O estado e o racismo

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N. do T.: a política de cotas raciais em universidades, o império do politicamente correto que vem avassaladoramente dominando o mundo, e a ameaça de controle estatal da internet com a desculpa de se estar policiando “crimes de racismo” atiçaram mais do que nunca todo um (errôneo) debate a respeito de “raças” e racismo. Ron Paul, com sua clareza peculiar, explica a falácia de tudo isso, deixa claro qual é a mais racista das entidades e mostra por que o racismo é uma forma vulgar de coletivismo.

Os recentes acontecimentos mostram que a nação permanece incrivelmente sensível a questões raciais, não obstante o progresso aparente dos últimos 40 anos. Uma nação que outrora se orgulhava de seu individualismo, tanto em termos sociais quanto econômicos, agora se tornou inquietamente obcecada com grupos raciais e suas identidades.

A ninguém parece ocorrer que a vasta maioria dos indivíduos vítimas de algum discurso racista já tem mais de 18 anos e, logo, plena capacidade de falar por eles próprios. É desconcertante ver terceiros se envolvendo em tais questões e se arvorando o direito de falar coletivamente em nome de grupos minoritários. É exatamente essa mentalidade coletivista que está no núcleo do racismo.

Também é vergonhoso ouvir as sutis — ou não tão sutis — ameaças contra a liberdade de expressão. Dado que o governo regulamenta as transmissões de rádio e televisão e concede licenças de transmissão, a nós é dito que é correto o governo proibir certos tipos de discursos considerados insultuosos ou ofensivos, tudo em nome da tolerância racial e social.

Só que, como a história já nos ensinou amplamente, quando se cerceia algum tipo de expressão, não demora muito para que vários outros tipos de discursos também passem a ser censurados, até que finalmente chega-se ao ponto em que só são permitidos discursos elogiosos ao governo. É exatamente por isso que, se prezamos a liberdade, deveríamos deixar claro que “o Congresso NÃO tem a autoridade para elaborar lei alguma”.

Vamos ser totalmente claros: o governo federal não tem direito algum de regular qualquer tipo de expressão. Além do mais, o governo é uma instituição totalmente incompatível para combater a intolerância e o fanatismo em nossa sociedade. A intolerância, em sua essência, nada mais é do que um distúrbio moral, e é impossível mudar a alma e o coração das pessoas simplesmente aprovando mais leis e mais regulamentações.

E, na realidade, é o governo federal – mais do que qualquer coisa — quem nos divide de acordo com raça, classe, religião e gênero. O governo, através de seus impostos progressivos, de suas regulamentações restritivas, de seus subsídios corporativos, de suas cotas raciais e de seus programas assistencialistas, possui um papel essencial em determinar quem irá ser bem sucedido e quem irá fracassar em nossa sociedade.

Essa “benevolência” governamental desestimula completamente a genuína boa vontade entre os homens, pois acaba institucionalizando uma espécie de pensamento grupal em que um grupo sempre desconfia de que os outros grupos estão recebendo uma fatia maior da pilhagem governamental. Nada mais danoso para a solidariedade e para a caridade voluntária.

A esquerda argumenta que leis federais rigorosas são necessárias para se combater o racismo. Curiosamente, ela parece não se dar conta de que ela própria constantemente defende políticas coletivistas incrivelmente desagregadoras, o que só ajuda a estimular mais discórdia.

O racismo é simplesmente uma forma repulsiva de coletivismo, resultado de uma mentalidade que enxerga os seres humanos estritamente como membros de grupos, e não como indivíduos. Os racistas acreditam que todos os indivíduos que compartilham as mesmas características físicas exteriores são iguais: sendo inerentemente coletivistas, os racistas pensam somente em termos de grupos. Ao açular as pessoas a adotarem uma mentalidade grupal, os defensores da “diversidade” acabam de fato perpetuando o racismo. A obsessão que eles têm com a tal da identidade racial grupal é intrinsecamente racista.

O verdadeiro antídoto contra o racismo é a liberdade. Liberdade significa ter um governo extremamente limitado e dedicado unicamente à proteção dos direitos individuais, e não um governo dedicado a atender reivindicações grupais. Liberdade significa um ambiente gerido por um capitalismo de livre mercado, que gratifica apenas a competência e as conquistas individuais, e não a cor da pele, o gênero ou a etnia.

E o que é mais importante: em uma sociedade livre, cada cidadão adquire a consciência de que ele é um indivíduo soberano, e não apenas um membro de algum grupo majoritário ou minoritário. E é isso que impede que ele desenvolva uma mentalidade grupal e/ou vitimista, o que estimula a responsabilidade individual e o orgulho pessoal, fazendo com que a cor da pele seja algo irrelevante.

Em vez de procurar o governo pedindo que ele corrija os nossos pecados, deveríamos procurar entender que o racismo irá perdurar até que paremos de pensar em termos grupais e comecemos a pensar em termos de liberdade individual.

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Ron Paul
é médico e ex-congressista republicano do Texas. Foi candidato à presidente dos Estados Unidos em 1988 pelo partido libertário e candidato à nomeação para as eleições presidenciais de 2008 e 2012 pelo partido republicano. É autor de diversos livros sobre a Escola Austríaca de economia e a filosofia política libertária como Mises e a Escola Austríaca: uma visão pessoal, Definindo a liberdade, O Fim do Fed – por que acabar com o Banco Central (2009), The Case for Gold (1982), The Revolution: A Manifesto (2008), Pillars of Prosperity (2008) e A Foreign Policy of Freedom (2007). O doutor Paul foi um dos fundadores do Ludwig von Mises Institute, em 1982, e no ano de 2013 fundou o Ron Paul Institute for Peace and Prosperity e o The Ron Paul Channel.

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