Assim como o diz o subtítulo, esta obra é uma história geral do pensamento econômico de um ponto de vista honestamente “Austríaco”: isto é, do ponto de vista de um adepto da “Escola Austríaca” de economia. Esta é a única obra do tipo feita por um Austríaco moderno; de fato, apenas algumas monografias em áreas especializadas da história do pensamento foram publicadas por Austríacos nas últimas décadas. [1] Não apenas isso: essa perspectiva é fundada na vertente de pensamento menos famosa, no entanto não menos numerosa da Escola Austríaca: A “Misesiana” ou “Praxeológica”.[2]
Entretanto, a natureza Austríaca desta obra é dificilmente sua única singularidade. Quando o presente autor começou a estudar economia na década de 1940, havia um paradigma esmagadoramente dominante na abordagem da história do pensamento econômico — um que ainda é presente, mas não tanto quanto já foi. Essencialmente, tal paradigma destaca alguns Grandes Homens como a essência do pensamento econômico, com Adam Smith como seu fundador quase super-humano. Mas, se Smith fosse de fato criador tanto da análise econômica quanto da análise do livre comércio e da tradição do livre mercado na economia política, seria muito mesquinho e insignificante questionar seriamente qualquer aspecto de suas supostas façanhas. Qualquer crítica afiada de Smith tanto como economista quanto como defensor do livre mercado pareceria somente anacronismo: desprezar o pioneiro fundador do ponto de vista superior do conhecimento de hoje, débeis descendentes injustamente atacando os gigantes em cujos ombros estamos.
Se Adam Smith tivesse criado a economia, assim como Atena saiu completamente crescida e armada da testa de Zeus, então seus predecessores deveriam ser coadjuvantes, pequenos homens sem valor. E de fato tal pouca atenção foi dada, nessa representação clássica do pensamento econômico, a qualquer um azarado o suficiente para anteceder Smith. Geralmente eles eram agrupados em duas categorias e rispidamente dispensados. Precedendo imediatamente Smith, havia os mercantilistas, os quais ele fortemente criticou. Mercantilistas aparentemente eram idiotas que encorajaram as pessoas a acumularem dinheiro, mas não a gastá-lo, ou insistiam que o equilíbrio comercial deveria se “balancear” com cada país. Escolásticos foram dispensados ainda mais rudemente, como ignorantes medievais e moralistas alarmando que o preço “justo” deveria cobrir o preço de produção de um mercador, com adição de um lucro razoável.
As obras clássicas na história do pensamento das décadas de 1930 e 1940 então prosseguiram expondo e amplamente celebrando algumas poucas figuras elevadas após Smith. Ricardo sistematizou Smith, e dominou a economia até a década de 1870; então os “marginalistas”, Jevons, Menger e Walras, marginalmente corrigiram a “economia clássica” de Smith e Ricardo ao enfatizarem a importância da unidade marginal quando comparadas a todas as classes de bens. Então veio Alfred Marshall, que sabiamente integrou a teoria de custos Ricardiana com a suposta ênfase unilateral Austro-Jevoniana na demanda e na utilidade, para criar a economia neoclássica moderna. Karl Marx dificilmente poderia ser ignorado, então foi tratado como um Ricardiano anômalo. Assim, o historiador pôde acabar com sua história lidando com quatro de cinco Grandes Figuras, cada qual, com a exceção de Marx, contribuíram com mais pilares para o progresso contínuo da ciência econômica, que é essencialmente uma jornada contínua de progresso.[3]
Nos anos subsequentes à Segunda Guerra Mundial, Keynes obviamente foi adicionado ao Panteão, fornecendo um novo capítulo culminante no progresso e desenvolvimento da ciência. Keynes, amado estudante do grande Marshall, percebeu que o velho havia se esquecido daquilo que mais tarde foi chamado de “macroeconomia” em sua ênfase exclusiva ao micro. E assim Keynes adicionou o macro, focando no estudo e explicação do desemprego, um fenômeno que foi inexplicavelmente esquecido do quadro econômico por todos que precederam Keynes, ou foi convenientemente passado para debaixo do tapete ao descuidadamente “assumirem pleno emprego”.
