A tentativa fracassada de uma colunista egomaníaca de imputar culpa por associação

0

[Lee esto en Español]

Alguns meses atrás, ocorreu a troca de e-mails abaixo. Obviamente eu já estava ciente do tipo de publicação que é o The New Yorker e, com base na primeira pergunta, tive certeza de que meu nome seria mencionado, não importa o que acontecesse. Portanto, para evitar qualquer possível deturpação, decidi responder. Mas eu me recusei a simplesmente falar e insisti em fazer as coisas por escrito para que mais tarde pudesse provar o que foi e o que não foi dito.

Curtis Yarvin é um blogueiro e cientista da computação americano.

_________________________________

Prezado Professor Hoppe,

Sou uma colunista da The New Yorker que está trabalhando em uma história sobre o blogueiro político Curtis Yarvin. O Sr. Yarvin o descreveu para mim como uma de suas maiores influências. Acabei de ler Democracia – o deus que falhou, e é evidente o quão influente ele tem sido em seu trabalho. Eu ficaria grata em falar com você sobre sua filosofia e sua influência no movimento neorreacionário aqui nos Estados Unidos. Existe algum espaço na agenda em que você estaria livre para falar esta semana?

Com agradecimentos,

Ava Kofman

_______________________________

Prezada Sra. Kofman,

Estou ciente de que tive uma influência sobre Yarvin e também tivemos um breve encontro há vários anos. Não acompanhei o desenvolvimento dele desde então. Na minha opinião, sua escrita sempre foi um pouco florida e desconexa.

No que diz respeito ao seu pedido, vivo na Europa, sou uma pessoa pouco adepta da tecnologia e estou atualmente doente de cama com algum tipo de gripe. No entanto, posso responder a algumas perguntas por correspondência de e-mail.

Sinceramente,

HHH

___________________________________

Prezado Sr. Hoppe,

Muito obrigada pela sua mensagem. Espero que você tenha se recuperado da gripe, e estou enviando aqui algumas perguntas por e-mail. Sinta-se à vontade para lhes acrescentar algo ou modificá-las como achar melhor, é claro!

  1. Eu assisti a sua palestra recente de março. Você vê alguma de suas ideias sobre a transformação do tamanho e da natureza do estado em iniciativas contemporâneas como o DOGE nos Estados Unidos?
  2. Quando você ouviu falar do blog de Curtis Yarvin pela primeira vez ou o leu? Onde vocês se conheceram e como foi a reunião?
  3. Yarvin pediu não apenas um soberano empoderado, de preferência um monarca, mas um CEO-monarca. Eu estava curiosa para saber o que você acha do uso da cultura do Vale do Silício/start-up como um modelo de governança para um novo regime libertário reacionário: há partes desse modelo corporativo que parecem persuasivas ou não persuasivas para você?
  4. Estou curiosa para saber se há mais alguma coisa que você gostaria de acrescentar ou refletir sobre a crescente influência de pensadores neorreacionários como Yarvin aqui nos Estados Unidos, e se há fatores aos quais você atribuiria sua influência.

Com muitos agradecimentos, e tudo de bom,

Ava

____________________________________

Prezada Sra. Kofman,

Não assisto a meus próprios vídeos e não me lembro em detalhes do que disse ou não disse.

Em todo o caso, permita-me que tente responder sumariamente às suas perguntas.

Não vejo grandes progressos na direção que gostaria de ver. O maior perigo para a liberdade e a prosperidade, a meu ver, é a centralização política cada vez maior.  A possibilidade de descentralização, saída e secessão são essenciais para a preservação da liberdade humana. O DOGE pode eliminar alguns excessos tolos, politicamente corretos ou woke de um estado de bem-estar social cada vez mais exagerado, mas nem sequer toca no problema central: os gastos totais do governo e a dívida – todo o complexo militar-industrial – ainda continuam a crescer e a aumentar sem qualquer interrupção.

