Uma Crítica ao Intervencionismo

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INTRODUÇÃO

Podemos crescer no conhecimento da verdade, mas seus grandes princípios são sempre os mesmos.   Os princípios econômicos que Ludwig von Mises, durante a década de 1920, interpretou nestes seis ensaios têm resistido ao teste do tempo, e são tão válidos hoje quanto o foram no passado.   É verdade que nomes e lugares mudaram, mas a interdependência inevitável dos fenômenos de mercado é, na década de 1970, a mesma da década de 1920.   E é tão válida, hoje, para os americanos, quanto o foi na República de Weimar, para os alemães.Entretanto, atualmente, a maioria dos cientistas sociais é tão ignorante em relação a essa interdependência de fenômenos econômicos, quanto o foram seus colegas da década de 1920.   Eles são estatistas, ou, como o Professor Mises preferia chamá-los, etatists, que exigem que o governo assuma responsabilidades cada vez maiores quanto ao bem-estar econômico de seus cidadãos.   Independentemente do que os economistas modernos tenham escrito sobre a validade geral das leis econômicas, os estatistas preferem seus julgamentos éticos aos princípios da economia, e o poder político à cooperação voluntária.   Estão convencidos de que, sem o controle e as leis do governo, sem um planejamento e uma autoridade centrais, a vida econômica seria selvagem e caótica.

Nessa coletânea de ensaios, Ludwig von Mises dá ênfase, continuamente, ao fato de que a sociedade deve escolher entre dois sistemas de organização social: pode criar uma ordem social baseada na propriedade privada dos meios de produção, ou pode estabelecer um sistema de controle no qual o governo possui ou administra toda produção e distribuição.   Não há o terceiro sistema lógico em que uma ordem de propriedade privada estaria sujeita à direção do governo.   O “meio do caminho” conduz ao socialismo porque a intervenção do governo não só é supérflua e inútil, mas também prejudicial.   É supérflua na medida em que a interdependência dos fenômenos de mercado circunscreve, estreitamente, a ação individual e as relações econômicas.   É inútil porque a direção do governo não pode atingir os objetivos a que se propõe atingir.   E é prejudicial porque representa um obstáculo para as atividades produtivas em setores que, do ponto de vista dos consumidores, são mais úteis e valiosos.   Além de reduzir a produtividade da mão de obra, um sistema intermediário acabaria redirecionando a produção para as linhas de comando político, deixando preterida a satisfação do consumidor.

E, não obstante, a maioria dos economistas norte-americanos aferrou-se, obstinadamente, à confiança em um sistema intermediário em que todas as leis e todo o controle provêm do governo.   Assim como fazem os “Socialistas de Cátedra”‘ alemães, cujas doutrinas enfrentam a crítica incisiva do Professor von Mises nestas páginas, os economistas da “corrente principal” americana estão procurando a segurança de uma posição intermediária imparcial entre o liberalismo clássico e o comunismo.   Mas, embora se sintam seguros nessa posição intermediária, tranquilos por estarem equidistantes dos dois sistemas em confronto, eles, na verdade, preparam o caminho para o socialismo.

Paul A.  Samuelson, o economista da “corrente principal” por excelência, dedica seu Economics (Nova York, McGraw-Hill Book Co., 1976)-livro texto de milhares de estudantes-à moderna economia política pós-keynesiana, cujos frutos, de acordo com o autor, são “o melhor funcionamento da economia mista” (p. 845).   Assim como os Socialistas de Cátedra que o antecederam, Samuelson simplesmente ignora os “contra-ataques conservadores contra os economistas da corrente principal”.   Ele nem define nem descreve estes ataques, que vai repelir num tom de aversão em quatro linhas, sob um título em negrito.   Quando existe egoísmo, ignorância e má intenção “não há muita discussão intelectual possível” (P- 847).

Samuelson dedica meia página ao “Libertarismo da Escola de Chicago”, do qual são partidários homens como Frank Knight, Henry C. Simons, Friedrich Hayek e Milton Friedman.   E, como os Socialistas de Cátedra, chama os apelos para a liberdade individual de “negativas provocadoras”.   Descarta Milton Friedman, principal alvo de suas críticas, com uma piadinha cínica: “Se Milton Friedman nunca tivesse existido, teria de ser inventado” (p. 848).

Aqueles que propugnam pela detenção e controle governamental total dos meios de produção são tratados com a máxima cortesia e respeito.   O manual dedica oito páginas de texto, completadas por oito páginas de anexo, aos “eminentes”, “competentes” e “eloquentes” defensores da economia radical, de Karl Marx a John G. Gurley.   Faz constantes citações das obras deles, sem contestar nenhum de seus argumentos.   Para Samuelson, assim como para os Socialistas de Cátedra, Karl Marx “foi ao mesmo tempo filósofo, historiador, sociólogo e revolucionário.   E não cometeu erros.   Foi um erudito” (p.  855).   Samuelson chega a dizer, repetindo Engels: “Marx foi um gênio… nós somos, na melhor das hipóteses, talentosos” (p.  853).

Se esse é o sistema intermediário, ou uma “economia da corrente principal”, o futuro do sistema de propriedade privada norte-americana está obscurecido pelas nuvens negras da política e doutrina marxista.   Esta é a razão pela qual a Crítica ao intervencionismo de Ludwig von Mises é tão pertinente e atual hoje quanto o era há meio século.

 

Hans F. Sennholz

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Ludwig von Mises
Ludwig von Mises foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico. Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política. Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico. Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de 'praxeologia'.

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