Desde então, o paradigma dominante vem sendo largamente sustentado, apesar dos assuntos terem se tornado certamente nebulosos. Para começo de conversa, esse tipo de história sempre ascendente de um Grande Homem requer ocasionais novos capítulos finais. A Teoria Geral, publicada em 1936, completa agora quase sessenta anos de idade; deve haver um Grande Homem para um capítulo final? Mas quem? Por um tempo, Schumpeter, com sua moderna e aparentemente realista ênfase em “inovação”, teve chances, mas surgiu um grande entrave nessa tendência, talvez a realização de que o trabalho fundamental de Schumpeter (ou “visão”, como ele explicitamente dizia) foi escrita mais de duas décadas antes de A Teoria Geral. Os anos desde 1950 foram obscuros; e é difícil forçar um retorno ao uma vez esquecido Walras no leito procustiano do progresso contínuo.
Minha visão sobre a grave deficiência da ideia dos Grandes Homens foi grandemente influenciada pelo trabalho de dois excelentes historiadores do pensamento. Um sendo o meu próprio mentor de dissertação Joseph Dorfman, cujo trabalho ímpar de muitos volumes sobre a história do pensamento econômico americano demonstrou o quão importantes figuras alegadamente “menores” são para qualquer movimento de ideias. Em primeiro lugar, a completude da história é deixada de lado quando se omite essas figuras, e, portanto, a história é falsificada por seleção e preocupação sobre alguns textos dispersos para constituírem A História do Pensamento. Em segundo, um vasto número de supostas figuras secundárias contribuiu bastante para o desenvolvimento do pensamento, mais em algumas formas que os poucos pensadores de auge. Assim sendo, importantes características do pensamento econômico são omitidas, e o desenvolvimento teórico é feito de forma enfadonha e desprezível, assim como sem vida.
Adiante, o desenrolar da própria história, o contexto das ideias e movimentos, como as pessoas se influenciam, e como reagiam para com uns aos outros, é necessariamente excluído da abordagem dos Grandes Homens. Tal aspecto do trabalho do historiador foi particularmente trazido a mim pela notável obra de dois volumes de Quentin Skinner Foundations of Modern Political Thought, de tal importância que poderia ser grandemente apreciado se não fosse a adoção da sua própria versão da metodologia behaviorista de Skinner.[4]
A abordagem do progresso contínuo, sempre para cima e para frente, foi destruída para mim, e deveria ter sido para todos, pela famosa Estrutura das Revoluções Científicas de Thomas Kuhn.[5] Kuhn não dedicou atenção à economia, mas, em vez disso, do mesmo modo como filósofos e historiadores da ciência, focou-se em ciências mais “rígidas” tais quais a física, a química e a astronomia. Trazendo a palavra “paradigma” ao discurso intelectual, Kuhn demoliu aquilo que eu gosto de chamar de “teoria Whig da história da ciência”.
A teoria Whig, aceita por quase todos os historiadores da ciência, incluindo a econômica, é a de que o pensamento científico progride pacientemente, se desenvolvendo um ano após outro, mudando, e testando teorias, para que a ciência marche sempre ao progresso e a cada ano, década ou geração vá aprendendo mais e possuindo teorias científicas cada vez mais corretas. Em analogia com a teoria Whig da história, cunhada no meio do século XIX na Inglaterra, que defendia que as coisas estão sempre (e, portanto, devem ficar) cada vez melhores, o historiador Whig da ciência, aparentemente em solos mais firmes que o historiador Whig médio, implicitamente ou explicitamente afirma que “depois é sempre melhor” em qualquer disciplina científica particular.
O historiador Whig (tanto da ciência quanto da própria história) realmente sustenta a ideia de que, para qualquer ponto do tempo histórico, “aquilo que era, estava certo”, ou ao menos melhor que “aquilo que veio antes”. O resultado inevitável é um complacente e irritante otimismo Panglossiano. Na historiografia do pensamento econômico, a consequência é a firme, senão implícita, posição de que todo economista individual, ou pelo menos toda escola de economistas, contribuiu com seu importante fragmento à inevitável marcha do progresso. É possível, então, que não haja nada como um erro sistêmico grosseiro que revele uma grande falha, ou invalide uma escola de pensamento inteira, muito menos que extravie a direção do mundo econômico permanentemente.
Kuhn, entretanto, chocou o mundo filosófico ao demonstrar que essa simplesmente não é a forma como a ciência se desenvolveu. Uma vez que um paradigma central é selecionado, não há testagem ou filtragem, e testes de hipóteses básicas só são feitos após uma série de fracassos e anomalias no paradigma vigente que levaram a ciência a uma “situação de crise”. Não é necessária a adoção da percepção filosófica niilista de Kuhn, ou de sua implicação de que nenhum paradigma é ou pode ser melhor que qualquer outro, para perceber que sua visão menos romântica soa verdadeira tanto para história quanto para a sociologia.