Meu ideal é um mundo composto de milhares e milhares de Liechtensteins: pequenos territórios administrados por um monarca ou membro da elite natural, com um interesse proprietário de longo prazo e estabelecido em seu país (baixa preferência temporal), autofinanciado (não vivendo de impostos), equipado com poder de veto, difícil, mas não impossível de ser removido de sua posição, e permitindo que subunidades de seu país se separem, se assim o desejarem. (Busque no Google por “Constituição de Liechtenstein”).

Isso é obviamente algo bem diferente da ideia da turma do Vale do Silício assumindo o atual governo e administrando-o como um negócio (que é algo que alguns trumpistas parecem ter em mente). Mas os estados, como os EUA, são bandidos estacionários, organizações fundadas e baseadas na violência agressiva (impostos, expropriações e guerra). Não queremos que esses tipos de organizações funcionem com eficiência, assim como não queremos que um campo de concentração funcione com eficiência. Em vez disso, gostaríamos que eles desaparecessem.

Como indiquei antes, não costumo acompanhar os escritos de Yarvin – muitas divagações para o meu gosto. Mas pelo pouco que eu possa perceber, ele não deixa suficientemente claro se é o modelo de Liechtenstein ou o modelo da turma do Vale do Silício que ele defende.

Fui informado de Yarvin e de ele me mencionar em seu blog Unqualified Reservations por um amigo, talvez há cerca de 10 anos ou mais, e eu o encontrei uma vez nessa época. Peter Thiel me convidou para falar sobre o fracasso da democracia, as diferentes estruturas de incentivo de proprietários versus locatários ou zeladores, preferência temporal etc. (Thiel obviamente leu meu livro sobre democracia), e Yarvin foi um dos participantes daquele pequeno e exclusivo encontro.

Quanto à parte “reacionária” da sua pergunta: com isso quero dizer essencialmente nada mais do que um retorno à normalidade ou regularidade: homens são homens, mulheres são mulheres, uma família normal é pai, mãe e filhos, pessoas e grupos de pessoas são diferentes e têm habilidades diferentes, você é responsável por sua própria vida e ações, não culpe os outros por seus próprios fracassos e erros, seja gentil e educado, recompense o sucesso e não puna o fracasso – sim, há exceções, mas são exceções e não a regra. Os absurdos, perversões e desvios desse estado normal de coisas que vemos ao nosso redor hoje são o resultado do atual estado de bem-estar social exagerado que permite que muitos esquisitos e loucos levem uma vida parasitária à custa de um número cada vez menor de pessoas produtivas. Não haveria politicamente correto ou wokismo do tipo que vemos hoje em qualquer pequena comunidade. Seus proponentes seriam evitados e condenados ao ostracismo, e relegados a algum tipo de colônia hippie. – Aqui, a este respeito, vejo alguns progressos. Mais e mais pessoas estão fartas do absurdo óbvio propagado e promovido pela “esquerda progressista”. Trump e a turma do Vale do Silício – e Yarvin como um de seus influenciadores – certamente ajudaram nesse desenvolvimento, que não é irrisório ou deve ser menosprezado, mas não é muito. E, em qualquer caso, a modéstia, que faz parte de uma pessoa decente, um cavalheiro, definitivamente não é a maior força do mundo dos grandes negociantes.

Espero que isso ajude, e com os melhores votos

HHH

______________________________________

Prezado Sr. Hoppe,

Obrigada por esta resposta atenciosa. Concordo que o trabalho de Yarvin parece alternar entre a visão de “colcha de retalhos” que você descreve (de muitos Lichtensteins) e o Governo como um Negócio. Não consigo ver como a todo-poderosa Corporação Soberana que ele descreve não atacaria simplesmente outras “SovCorps” menores. Acho que posso ter ouvido falar sobre a reunião ou algo nesse sentido. Foi depois da eleição de Trump e na casa de Thiel em Los Angeles? Ou em outro momento?

Tudo de bom, e obrigada,

Ava

___________________________________

A reunião ocorreu cerca de um ano antes do primeiro mandato de Trump na residência de Thiel em San Francisco.

HHH

__________________________________

E aqui, então, está o artigo do The New Yorker.

 

 

 

 

Artigo original aqui

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui