantes (ou Hamas) existem, o governo possuí enorme responsabilidade nisso devido às suas medidas autoritárias de violação de propriedades e dos direitos individuais.

      • Veja só que mesmo no argumento deste verme desprezível deste HELLITON existem sim inocentes, pois ele diz que “uma maioria” apoia o Hamas, então existe uma minoria inocente que é contra o Hamas e está sendo assassinada e tendo suas propriedades destruídas.

        Minha curiosidade era saber como que um merda coletivista desses chegou num site libertário…

  2. Na verdade, eu não votei no Hamas, e mesmo assim tenho que aguentar a propaganda pró-genocídio.

    Quando a oração católica que pedia a conversão dos perfidos judeus foi abolida, no rito da sexta-feira Santa, ninguém relevante prestou atenção. Quantos milhões foram mortos na Palestina depois disso?

  3. Eu nao tenho duvidas de que os civis palestinos sejam inocentes. Mas essa propaganda anti imperialista americana/sionista é um engodo. A entrada do exército de Israel em Gaza foi um grande erro estratégico. Pois a partir daí apaga-se todo o massacre de cidadãos israelenses e de estrangeiros e cria-se uma nova narrativa ideológica progressista em “defesa da palestina”.
    Essa página, tal como a maioria dos ancaps tapados compram esse enlatado de bom grado.
    De fato, o estado de Israel nao tem legitimidade para iniciar uma guerra contra os terroristas do Hamas. Mas ainda nao vi nenhuma infantaria do exército israelenses executando cidadaos inocentes sumariamente. O correto seria abrir uma brecha sem precedentes para o armamento civil em Israel. Além do mais, todos sabemos que Israel deixaria de existir no momento em que eles decidissem agir passivamente a um ataque tao absurdo como esse que ocorreu.
    Vcs tratam esse conflito sem a complexidade que ele exige. Como todo bom ancap que acha que o mundo é assim por causa do estado e o estado tão somente.

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