Mas se a visão romântica ou Panglossiana padrão não funciona nem mesmo para as ciências hard, a fortiori ela deve estar inteiramente errada em uma “ciência soft” tal qual a economia, em uma disciplina onde não se pode testar em laboratório, e onde disciplinas ainda mais softs como política, religião e ética necessariamente impactam a perspectiva econômica de alguém.
Portanto, não pode haver qualquer tipo de presunção econômica de que o pensamento tardio é melhor que o anterior, ou que todos os economistas famosos contribuíram o seu bocado para o desenvolvimento da disciplina. Pois isso torna muito provável que, ao invés de todos contribuírem para um edifício sempre progressivo, a economia possa estar (e está) procedendo de forma contenciosa, até mesmo em um estilo zigue-zague, com falácias sistêmicas tardias algumas vezes desconsiderando paradigmas prévios, porém mais sensatos, assim mudando a direção do pensamento econômico para um caminho completamente errôneo ou até mesmo trágico. O trajeto geral da economia pode ser para cima, ou pode ser para baixo, dado qualquer espaço de tempo.
Nos anos recentes, a economia, adentrou dentro da influência dominante do formalismo, do positivismo e da econometria, e enfeitando-se como uma ciência hard, demonstrou pouco interesse em seu próprio passado. Essa foi sua intenção, assim como qualquer ciência “real”, estar no livro didático mais recente ou artigo de jornal do que explorando sua própria história. Afinal de contas, os físicos contemporâneos ficam muito tempo lendo atentamente textos sobre óptica do século XVIII?
Na última ou duas últimas décadas, entretanto, o reinado do paradigma Walrasiano-Keynesiano neoclássico formalista vem sendo cada vez mais questionado, e a voraz “situação de crise” Kuhniana se desenvolveu em várias áreas da economia, preocupando-se com sua própria metodologia. No meio dessa situação, o estudo da história do pensamento regressou significantemente, estudo esse que desejamos e esperamos que se expanda nos anos seguintes.[6] Pois se conhecimento enterrado e perdido em paradigmas pode ser esquecido com o passar do tempo, então estudar economistas velhos e escolas de pensamento não precisa ser apenas por propósitos antiquados ou para examinar como a vida intelectual procedeu no passado. Economistas prévios podem ser estudados por sua contribuição ao esquecido, e, portanto, novo, conhecimento de hoje. Verdades valiosas podem ser aprendidas a respeito do conteúdo econômico, não apenas nos jornais mais novos, mas dos textos de pensadores há muito tempo mortos.
Mas estas são apenas generalizações metodológicas. A realização concreta de que conhecimento econômico importante foi perdido com o tempo veio até mim pelo revisionismo dos escolásticos que se desenvolveu nas décadas de 1950 e 1960. A revisão pioneira veio de forma drástica na História da Análise Econômica de Schumpeter, e foi desenvolvida pelos trabalhos de Raymond de Roover, Marjorie Grice-Hutchinson e John T. Noonan. Acontece que escolásticos não eram simplesmente “medievais”, mas começaram no século XIII e expandiram e floresceram durante o século XVI até o século XVII. Longe de serem moralistas do custo de produção, os escolásticos acreditavam que o preço justo era qualquer preço estabelecido na “estimativa comum” do livre mercado. Não apenas isso: longe de serem teóricos ingênuos do trabalho ou do valor de custo de produção, os escolásticos podem ser considerados “Proto-austríacos”, com uma sofisticada teoria subjetiva da utilidade do valor e preço. Até mais, pois alguns dos escolásticos eram muito superiores aos atuais microeconomistas formalistas no que tange ao desenvolvimento de uma teoria dinâmica do empreendedorismo. Além disso, no “macro”, os escolásticos, começando por Buridan e culminando nos escolásticos espanhóis do século XVI, trabalharam em uma teoria monetária e de preços muito mais austríaca do que a teoria monetarista de oferta e demanda, incluindo fluxo de dinheiro inter-regional, e até mesmo com uma teoria de paridade de poder de compra das taxas de câmbio.
