Tapar o sol com a peneira

0
Tempo estimado de leitura: 3 minutos

“Parte da liberdade é o direito de cada um ir para o inferno à sua própria maneira.” (David Friedman)

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso das câmaras de bronzeamento artificial para fins de embelezamento. A justificativa é o risco de se contrair câncer em função da exposição à radiação ultravioleta. Fiscais serão mobilizados para verificar o uso das câmaras, que continuam liberados para tratamento de doenças como vitiligo e psoríase. A multa para descumprimento das regras pode chegar a R$ 1,5 milhão, e a clínica de estética pode ser interditada. Trata-se de mais uma medida autoritária de burocratas desocupados que se arrogam o direito de nos proteger de nós mesmos.

A medida poderia ser combatida com base em sua eficácia altamente questionável. Afinal, como fiscalizar todas as clínicas, avaliando o tipo de tratamento usado em cada caso? Parece evidente que a medida irá estimular a informalidade, favorecendo clínicas de fundo de quintal e colocando em risco ainda maior aquelas pessoas que não abrem mão do serviço. Além disso, a coisa chega a ser patética quando pensamos que a própria luz solar pode causar câncer. Qual o limite? Será que amanhã os burocratas “altruístas” vão vetar a praia durante o horário de maior intensidade solar?

Mas o verdadeiro ataque a esta medida absurda não deve se voltar ao aspecto da eficiência, e sim da moralidade. Com que direito a Anvisa pensa que pode controlar nossas vidas dessa forma? Quem autorizou o governo a ser o guardião de nossa própria saúde? Qual documento cada um de nós assinou permitindo tamanha tutela? Essa invasão de privacidade é totalmente imoral. Não tem legitimidade alguma. Se nossa vida nos pertence, se nosso corpo é propriedade particular, então segue naturalmente disso que podemos fazer com ele o que bem desejarmos, inclusive correr riscos mortais. Trata-se de uma escolha individual, afinal de contas. Muitas coisas podem causar câncer, podem causar doenças em geral, podem até mesmo matar. Mas optar por assumir tais riscos é uma decisão do indivíduo, não do governo. Somos cidadãos, não súditos.

Alguns podem argumentar que existem os gastos com saúde pública, e que, portanto, o governo pode sim controlar os riscos que assumimos à nossa saúde. É um argumento muito usado na cruzada antitabagista. Mas é um argumento totalmente furado. Não é porque uma coisa está errada – todos serem forçados a bancar a saúde de todos – que vamos insistir no erro, agravando-o. No limite desse raciocínio, o governo teria total controle sobre nossas vidas, nos mínimos detalhes. Afinal, se fumar faz mal à saúde, não praticar exercícios aeróbicos também faz. Deve o governo obrigar cada um a praticar corridas matinais? Comer fritura e gordura também faz mal. Deve o governo impor uma dieta saudável para todos? Fica claro que essa é a mentalidade dos ditadores, que não respeitam a liberdade individual.

Em suma, a medida representa apenas mais uma desastrada demonstração de autoritarismo do governo. Aguardamos ansiosamente qual será a próxima idéia genial dos burocratas da Anvisa para nos proteger de nós mesmos, de nossa irresponsabilidade. Quem sabe o uso obrigatório de protetor solar, com os fiscais verificando se foi espalhado direitinho em todas as partes do corpo? Ou então literalmente tapar o sol com a peneira? Melhor não dar idéia, nem de brincadeira, porque essa turma pode levar a sério…
________________________________________________________

Veja também o impagável Luis Almeida enquadrando a Anvisa, chamando-a do que ela realmente é.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.