O desaparecimento das elites naturais
Hoje em dia, depois de menos de um século de democracia de massa, não existem essas elites naturais e hierarquias sociais nas quais se poderia imediatamente buscar proteção. Organizações e ordens hierárquicas sociais e de elites naturais, ou seja, pessoas e instituições com autoridade de comando e respeito, independentes do estado, são ainda mais intoleráveis e inaceitáveis para um democrata e mais incompatíveis com o espírito democrático do igualitarismo do que eram uma ameaça a qualquer rei e a qualquer príncipe. E por causa disso, sob as regras democráticas do jogo, toda autoridade independente, todas as instituições independentes, foram sistematicamente apagadas ou reduzidas à insignificância através de medidas econômicas. Hoje em dia, nenhuma pessoa ou instituição fora do próprio governo possui autoridade genuína, nacional e nem mesmo regional. No lugar de pessoas de autoridade independente agora temos meramente uma abundância de pessoas que são proeminentes: as estrelas do esporte e do cinema, as estrelas pop, e, logicamente, os políticos. Mas essas pessoas, embora sejam capazes de lançar tendências e estabelecer modas, não possuem nada parecido com a autoridade social pessoal natural.
E quando falamos particularmente de políticos, isto é ainda mais verdadeiro: eles podem ser grandes estrelas hoje em dia, todos os dias eles aparecem na TV e são o assunto do debate público, mas isto é quase que totalmente devido ao fato de que eles são uma parte do atual aparato estatal com seus poderes monopolísticos. Uma vez que esse monopólio seja desfeito, estas “estrelas” da política se tornariam nulidades, porque na vida real praticamente todos eles são zeros à esquerda, picaretas e débeis mentais. E é só mesmo a democracia que permite que eles cheguem a posições elevadas. Dependendo de suas próprias capacidades, de suas próprias realizações pessoais, eles são, quase sem nenhuma exceção, completamente insignificantes. Sem meias palavras, assim que o governo democrático — o congresso — declarasse que de agora em diante todos estariam livres para escolher seu próprio juiz e protetor, de modo que ainda pudessem, mas não fossem mais obrigados a escolher o governo como protetor, quem em seu juízo perfeito iria ser capaz de escolhê-los?! Ou seja, os atuais membros do congresso e do governo federal: quem os escolheria voluntariamente como seus juízes e protetores? A resposta já está explícita na pergunta. Reis e príncipes possuem autoridade real; havia coerção envolvida, não tenha dúvida, mas eles recebiam uma porção significativa de apoio voluntário.
Em contraste, políticos democráticos são geralmente desprezados, mesmo por sua própria base eleitoral. Mas então também não há nenhuma outra pessoa para a qual se voltar para buscar proteção. Políticos locais e regionais apresentam basicamente o mesmo tipo de problema, e com a abolição de seus poderes monopolísticos, eles obviamente também não oferecem uma alternativa atrativa. Também não há nenhuma grande personalidade do mundo empreendedor esperando por essa oportunidade, e as companhias de seguro, tendo se tornado quase que completamente criaturas do estado democrático igualitário, mostram-se tão pouco confiáveis quanto qualquer outro para assumir esta particularmente importante tarefa de proteção e justiça.
Portanto, se alguém fizesse hoje o que o rei poderia ter feito 100 anos atrás, haveria o perigo imediato de ocorrer de fato o caos social, ou a “anarquia” no mal sentido. As pessoas realmente iriam, ao menos temporariamente, ficar muito vulneráveis e indefesas. Então a questão muda: não há nenhuma saída? Deixe-me resumir a resposta antecipadamente: Sim, mas ao invés de por meios de uma reforma de cima para baixo, a estratégia deve agora ser de uma revolução de baixo para cima. E ao invés de uma única batalha, em um único front, uma revolução liberal-libertária agora deve envolver muitas batalhas em muitos fronts. Isto é, queremos uma guerra de guerrilha ao invés de uma guerra convencional.