Política é violência

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O estado

Todo estado é baseado na força”, disse Trotsky em Brest-Litovsk. Isto é, de fato, verdade. Se não tivesse existido nenhuma instituição social que conhecesse o uso da violência, então o conceito de “estado” não existiria, e surgiria uma condição que poderia ser designada como “anarquia”, no sentido específico desta palavra. É claro, a força certamente não é o meio normal ou o único meio do estado – ninguém quer dizer isso –, contudo, a força é um meio particular do estado.

Hoje, a relação entre estado e violência é especialmente íntima. No passado, as mais variadas instituições – começando com a Sippe [clã, tribo, família estendida] – conheciam o uso da força física como bastante normal. Hoje, entretanto, dizemos que um estado é uma comunidade humana que, com sucesso, reivindica o monopólio do uso legitimado da força física dentro de um dado território.

Perceba que “território” é uma das características do estado. Especificamente, nos dias atuais, o direito de usar força física é atribuído a outras instituições ou a indivíduos apenas na medida em que o estado permite. O estado é considerado a única fonte do “direito” de usar violência.

A política como poder

Isto essencialmente corresponde ao uso comum. Quando se diz que uma questão é uma questão “política”, quando se diz que um gabinete de um ministério ou um funcionário público é um funcionário “político”, ou quando se diz que uma decisão é “politicamente” determinada, o que sempre se quer dizer é que os interesses na distribuição, na manutenção ou na transferência de poder são decisivos para responder às questões e determinar a decisão ou a esfera de atividade do funcionário público. Quem é ativo na política batalha por poder, seja como um meio para servir outros desejos, ideais ou egoístas, ou pelo “poder por si próprio”, i.e., para desfrutar a sensação de prestígio que o poder gera.

Como as instituições políticas historicamente precedentes, o estado é uma relação de homens dominando homens, uma relação apoiada pelos meios de legitimar (isto é, considerar como legítima) a violência. Se o estado existe, o dominado deve obedecer a autoridade reivindicada pelos poderes constituídos.

Os políticos profissionais

Hoje, não assumimos uma posição sobre essa questão. Eu declaro apenas o aspecto puramente conceitual para nossa consideração: o estado moderno é uma associação compulsória, que organiza a dominação. Ele teve sucesso em buscar o monopólio do uso legítimo de força física como um meio de dominação dentro de um território.

Para esse fim, o estado tem combinado os meios materiais de organização nas mãos de seus líderes, e tem expropriado todos os funcionários autônomos de propriedades que anteriormente controlavam esses meios por seu próprio direito. O estado tem assumido suas posições e agora está no comando.

Durante esse processo de expropriação política, que tem ocorrido com sucesso variado em todos os países da Terra, os “políticos profissionais” em outro sentido emergiram. Eles surgiram primeiro ao serviço de um príncipe. Eles eram homens que, ao contrário do líder carismático, não desejavam eles próprios serem lordes, mas que entraram ao serviço de lordes políticos. Na batalha de expropriação, eles se colocaram à disposição dos príncipes e por administrar as políticas dos príncipes eles ganharam, por um lado, um meio de vida e, por outro lado, um objetivo ideal de vida.

Novamente, é apenas no Ocidente que encontramos esse tipo de político profissional ao serviço dos poderes além dos príncipes. No passado, eles eram o instrumento de poder mais importante do príncipe e seu instrumento de expropriação política.

A política como violência

O meio decisivo para a política é a violência. Quem quer que queira se engajar na política, e especialmente na política como vocação, tem que perceber esses paradoxos éticos. Ele deve saber que é responsável pelo que ele próprio pode se tornar sob o impacto desses paradoxos. Eu repito, ele deixa se adentrar nas forças diabólicas que espreitam violência por todo lugar. A grande virtuosi do amor acósmico da humanidade e bondade, seja decorrente de Nazaré ou Assis ou dos castelos da realeza indiana, não opera sob os meios políticos de violência. Seu reinado não foi “deste mundo”, e ainda assim eles trabalharam e ainda trabalham neste mundo. As figuras de Platão Karataev e os santos de Dostoiévski ainda permanecem como suas reconstruções mais adequadas. Quem busca a salvação da alma, de sua própria e a de outras, não deve buscá-la através da avenida da política, pois as tarefas bem distintas da política podem apenas serem resolvidas pela violência.

Os gênios ou demônios da política vivem em uma tensão interna com o deus do amor, como também com o deus cristão como expressado pela Igreja. Esta tensão pode em qualquer momento gerar um conflito inconciliável. Os homens sabiam disso mesmo nos tempos da regra cristã. De tempos em tempos a interdição papal foi imposta sob Florença e naquele tempo ela significava um poder muito mais robusto para os homens e a salvação de suas almas que (falando como Fichte) a “aprovação legal” do julgamento ético Kantiano. Os burgueses, entretanto, lutaram contra o estado-igreja. E é por referência a tais situações que Maquiavel em uma linda passagem, se não estiver enganado, do livro History of Florence, tem um de seus heróis louvando aqueles cidadãos que acreditam nas grandezas de sua cidade nativa mais que na salvação de suas almas. Se alguém disser “o futuro do socialismo” ou “paz internacional”, ao invés de cidade natal ou “pátria mãe” (que atualmente pode ser dúbio para alguns), então você enfrenta o problema na sua forma atual. Tudo que se luta através da ação política operando através de meios violentos e seguindo uma ética de responsabilidade coloca em perigo a “salvação da alma”.

 

Traduzido por Lacombi Lauss

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