O pânico do COVID-19 nos mostra por que a ciência precisa de céticos

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As previsões desastrosamente erradas do COVID mostraram exatamente por que é importante sustentar e nutrir o ceticismo, para que não nos enganemos na monocultura científica e no pensamento de grupo. E, no entanto, a explosão da intolerância da “cultura do cancelamento” de qualquer opinião que não se encaixa em uma “tabelinha” cada vez menor de pensamentos aceitáveis, ameaça destruir a própria tolerância e ciência que sustentam nossa civilização.

Desde a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos sofreram duas pandemias respiratórias comparáveis ​​ao COVID-19: a “gripe asiática” de 1958, depois a “gripe de Hong Kong” de 1969. Em nenhum dos casos, paralisamos a economia – as pessoas simplesmente tomavam alguns cuidados. Nada exagerado, é claro – Jimi Hendrix estava tocando em Woodstock no meio da pandemia de 1969, e o distanciamento social realmente não ocorria no “Verão do Amor“.

E, no entanto, o COVID-19 foi muito diferente, graças a uma única “lambança” de previsão de computador de um Neil Ferguson, um epidemiologista britânico dado a superestimações histéricas de mortes, da vaca louca à gripe aviária e H1N1.

Para o COVID-19, Ferguson previu 3 milhões de mortes nos Estados Unidos, a menos que basicamente desligássemos a economia. No Brasil essa mentira foi importada destacadamente por um youtuber chamado Átila Iamariano que previu 2,6 milhões de mortes no Brasil em seu cenário pessimista (e com as medidas que foram tomadas previu 1 milhão de mortos até o final de agosto). Os formuladores de políticas em pânico tomaram suas previsões como evangelho, cobertas como estavam sob o manto da ciência.

Agora, muito depois que os governos afundaram metade do mundo em uma Grande Depressão, essas previsões histéricas estão sendo discretamente revisadas por uma ordem de magnitude, sugerindo agora uma contagem final comparável a 1958 e 1969.

O COVID-19 teria sido uma pandemia mortal, com ou sem as fantasias de Ferguson, mas se soubéssemos a verdadeira escala e parâmetros da ameaça, poderíamos ter escolhido meios mais adequados para proteger os idosos e os que estão em risco, mantendo a economia em geral. Afinal, os economistas sabem há muito tempo que o desemprego em massa e as falências generalizadas trazem enormes consequências para a saúde, muito reais para as vítimas que perdem o que economizaram durante toda a vida, negócios arruinados, famílias desfeitas, deterioração generalizada da saúde mental e física e até suicídio. As decisões envolvem trade-offs.

O COVID-19 ilustrou a importância de uma pesquisa livre e robusta. Afinal, os políticos em pânico que são acusados pela mídia de “matar vovozinhas” não estão em uma posição muito boa para avaliar essas compensações e precisam de munição intelectual. Não apenas para mostrar a eles qual o melhor caminho, mas para respaldá-los quando o establishment da mídia de esquerda ataca.

Além disso, os eleitores precisam dessa munição para que possam realmente dizer aos políticos o que fazer. Isso significa duas coisas: debate que seja transparente, e  debate que seja tolerante com os céticos.

Transparência significa dados e códigos de computador abertos ao escrutínio público como requisito mínimo para qualquer estudo usado para justificar políticas, desde quarentenas a impostos sobre o carbono até o que vier a seguir. Esses estudos devem se basear em fatos verificáveis, códigos que façam o que eles dizem que fazem e o processo de tomada de decisão subsequente deve ser transparente e aberto ao público.

Um ex-burocrata indiano disse bem: “Situações de emergência como essa pandemia devem exigir um nível de escrutínio muito mais alto – e não mais baixo –”, uma vez que as escolhas políticas têm um impacto tremendo. “Isso sugere a necessidade de democracias fortalecerem sua capacidade de pensamento crítico, criando uma instituição independente da “Black Hat”, cujo objetivo seria questionar quaisquer fundamentos técnicos das decisões do governo”.

Ainda mais importante que a transparência, o debate deve tolerar opiniões alternativas. Isso significa que ideias erradas, ofensivas e até perigosas devem ser toleradas e até celebradas. Acima de tudo, devem ser refutadas – a maioria das hipóteses alternativas está completamente errada, portanto não deve ser difícil refutá-las sem censura. Afinal, essa é a essência da ciência – gerar hipóteses testáveis ​​por qualquer pessoa, não apenas por “especialistas” licenciados.

Quer sejamos confrontados com uma nova crise, uma nova inovação de políticas ou simplesmente uma ratoeira melhor, o pensamento de grupo e a censura são receitas para desastre e estagnação, enquanto a transparência e a tolerância a novas ideias são a própria essência do progresso. De fato, é em grande parte essa tolerância científica que nos permitiu sair da longa e brutal escuridão da pobreza.

Como observou Francis Bacon, há trezentos anos, a inovação e o novo conhecimento não provêm de pessoas de prestígio “instruídos”, mas o progresso vem do questionador, do funileiro e do cético.

A indústria dos artífices produz um pequeno aprimoramento das coisas inventadas; e o acaso, às vezes, experimentando, nos leva a tropeçar em algo que é novo; mas toda a disputa dos eruditos nunca trouxe à luz um efeito da natureza antes desconhecido. (Em louvor ao conhecimento, vol. 1, [1740] 1850)

De fato, todo grande avanço científico desafiava a “ciência estabelecida” de sua época e era frequentemente denunciado como pernicioso e falso, até perigoso. A transfusão de sangue moderna, por exemplo, foi desenvolvida no final de 1600, depois proibida por quase um século por um establishment médico hostil, “cancelando” dezenas de milhões de vidas no altar do pensamento de grupo e hostilidade aos céticos.

É reconfortante saber que nossos problemas são antigos e também encorajador que nossa solução seja testada pelo tempo e simples: transparência e tolerância. Afinal, a razão pela qual nossa cultura eleva a ciência é porque ela é construída sobre uma “batalha de ideias” evolucionária de milênios, na qual as teorias são constantemente testadas e testadas novamente em uma busca deliciosamente infinita por uma compreensão cada vez melhor.

Isso implica que não existe “ciência estabelecida” – a frase em si é contrária ao método científico. Na realidade, a ciência não é um palácio brilhante de um bilhão de dólares em Bethesda, ao contrário, ela é um rato de esgoto mutante que aceita todos dispostos a debater porque já foi queimado, cortado, atropelado, esmagado, atravessado pelo picador de madeira e sobreviveu. Aquela besta feia é a nossa salvação, não o palácio reluzente onde nos curvamos para qualquer cara aleatório que tenha mais diplomas na sala.

Somente com a investigação livre das ideias mais impopulares, ofensivas, perigosas e, sim, erradas imagináveis, esse poder se sustenta. E se quebrarmos isso, podemos esperar uma série de catástrofes rápidas que, como as fracassadas eras douradas do passado, nos devolvam às vidas desagradáveis, brutais e muito curtas que têm sido a norma da humanidade.

Seja pandemia, mudança climática, “racismo institucional” ou qualquer nova crise que eles apresentem a seguir, temos o direito fundamental de defender tenazmente a transparência e a tolerância que constituem a própria ciência, para que ela permaneça entre as principais conquistas da humanidade e, assim, preservemos essa era de ouro que surpreenderia nossos antepassados.

 

Artigo original aqui.

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