Parece não ser por acaso que essa revisão dramática de nosso conhecimento dos escolásticos foi trazida aos economistas americanos, geralmente não estimados por sua profundidade de conhecimento do latim, por economistas treinados na Europa mergulhados no latim, a língua em que os escolásticos escreviam. Este ponto simples enfatiza outra razão para a perda de conhecimento no mundo moderno: a insularidade na própria língua (particularmente severa nos países de língua inglesa) que, desde a Reforma, rompeu a outrora ampla comunidade de estudiosos da Europa. Uma razão pela qual o pensamento econômico continental frequentemente exerceu influência mínima, ou pelo menos tardia, na Inglaterra e nos estados Unidos é simplesmente porque essas obras não foram traduzidas para o inglês.[7]
Para mim, o impacto do revisionismo escolástico foi complementado e fortalecido pelo trabalho, de algumas décadas, do nascido alemão, historiador “austríaco”, Emil Kauder. Kauder revelou que o pensamento econômico dominante na França e na Itália durante o décimo sétimo e especialmente décimo oitavo século também era “Proto-austríaco”, enfatizando a utilidade marginal e escassez relativa como determinantes do valor. A partir dessa base, Kauder procedeu com uma surpreendente compreensão do papel de Adam Smith que, de qualquer forma, segue diretamente de seu próprio trabalho e daqueles dos revisionistas escolásticos: que Smith, longe de ser o fundador da economia, era praticamente o oposto. Pelo contrário, Smith realmente levou a sério, e quase completamente desenvolveu uma tradição Proto-austríaca de valor subjetivo, mas tragicamente desviou a economia para um caminho falso, uma rua sem saída da qual os austríacos tiveram que resgatar a economia um século depois. Ao invés de valor subjetivo, empreendedorismo e ênfase nos preços reais do mercado e atividade de mercado, Smith largou isso tudo e trocou por uma teoria do valor-trabalho e um foco dominante no equilíbrio do imutável “preço natural” de longo prazo, um mundo onde empreendedorismo foi suposto como fora de existência. Sob Ricardo, essa troca infortuna no foco foi intensificada e sistematizada.
Smith não foi o criador da teoria econômica, nem o fundador do laissez-faire na economia política. Não somente eram os escolásticos analistas do, e confiantes no livre mercado e nas críticas a intervenção estatal; mas os economistas franceses e italianos do século dezoito eram muito mais orientados ao laissez-faire do que Smith, que introduziu inúmeras tagarelices e poréns naquilo que foi, nas mãos de Turgot e outros, uma quase pura defesa do laissez-faire. Acontece que, ao invés de ser venerado como criador da economia moderna ou do laissez-faire, Smith estava mais próximo da figura retratada por Paul Douglas na comemoração da riqueza das nações em Chicago de 1926: um precursor necessário para Karl Marx.
A contribuição de Emil Kauder não foi limitada a sua representação de Adam Smith como o destruidor de uma tradição sólida de teoria econômica, como o fundador de um enorme “zague” na imagem Kuhniana de uma história zigue-zague do pensamento econômico. Também fascinante, senão mais especulativa era a estimativa de Kauder sobre a causa essencial de uma assimetria curiosa no curso do pensamento econômico em diferentes países. Por que é, por exemplo, que a tradição da utilidade marginal floresceu no continente, especialmente na França e na Itália, e então foi revivida particularmente na Áustria, ao passo que as teorias do valor-trabalho foram desenvolvidas especialmente na Grã-Bretanha? Kauder atribuiu a diferença a uma profunda diferença de religiões: os escolásticos, até então França, Itália e Áustria eram países católicos, e o Catolicismo enfatizou o consumo como o objetivo da produção e da utilidade ao consumidor e o de lhe conferir satisfação, ao menos em moderação, como valiosas atividades e objetivos. A tradição Britânica, ao contrário, começando com o próprio Smith, que era calvinista, e refletia a ênfase calvinista no trabalho duro não somente como boa, mas como um grande bem em si mesma, ao passo que o aproveitamento do consumidor é no máximo um mal necessário, um mero requisito para continuar o trabalho e a produção.
Enquanto lia Kauder, considerei essa visão como um esclarecimento desafiador, mas essencialmente como uma especulação não comprovada. Entretanto, enquanto continuava estudando o pensamento econômico e embarquei na escrita desses volumes, concluí que Kauder estava sendo confirmado várias vezes. Apesar de Smith ser um calvinista “moderado”, ele era ao menos firme, e eu cheguei à conclusão de que a ênfase calvinista poderia ser levada em conta, por exemplo, para a, de outra maneira confusa, defesa de Smith às leis de usura, assim como sua troca de ênfase do consumidor caprichoso e amante do luxo como o determinante do valor, ao virtuoso trabalhador empenhando suas horas de labor no valor do produto material.
Mas se o calvinismo de Smith poderia ser levado em conta, e quanto ao espanhol-português judeu que virou Quaker, David Ricardo, que certamente não era calvinista? Aqui me parece que pesquisas recentes no papel dominante de James Mill como mentor de Ricardo e importante fundador do “sistema Ricardiano” entraram fortemente em jogo. Pois Mill era um escocês ordenado como ministro presbítero e imerso em calvinismo: o fato que, tarde em sua vida, Mill se moveu para Londres e se tornou agnóstico não tem efeito na natureza calvinista nas atitudes básicas de Mill para com a vida e o mundo. A grande energia evangélica de Mill, sua cruzada por melhoria social, e sua devoção ao trabalho duro (assim como a virtude calvinista cognata da poupança) refletiram em sua perspectiva de mundo calvinista por toda a vida. A ressurreição do Ricardianismo por John Stuart Mill pode ser interpretada como sua devoção filopietista a memória de seu pai dominador, e a trivialização de Alfred Marshall aos esclarecimentos austríacos ao seu esquema neo-ricardiano também vieram de um altamente moralista e evangélico neo-calvinista.
Em contrapartida, não é acidente que a Escola Austríaca, o maior desafio à visão de Smith-Ricardo, não somente surgiu em um país solidamente católico, mas cujos valores e atitudes ainda estavam fortemente influenciados pelo Aristotelismo e pensamento Tomista. Os precursores germânicos da Escola Austríaca floresceram, não na protestante e anticatólica Prússia, mas nos estados germânicos que eram ou católicos ou politicamente alinhados mais com a Áustria do que com a Prússia.
O resultado dessas pesquisas foi a minha convicção crescente de que excluir a perspectiva religiosa, assim como a filosofia social e política, iria distorcer desastrosamente qualquer retrato da história do pensamento econômico. Isso é certamente óbvio para os séculos antes do décimo nono, mas é verdade para aquele século também, ainda mais pelo aparato técnico empregar mais de uma vida do que a sua própria.
Em consequência dessas revelações, esses volumes são muito diferentes da norma, não só em apresentar uma perspectiva muito mais austríaca em contraste a uma visão neoclássica ou a uma institucionalista. O trabalho inteiro é muito mais longo que a maioria, uma vez que insiste em trazer todas as figuras “menores” e suas interações, assim como enfatizar a importância de suas filosofias sociais e religiosas assim como suas visões “econômicas” estritas. Mas eu espero que a extensão e inclusão de outros elementos não faça esse trabalho menos legível.
Pelo contrário, a história necessariamente significa narrativa, discussão de pessoas reais assim como suas teorias abstratas, e inclui triunfos, tragédias e conflitos, conflitos os quais eram recorrentemente morais, assim como puramente teoréticos. Por isso, eu espero que, para o leitor, o tamanho incomum seja compensado pela inclusão de muito mais drama humano do que geralmente é nos oferecido em outras histórias do pensamento econômico.
Murray N. Rothbard
Las Vegas, Nevada
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Notas
[1] O valioso e monumental History of Economic Analysis (Nova York: Oxford University Press, 1954) de Joseph Schumpeter, tem sido, geralmente, referido como “Austríaco”. Mas ainda que Schumpeter tenha sido criado na Áustria e estudado sob o grande austríaco Böhm-Bawerk, ele próprio era um Walrasiano dedicado e seu History era, além disso, eclético e idiossincrático.
[2] Para uma explicação dos três paradigmas austríacos de ponta no tempo presente, consulte Murray N. Rothbard, The Present State of Austrian Economics (Auburn, Ala.: Ludwig von Mises Institute, 1992).
[3] Quando o presente autor estava se preparando para seus exames orais de doutorado na Columbia University, ele teve o venerável John Maurice Clark como examinador da história do pensamento econômico. Quando perguntou a Clark se deveria ler Jevons, Clark replicou um tanto surpreso: “Qual é o ponto? Tudo que há de bom em Jevons está em Marshall”.
[4] Joseph Dorfman, The Economic Mind in American Civilization (5 vols. Nova York: Viking Press, 1946-59); Quentin Skinner, The Foundations of Modern Political Thought (2 vols., Cambridge: Cambridge University Press, 1978).
[5] Thomas S. Kuhn, The Structure of Scientific Revolutions (1962, 2ª ed., Chicago: University of Chicago Press, 1970).
[6] A atenção devotada nos anos recentes à brilhante crítica do formalismo neoclássico como totalmente dependente da mecânica obsoleta de meados do século XIX é um sinal de boas-vindas dessa recente mudança de atitude. Consulte Philip Mirowski, More Heat than Light (Cambridge: Cambridge University Press, 1989).
[7] No tempo presente, quando o inglês se tornou a língua franca europeia e a maioria dos periódicos europeus publica artigos em inglês, essa barreira tem sido minimizada.